APRICITY • PEJÃO

2. senhor ranzinza

POV PEDRO

Saí do vestiário ainda meio zonzo do treino, com as pernas cansadas e o gelo impregnado nos músculos, mas a adrenalina ainda a mil. O treinador pegou pesado hoje, parecia que cada sprint, cada passe tinha que sair com uma precisão cirúrgica, e eu fiz o meu melhor.

Meu corpo implora por cama, mas sei que os estudos diários com João é o que vai me manter no time e ele realmente é muito bom explicando, depois de quase duas semanas o encontrando todos os dias, acabei me acostumando com a rotina de estudo.

Quando entrei na cafeteria, o cheiro de café e chocolate quente me deu uma sensação boa, de descanso. Escolhi uma mesa próxima à janela, no fundo da cafeteira. Tentei relaxar na cadeira e tirei o celular do bolso para ver se o João tinha mandado alguma mensagem dizendo que ia atrasar, mas nada. Conhecendo o pouco que conheço dele, deve estar a caminho, e eu aproveito o tempo para puxar o caderno de anotações e dar uma olhada nos pontos mais complicados para mim, tenho algumas dúvidas para tirar com ele.

Minhas mãos ainda tremem levemente do esforço, e eu dou risada sozinho ao pensar que, se minha mãe me visse agora, diria que eu deveria largar o hockey e me dedicar mais aos estudos. Mas, honestamente, por mais cansativo que fosse, o gelo era meu lugar.

— Cheguei — João fala um pouco ofegante e larga as coisas em cima da mesa, sentando na cadeira a minha frente — desculpa a demora, o Matt queria muito uma ajuda para decidir entre uma camiseta azul marinho ou preta.

— E ele escolheu qual? — pergunto rindo de forma descontraída e o olhando de cima a baixo, gosto de olhar para ele — Pedi chocolate quente pra nós e pães com geléia.

— Uma branca — João puxa o laptop de dentro da mochila e abre o mesmo — ah, não precisava ter pedido nada pra mim, não. Eu não estou com muita fome.

— Mas até chegar você vai estar — falo rindo porque é sempre assim — o que você fez ontem à noite? Por favor, não me fala que ficou estudando até tarde de novo — minha voz sai um pouco implicante, mais do que eu gostaria.

— Na verdade eu fiquei sim — ele responde digitando algumas coisas — porque eu tive uma prova super importante hoje, então eu fiquei até me expulsarem da biblioteca e depois até o Matt brigar comigo para eu apagar as luzes do quarto.

— Você sabia que sair e beijar na boca faz bem pra saúde? — eu pergunto baixinho, chutando o pé dele por baixo da mesa.

— E? — João desvia o olhar para mim, me encarando com curiosidade por trás das lentes dos óculos — o que isso tem a ver com o assunto que estávamos conversando?

— Você não faz nada além de estudar? — pergunto realmente curioso, porque tenho certeza que nunca vi o João em nenhum evento ou festa.

A verdade é que quero fazer qualquer coisa no momento, mas estudar não é uma delas.

— Eu assisto filmes também — responde impaciente — e eu leio livros que não são sobre neurociência e psicologia.

— O que você vai fazer hoje depois que terminarmos de estudar? — pergunto realmente interessado, eu chamo o João pra fazer coisas todos os dias desde que começamos a estudar juntos, mas é sempre para coisas ilegais, segundo ele.

— Vou para o quarto estudar para a prova da semana que vem — sua voz sai decidida e ele me olha um pouco irritado — podemos começar?

— Você disse que assiste filmes também — eu falo ignorando o que ele disse — é sexta, vamos assistir um filme — agradeço quando a garçonete coloca o pedido na mesa e volto a encarar João.