A cidade estava vestida de branco, como se tivesse decidido trocar de pele para receber o Natal. Eu olhei pela janela, o céu nublado ameaçando uma nova queda de neve. Minhas amigas, Danielly e Gabrielle, haviam partido para passar o feriado com suas famílias, e lá estava eu, sozinha. O silêncio da casa parecia aumentar o vazio, e por mais que eu gostasse de um pouco de paz, naquela noite isso parecia mais um peso do que um consolo.
Vesti minha jaqueta preta e uma calça rasgada, pegando minha guitarra. Eu precisava sair, respirar o ar gelado, sentir alguma coisa diferente. Não era o que se espera para o Natal, mas, bem, não sou o tipo de pessoa que segue tradições. Eu era fã de rock, e nada combinava mais com a minha alma do que o contraste do preto contra o branco da neve.
Caminhei até uma praça perto de casa, onde o silêncio da madrugada era cortado apenas pelo som dos meus passos. No centro da praça, me sentei no encosto de um banco e comecei a afinar minha guitarra, decidida a tocar algumas músicas dos Anjos do Rock. Era a minha banda favorita e, de algum jeito, tocar aquelas canções sempre parecia preencher um pouco do que faltava dentro de mim.
Fechei os olhos e comecei a tocar. A melodia tomou conta do espaço, reverberando pela praça vazia. A música me fazia esquecer do frio, da solidão e até mesmo da sensação de estar um pouco fora de lugar. Era como se, com cada nota, eu me sentisse mais completa, mais conectada a algo que não sabia explicar.
Foi então que ouvi passos.
Abri os olhos, e ali, parado não muito longe de mim, estava um homem. Alto, envolto em um casaco preto pesado, seus olhos brilhavam com uma intensidade quase hipnotizante. Ele tinha o tipo de olhar que você não consegue ignorar, um olhar que parece te despir, mas com respeito, como se ele quisesse ver além do que você mostra ao mundo.
"Anjos do Rock?" ele perguntou, num tom grave e envolvente. Sua voz era baixa, como o murmúrio de um trovão distante.
Eu sorri, segurando a guitarra com mais firmeza. "Sim... é minha banda favorita. Acho que eles são minha companhia hoje."
Ele se aproximou, e a luz da praça revelou mais detalhes de seu rosto. Algo nele me parecia familiar, uma sensação que eu não conseguia descrever. Era quase como... como se eu já o conhecesse, como se ele já tivesse feito parte da minha vida, embora eu tivesse certeza de que jamais o vira antes.
"Também sou fã dos Anjos do Rock," ele disse, sorrindo de lado. "Eles têm algo que parece falar diretamente com a alma, não acha?"
Assenti, sentindo um arrepio que não tinha nada a ver com o frio. "Sim... é como se eles entendessem o que a gente sente. A solidão, a intensidade... o desejo de encontrar algo além."
Ele riu baixinho, e havia uma melancolia em seu riso, como se ele entendesse bem do que eu estava falando. "Eu sabia que a noite seria especial, mas não esperava encontrar alguém que entendesse o que essas músicas significam."
Por um momento, ficamos em silêncio, olhando um para o outro. Era estranho o quanto eu me sentia à vontade perto dele, como se nossos caminhos tivessem sido destinados a se cruzar.
"Como você se chama?" ele perguntou, seus olhos fixos nos meus.
"Maya. E você?"
"Gael."
Aquele nome... ele pareceu ecoar dentro de mim, como uma nota tocada num violão bem afinado. Senti um calafrio, como se aquela palavra carregasse um significado maior do que eu pudesse compreender.
"Gael..." repeti, saboreando a sonoridade do nome. "Você parece ter o mesmo gosto para lugares vazios que eu."
Ele riu de novo, e dessa vez havia uma pitada de ironia. "Às vezes, são os lugares vazios que mais têm a dizer, não acha?"
Eu o observei por um momento, tentando desvendar aquele mistério. Ele era... intenso. Seu olhar parecia carregar algo mais, uma verdade que eu não conseguia alcançar.
"Você sempre toca sozinha por aqui, Maya?" ele perguntou, mudando de assunto.
"Não sempre. Só quando preciso me sentir... conectada com algo. Você entende?"
"Mais do que você imagina." Ele desviou o olhar para as árvores cobertas de neve ao nosso redor, e eu pude ver a sombra de algo em seus olhos, um peso que parecia familiar. "Às vezes, a gente precisa de um pouco de silêncio para ouvir o que o coração está tentando dizer."
Era exatamente assim que eu me sentia. Como se houvesse algo dentro de mim que eu ainda não conseguia decifrar. Ele parecia entender isso. E era tão raro encontrar alguém que entendesse.
"Por que você também está sozinho na noite de Natal, Gael?" perguntei, curiosa.
Ele me olhou por um momento, antes de responder, sua voz baixa e envolvente. "Acho que... não sou o tipo de pessoa que combina com celebrações. Me sinto mais à vontade assim."
Eu ri, e o som ecoou na praça. "Acho que somos dois então. Minhas amigas foram passar o Natal com as famílias, e eu preferi ficar. E, de certa forma, acho que foi a melhor decisão."
Ele sorriu, aquele sorriso sutil e enigmático que parecia dizer mais do que as palavras. "Sim... o destino tem formas estranhas de nos levar aonde precisamos estar."
"Destino?" perguntei, arqueando uma sobrancelha. "Você acredita nisso?"
"Talvez... ou talvez eu só queira acreditar que algumas coisas são inevitáveis."
Ficamos ali, falando sobre música, sobre o vazio da noite e o que significava ser diferente. Ele era tão familiar, mas ao mesmo tempo tão distante. E por mais que o Natal tivesse começado como uma noite solitária, aquela conversa me fez sentir que, pela primeira vez, eu estava onde deveria estar.
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os anjos rebeldes
Romanceuma jovem de vinte e cinco anos, conhece um homem misterioso, ela tem a sensação de que já conhece ele. prepara-se, esse romance será cheio de emoções!