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— Não pai, por favor! Não deixe que me levem!

Eu gritava com dor no coração, minhas mãos suavam do nervosismo e lágrimas rolavam sobre meu rosto enquanto meu pai me entregava nas mãos daqueles que um dia também mataram minha mãe.

Eu, Rio Vidal e minha mãe, Elizabeth Vidal, fomos seriamente acusadas como bruxas por aqueles nojentos e miseráveis que se diziam padres de boa fé.

A dor que me sucumbia era enorme, perdi minha mãe quando eu ainda tinha quinze anos, fiquei sobre os cuidados de meu pai até agora, com exatamente vinte e cinco anos de idade.

Dez anos se passaram e aqueles homens ainda repugnavam nós mulheres, e quando eu digo isso não é apenas deixando elas em chamas.

Uma vez minha mãe me contou que meu pai estava estranho com ela, mas ele a amava tanto que jamais faria algo. Se minha mãe era uma bruxa? Sim, uma bruxa de luz branca que apenas ajudava os pobres da vila vizinha com seus remédios e antídotos para a cura de enfermos.

Ela também me contava histórias sobre uma mulher de longos cabelos escuros, um olhar vibrante numa tonalidade azul, roupas elegantes num tom roxo claro e presas nas quais suas vítimas odiavam ver de perto.

Agatha Harkness era o seu nome, uma vampira de séculos passados que ainda assombrava os arredores, eu já imaginava uma velha sem escrúpulos que matava por vontade própria e deixava suas vítimas apenas em ossos.

Mas o aviso era claro, não diga o nome dela em voz alta ou seus sonhos se tornaram terríveis pesadelos.

Eu não lembro de ter dito ou pesquisado algo sobre essa mulher, acho que meu pai me entregar e eu nesse estante estar amarrada num pedaço de madeira com cordas machucando seriamente meus braços e pernas, eu realmente acho que essa mulher não teve nada haver com esse pesadelo.

— Bruxa! Você vai queimar nas chamas do inferno igual sua mãe!

— Pelo amor de deus, eu não sei do que se trata tudo isso, eu não sou uma bruxa!

— Não ouse chamar o nome do nosso santo deus em vão menina tola! — O padre gritou enquanto lia alguns versos da bíblia em voz alta.

Estavam me acusando de bruxaria ou exorcismo? Não importava, eles só queriam ver uma jovem moça em chamas.

Eu suplicava com lágrimas escorrendo, a multidão que ali estava só sentia ódio em seus olhos. O padre realmente fez uma lavagem cerebral naquela vila.

E quantas outras garotas morreriam pela enganação de um homem?

— Pare com esse enforcamento! — Uma voz feminina veio do fundo daquela multidão, uma senhora que aparentava ter uns quarenta anos, ou menos? Era muito bonita para ser uma velha senhora.

— Senhora Kale, o que faz aqui? — Eles temiam a ela, foi a primeira vez que vi um homem com medo de uma mulher.

— O que foi dito sobre isso? Sobre enforcamentos de jovens garotas, sobre colocar elas em chamas? — Ela gritou.

— Mas ela foi acusada de bruxaria senhorita — O padre gaguejou.

— E o nosso equilíbrio natural senhor Rickman? Você já esqueceu o aviso da suprema? — Ela arqueava a sobrancelha com olhos famintos, será que?

— Nos deixem em paz! Já não temos mais acordos com vocês, suas vampiras imundas!

— Incrível padre, suas palavras rudes acabaram de ir contra seus próprios amigos da igreja, minhas irmãs assistindo ao fundo acabaram de levar com elas exatamente dez corpos.

— Imunda! Vocês merecem uma estaca no coração! — Ele cuspiu as palavras.

— A garota vai comigo, ou prefere ver mais alguém morrendo? Você pode ser o próximo! — Ela controlava muito bem sua vontade dominadora, foi a primeira vez que vi vampiros em minha frente.

Em um ato rápido, eu já me via sem amarrações e não estava mais presa naquela enorme madeira.

Enquanto eles ainda discutiam, como se fosse normal uma vampira discutir com um padre e ainda não ter o matado, eu tentei fugir.

Corri o mais rápido que consegui, a floresta densa já estava em minha frente. Eu não sabia de nada sobre esses acordos passados, minha mãe nunca tinha me contado histórias. Se eles tinham um acordo como aquela vampira disse, porque não salvaram minha mãe também?

— Onde pensa que vai? — Uma jovem de cabelos louros e presas afiadas me encarou — Venha, você é o próximo jantar da nossa suprema.

— Me larga seu monstro! — Tentei me desprender das mãos firmes daquela moça mas sem sucesso, eu só vi ela chegar muito próximo do meu pescoço e apaguei.

                                         ...

Acordei num local que ainda não conseguia distinguir direto qual era. Ele estava escuro, a única luz que ali ainda existia era a que vinha da janela pelo que parecia, uma fresta pequena, levantei e com passos cuidadosos fui até ela.

Quando cheguei próximo da mesma e coloquei minha mão para abri-la, um céu vermelho ficou diante dos meus olhos, olhei para baixo e levei um susto com a altura daquele local que parecia muito com um castelo em ruínas.

— Aonde estou? Eu preciso sair daqui!

Eu fiquei apavorada, abri mais a janela para que a luz adentrasse no restante do local, e agora tendo uma visão melhor eu realmente estava dentro de um quarto negro e que ao mesmo tempo era muito bonito.

A porta que estava quase em minha frente era a minha única saída dali, mas sair de um castelo enorme era uma tarefa difícil e certamente levaria dias para montar uma estratégia, eu queria entender o por quê de eu estar ali presa e sozinha, por mais que eu quisesse eu não conseguia lembrar do dia anterior.

— Bom, meu único livramento é sair pela porta, seja o que os seres de luz quiserem.

Respirei fundo, coloquei a mão na maçaneta pronta para girar a mesma e quando abro a porta, fico de frente com uma mulher alta de cabelos escuros, com olhos azuis profundos e vestes roxas.

Fico paralisada e sem esboçar reação alguma.

Oh meu deus, seria ela a mulher dos contos de minha mãe?

Por Caminhos Desconhecidos Onde histórias criam vida. Descubra agora