Ultimos Olhares, Primeiras Rupturas

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O último dia de aula finalmente chega, e cada passo que dou pelos corredores da escola carrega o peso de uma despedida que eu não quero aceitar. A cada olhada, a cada sussurro ou cochicho que surge ao meu redor, sinto que tudo conspira para me lembrar de que, a partir de amanhã, a minha vida será em outro lugar, longe de tudo e todos que me são importantes.

Sanzu me espera no lugar de sempre, atrás das árvores no pátio, o semblante sério, como se já soubesse que esta despedida era inevitável. Seu olhar está mais intenso do que o normal, e vejo nele um brilho que parece misturar tristeza e determinação. Quando me aproximo, ele abre os braços, e eu vou para eles, em um abraço que sei que pode ser o último.

Nenhum de nós diz uma palavra por um longo tempo. Sinto o coração dele batendo rápido contra o meu, e aquele som quase me faz desmoronar. Finalmente, ele quebra o silêncio com a voz rouca, quase sussurrando:

"Sn, escuta... não importa o que aconteça, eu vou dar um jeito de te encontrar. Isso não é um adeus."

Sei que ele quer me dar forças, mas, por mais que eu queira acreditar, um medo profundo se espalha dentro de mim, como se um pedaço de mim fosse deixado para trás. Eu forço um sorriso, tentando mostrar que sou forte, que posso aguentar.

"Eu também vou dar um jeito, Haru. Por mais que tentem, não vão nos separar." - sussurro, a voz trêmula, com uma mistura de promessa e desespero.

Ele segura meu rosto com as mãos frias e, por um momento, nossos olhos se encontram em um pacto silencioso. Meus pensamentos se embaralham, mas tudo o que quero é congelar esse instante, guardar o toque dele e aquele olhar nos quais encontro uma paz e uma intensidade que nunca tive com mais ninguém.

Finalmente, quando não há mais como prolongar o momento, nos afastamos. Sinto o coração pesado, como se uma parte de mim estivesse sendo arrancada. Meus passos até o portão são lentos, e, ao passar por ele, sinto o mundo desmoronar à medida que a distância entre nós aumenta.

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A viagem para Yokohama é silenciosa. A noite cai sobre a estrada coberta de neve, que parece refletir a frieza que agora toma conta de mim. Minha mãe tenta quebrar o silêncio com palavras de conforto, mas eu apenas balanço a cabeça, sem conseguir sequer olhar para ela.

Depois de quase uma hora, finalmente chegamos à casa do meu tio. A porta se abre, e ele surge com um sorriso acolhedor, os braços abertos. Tento me animar, mas estou exausta, emocionalmente quebrada.

"Bem-vinda, Sn!" - ele me abraça, e eu retribuo, ainda que minha mente esteja longe.

A esposa dele, gentil, me entrega um cobertor e me guia para dentro, onde o calor da casa contrasta com o frio de fora. Mary, a filha deles de seis anos, aparece correndo e me abraça com uma animação que quase me faz sorrir de verdade. O pequeno filhote de gato, Babs, logo aparece também, se enroscando nas minhas pernas com um miado curioso. Mesmo com toda essa recepção calorosa, tudo me lembra que estou longe do meu mundo, longe de Sanzu.

A casa é acolhedora, decorada com tons suaves e quentes. O cheiro de chá fresco e pão assado invade o ambiente, trazendo uma sensação de conforto e segurança. Mas, enquanto todos conversam e tentam me fazer sentir em casa, minha mente continua presa na despedida, na sensação de vazio que Sanzu deixou.

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Três dias passam, e a saudade não faz nada além de crescer, cada vez mais insuportável. À noite, enquanto todos dormem, fico deitada, olhando o teto, revivendo cada momento que passei ao lado de Sanzu, cada promessa sussurrada, cada olhar cúmplice que trocamos. Tento ignorar a sensação, mas ela se torna mais forte, até o ponto em que me sinto sufocada.

Naquela madrugada fria e silenciosa, tomo uma decisão. Minha mente já está feita: não vou suportar essa distância. Levanto da cama com o coração batendo forte e caminho silenciosamente pelo corredor, até encontrar as chaves do carro da minha mãe. Tenho pouca experiência ao volante e sei que dirigir até Tóquio é uma loucura, mas, naquele momento, nada parece mais importante do que estar com ele de novo.

Com as mãos trêmulas, coloco minha mochila no banco do passageiro e ligo o carro, rezando para não acordar ninguém. A neve cobre a estrada, refletindo a luz dos faróis em uma dança silenciosa. Meu coração dispara enquanto eu dirijo, ainda sem acreditar no que estou fazendo. A cada quilômetro, sinto a adrenalina e o medo se misturarem, mas a imagem de Sanzu esperando por mim é o que me mantém firme.

Enquanto a madrugada avança, a neve se intensifica, e a estrada parece cada vez mais traiçoeira. Minhas mãos suadas apertam o volante, e tento manter o foco, ainda que minha mente esteja inundada de pensamentos sobre como ele vai reagir ao me ver, sobre como será voltar para seus braços. A viagem é longa, mas a esperança de estar com ele me dá coragem para continuar, mesmo com o coração acelerado e a incerteza me cercando.

Finalmente, a cidade de Tóquio começa a surgir no horizonte. Olho ao redor, a neve caindo levemente, e sinto uma esperança renascer dentro de mim. Estou perto, tão perto. E, naquele instante, não importa o que o futuro traga; só quero sentir novamente a intensidade do olhar de Sanzu e dizer a ele que estou de volta.

Enquanto a madrugada avança, a neve se intensifica, e a estrada parece cada vez mais traiçoeira. Minhas mãos suadas apertam o volante, tentando manter o foco, mas meus pensamentos me traem, assombrando minha mente. Cada palavra de despedida, cada olhar doloroso que trocamos, e a expressão de Sanzu ao me prometer que daria um jeito... tudo começa a girar na minha cabeça, como uma tempestade de memórias que não consigo afastar.

As lembranças do nosso último encontro se repetem, trazendo uma angústia sufocante. A imagem dele sozinho naquele pátio, a dor em seus olhos... e a incerteza de que talvez eu nunca mais o veja. Um nó se forma na minha garganta, e as lágrimas começam a surgir, borrando minha visão. Tento limpá-las, mas parece impossível; a saudade e o desespero me esmagam, como se estivessem sussurrando que jamais conseguirei encontrá-lo novamente.

Meus olhos se enchem de lágrimas até a visão se tornar turva, e meus pensamentos se perdem em meio ao medo e à angústia. A estrada à minha frente vira um borrão, e meu peito aperta com uma mistura de arrependimento e pânico, que me faz soluçar. O mundo ao redor parece desvanecer-se, como se a escuridão estivesse tomando conta de tudo.

De repente, uma luz intensa surge do horizonte, forte e ofuscante, mas estou tão imersa em meus pensamentos e na dor que demoro a entender o que está acontecendo. A claridade avança cada vez mais rápido, e, antes que eu possa reagir, sinto o impacto violento e o som ensurdecedor do metal se dobrando.

A força da batida me joga para frente, enquanto meu corpo é preso pelo cinto. Tudo ao redor gira, o mundo mergulha em caos, e, por um instante, sinto como se estivesse caindo em um vazio silencioso. Os pensamentos se apagam, e tudo o que resta é a imagem de Sanzu, congelada em minha mente, enquanto a escuridão finalmente me envolve.

Sanzu Haruchiyo - Acesso Restrito Onde histórias criam vida. Descubra agora