Às vezes, Jungkook pensava que estava ficando louco.
Cada noite, pontualmente à meia-noite, uma presença invadia seu quarto, fazendo o ambiente inteiro vibrar. O quarto se tornava um mundo à parte: luz baixa, abajur em tons rosados quase carnudos, lençóis azuis amassados e o cheiro sutil e inebriante de perfume. Mas, acima de tudo, havia ele - o homem que só conseguia chamar de "Garoto Veneno".
Estava na cama, de olhos fixos na porta, quando ouviu o ranger familiar da escada. A madeira estalava suavemente, um passo após o outro, e seu coração acelerava. Conhecia aquele som, já quase fazia parte dele. Cada passo era uma batida a mais, um prelúdio que anunciava a sua chegada.
Entrou sem fazer alarde, movendo-se como uma sombra fluida, os cabelos soltos caindo sobre os ombros nus.
Seu olhar foi direto para seus olhos castanhos e hipnóticos, que se fixaram no homem com um brilho intenso.
Estava descalço, e o som dos passos desapareceu assim que atravessou a porta. Jungkook quase não conseguia respirar.
- Você voltou... - Jeon murmurou, a voz mal saindo, misto de ansiedade e desejo.
Ele sorriu, um sorriso misterioso, e se aproximou lentamente. Cada movimento era gracioso, um convite silencioso. Ao chegar perto da cama, sentou-se ao seu lado, os olhos fixos nele.
- Por que você fica tão surpreso? - Ele sussurrou, com a voz suave e um toque de ironia. - Eu sempre volto.
- Mas eu nunca sei de onde você vem... e nem para onde vai quando o sol nasce - O mais alto, respondeu, a voz carregada de frustração. Queria entender, mas a cada noite, o rapaz se tornava mais e mais enigmático.
Com os fios do cabelo moreno balançando-se, riu baixo, como se a dúvida de Jeon fosse a coisa mais natural do mundo, e estendeu a mão, tocando-lhe o rosto. O toque era frio, e ainda assim queimava a pele.
Jungkook sentiu um arrepio.
- Isso importa? - Ele perguntou, passando o polegar lentamente por seu rosto, parando nos lábios. - Eu estou aqui agora. Isso é tudo que você precisa.
Seu toque o deixava embriagado.
Não importava o quanto tentasse manter a lucidez, o rapaz parecia exercer um domínio completo sobre ele. Em cada gesto, sentia uma doçura perigosa, um veneno que o consumia, gota a gota.
Passaram horas juntos, em meio a silêncios, sussurros e beijos, como se o tempo fosse uma ilusão. Jimin o entorpecia, e ele se entregava, aceitando o mistério. A madrugada avançava enquanto eles se perdiam um no outro, até que o homem belo se levantou, desfazendo o laço invisível que os mantinha juntos.
- Não... ainda não vá - Jeon implorou, segurando sua mão por um instante. - Eu nem sei o seu nome.
Ele o encarou, um brilho enigmático nos olhos. - Nome? - Balançou a cabeça. - Nomes são para quem pertence ao dia. Eu sou da noite.
Antes que ele pudesse protestar, o rapaz se soltou suavemente e, sem fazer um ruído, desapareceu porta afora. Ele ficou imóvel, olhando para o vazio deixado para trás, o cheiro dele ainda impregnado no ar, o toque dele ainda gravado em sua pele.
Ao amanhecer, Jeon despertou sozinho, com um misto de incredulidade e vazio. A cama ainda guardava o formato de onde ele estivera, e o lençol tinha seu cheiro.
Se perguntou se tinha sido um sonho, mas cada detalhe do quarto, o abajur ainda aceso, o lençol desarrumado, confirmavam que não.
No dia seguinte, enquanto a noite se aproximava, Jungkook mal conseguia esperar. A ansiedade crescia a cada hora, cada segundo uma contagem regressiva até a meia-noite. Mais uma vez, esperou, os olhos fixos na porta. E, à meia-noite exata, ouviu os passos.
O homem entrou como das outras vezes, o mesmo sorriso, o mesmo mistério. E dessa vez, ele decidiu ser mais direto.
- Por que você vem todas as noites? - Jeon perguntou, com mais determinação do que antes. - O que você quer de mim?
Ele o encarou, os olhos intensos, e se inclinou até que seus rostos ficassem próximos. - Eu venho porque você me quer aqui. E porque você precisa de mim.
Não podia negar. Mas o medo misturado ao desejo o corroía. - E se... e se eu não quisesse mais? Se eu te dissesse para não voltar?
Ele riu, baixinho, e passou os dedos por seu rosto. - Você nunca me diria isso. Você sabe que me pertence... tanto quanto eu pertenço à noite.
Jungkook ficou em silêncio.
Ele estava certo.
E no fundo, Jeon sabia que ele continuaria vindo, noite após noite, sem importar o que ele dissesse.
VOCÊ ESTÁ LENDO
garoto veneno | jikook
Short StoryOneShot | Concluída | Baseada na canção "Menina Veneno" Após noites solitárias, Jungkook começa a ser visitado, sempre à meia-noite, por uma presença enigmática: um homem de olhos castanhos intensos, que surge sem aviso, trazendo um mistério impossí...