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Dias se passaram desde o encontro, e, aos poucos, a vida em suas respectivas rotinas retomou o ritmo. Naomi se dividia entre a oficina do pai e uma biblioteca local, onde estava temporariamente ajudando na organização de um antigo acervo. Já Rafe, afundado no trabalho pesado de construção com seu tio e os outros operários, continuava a se manter distante e indiferente aos habitantes locais, que já o conheciam como 'o rapaz da cidade grande que estava sempre de mau humor'.

Mas o destino, em uma de suas ironias mais irônicas, parecia ter outros planos.

Era uma tarde comum, ensolarada, quando Naomi recebeu uma ligação do único corretor de imóveis da cidade, avisando que haviam surgido interessados na oficina de seu pai. Era estranho pensar que alguém queria comprar o espaço que ele tanto prezava, mas ela sabia que tinha que seguir em frente e liberar aquele pedaço de história. Ao chegar ao local da reunião, sentiu uma leve tensão ao ver que, entre os interessados, havia um homem alto e com um queixo firme.

O corretor apresentou-se, trocando cumprimentos cordiais com todos.

— Ah, Naomi, esse é Rafe Cameron, sobrinho do Ethan — anunciou ele, como se os dois fossem completos estranhos.

Naomi trocou um olhar surpreso com Rafe, que a encarava com uma expressão ligeiramente cínica, quase como se achasse graça da situação. Ele estava com os braços cruzados, os olhos azuis intensos observando a oficina com um interesse que ela sabia ser mais um disfarce para esconder a impaciência.

Ela piscou, ainda surpresa, tentando absorver o fato de que o Rafe Cameron, o mesmo que a ajudara na trilha, era o tal rapaz da cidade grande sobre quem tanto falavam. Não havia como negar o choque. A fama dele na cidade não era das melhores; uma mistura de ressentimento e uma certa dose de mistério envolvia o nome dele. E, agora, ele estava parado bem na sua frente, com um meio sorriso indecifrável nos lábios.

— Então... você é o Rafe Cameron — murmurou, um tanto sem jeito, enquanto tentava controlar a voz.

Ele não respondeu de imediato, limitando-se a erguer uma sobrancelha com uma expressão que parecia divertir-se com o desconforto dela. Seus olhos azuis, frios e calculistas, fizeram-na desviar o olhar por um instante. Naomi sentiu o coração acelerar um pouco, não por algum tipo de encanto, mas pela tensão que emanava dele, quase como um desafio velado.

— Surpresa? — Ele inclinou a cabeça levemente, com um ar insolente. — Eu achei que a cidade era pequena o suficiente pra saber quem é quem.

— Eu sabia quem você era, mas não fazia ideia de que era... você — respondeu, tentando não soar tão abalada quanto realmente estava. Rafe deu um meio sorriso, mas seu olhar permaneceu frio, avaliando-a. Ele deslizou o olhar lentamente pela oficina, com um certo desdém mal disfarçado. — Mundo pequeno.

Ela tornou sua atenção para o corretor, que ainda explicava as condições de venda.

— Mundo pequeno mesmo — Rafe soltou um suspiro exasperado e respondeu em um tom seco, baixo o suficiente para que apenas ela ouvisse. — Sempre acabo cruzando com as pessoas certas... nas horas erradas.

Naomi, percebendo a resistência dele, decidiu ignorar o sarcasmo e focar-se no que era importante. Para ela, aquele lugar tinha uma história e, se alguém iria comprá-lo, precisava entender isso.

— Bom, Rafe, se você realmente está interessado, talvez queira saber mais sobre o que essa oficina representa.

Ele arqueou uma sobrancelha, sem esconder a expressão de leve desgosto.

— Representa madeira velha e poeira. É o suficiente?

Naomi respirou fundo, reprimindo a vontade de responder de forma agressiva. Ela sabia que não adiantava tentar tocar na ferida de Rafe; ele parecia ser o tipo de pessoa que transformava qualquer abertura em um escudo.

INEFFABLE, rafe cameron.Onde histórias criam vida. Descubra agora