— Vyn
Suspirei ao finalmente me afastar do abrigo, caminhando lentamente pela grama banhada a folhas secas das árvores que me protegem do sol com sua sombra e daqueles nos quais nunca estão saciados.
Segurando minha machadinha firmemente, caminhei, pronto para sacar a espingarda da minha bolsa a qualquer momento caso eu não acertasse o alvo. Eu deveria estar naquilo que chamam de faculdade, a chave para tantas portas que no final se fecharam de uma vez no surto do apocalipse. Talvez, se eu tivesse seguido a carreira de medicina, minha mãe estaria aqui, mas ser um bebê quando tudo começou não ajuda muito, quer dizer, não ajuda nada. Lembro-me de ter passado todos os dias de minha infância fugindo, correndo desesperado junto a pessoas que uma vez houveram almas para dizer que estavam vivas.
Tudo se foi ao passar do meu crescimento. Amigos, família, brinquedos, livros, até mesmo sentimentos? Perdi a compaixão a muito tempo, afinal, a confiança é o que menos há por aqui, então do que adianta também ter compaixão? Se no final todos iremos acabar sendo enganados…
Meus pensamentos rapidamente se dissiparam ao escutar um pequeno ser se mover entre as folhas, apenas para escutar um suave miado. — meow! — O suave miadinho é ouvido mais uma vez.Congelado continuei, como posso confiar em um miado se existem criaturas que conseguem imitar som de… O suave miado me chamou a atenção, com o resto de coragem que me resta, finalmente pude olhar para o monte de folhas secas, avistando um pequeno “frajola”.
— Gatos ainda existem..? — Murmurei. Achei que todos já haviam sido devorados ou falecido devido a falta de cuidados, mas parece que ainda sobraram alguns.
Me agachei na frente do filhote, uma pequena bolinha de pêlos fofa e perdida.
— Eu até pegaria você para mim, mas não sei se posso confiar que miaria enquanto me escondo ou algo do tipo…mal tenho comida para mim e.. — Parei ao sentir o Frajolinha tentar escalar minha perna com suas garrinhas miúdas, o pequenino não querendo ficar sozinho.— Você também está sem mãe, não é..? — Acariciei as orelhinhas peludas da criatura, a pegando na mão. Mal cabia em minhas mãos, se sobrevivesse sozinho seria um milagre. Sem mãe e sem ninguém, sozinho e miúdo neste mundo tão grande.
— Que sorte a sua. — Coloquei o gato no bolso do meu moletom, caminhando pelo caminho vazio novamente.
Durante a caminhada com o Frajolinha no meu bolso, olhei ao redor, não querendo que fosse surpreendido de repente igual a quando encontrei o gato. Passei as mãos delicadamente pelo pêlo do bichano, o ronronar alto do miúdo me fazendo relaxar durante nossa busca por um novo lar. Em uma árvore à frente , vi um papel com uma letra não muito legível.— Acampamento Flor De Lótus..? Um abrigo ou algo do tipo... — Acariciei o gatinho uma última vez antes de pegar minha espingarda. — Se for uma armadilha, é bom estar preparado. — Comecei a caminhar, meu olhar atento ao redor. O frajola apenas se embolou em meu bolso, adormecendo em seguida, seu ronronar desaparecendo.
Com cautela, caminhei pela direção indicada. Não havia grama por onde passei, mostrando que o movimento por ali era frequente, deixando um rastro. Parei assim que avistei uma barricada. Era um shopping abandonado.
— OLHA O MONSTRO!!! — Alguém gritou alto, uma caminhonete em alta velocidade e toda acabada, pichada, caindo aos pedaços vindo em minha direção.
Quem gritou era o motorista, vindo em alta velocidade até a barricada, ONDE EU ESTAVA! Fiquei paralisado no lugar, encarando a cena em completo choque. Antes da batida, rapidamente tentei proteger minha barriga, onde o gatinho estava dormindo em meu bolso.
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Apocalipse - Boys Love.
Science FictionEm meio ao caos de um apocalipse zumbi, Vyn, que desde a infância luta sozinho para sobreviver após perder a mãe, conhece um misterioso caçador solitário. Unidos pela busca de uma cura que parece inatingível, ambos enfrentam os perigos que infestam...