capítulo único

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AS RUAS QUE NÃO ERAM TRANQUILAS COMEÇARAM A GANHAR MOVIMENTO NA MANHÃ. Kim Hongjoong atravessava o centro com passos rápido, tentando se afastar do frio matinal que sempre carregava quando saía para ir para o seu estágio. Carregava a sua típica mochila de escola em um dos ombros, com o crachá de "estagiário" no peito e continha um sorriso no seu rosto como todos os dias. Chegar à rádio local — que era onde fazia seu estágio — todas as manhãs era uma sensação única; como se ele se sentisse em casa. O ambiente tinha aquele cheiro familiar de café fresco, papéis espalhados pelas bancadas e o som dos microfones sendo ajustados. Mas, se era para ser sincero, não era só o ambiente que o fazia sentir tão à vontade ali. Também tinha outra coisa... ou melhor, pessoa — Beatriz Wong.

Beatriz Wong era a locutora responsável pelo horário matinal, e a razão do coração de Hongjoong bater um pouco mais forte sempre que ele entrava na estação. Ela era dona de uma voz marcante pelo seu sotaque carregado, típico de uma europeia nascida em Portugal, que mesmo sendo sino-portuguesa e falando coreano melhor que o Kim mesmo sendo nativo, também considerava suave, sobretudo porque era uma voz que chamava a atenção. Talvez por ser um pouco mais grossa ao qual está habituado? Dizem ser mais grossa que a do seu amigo de infância. Mas, com isso parecia transmitir aos ouvintes uma energia que fazia as manhãs serem mais leves. Com o tempo, Hongjoong percebeu que sua admiração pela Wong tinha se transformado em algo bem mais... profundo. Ele gostava da maneira como ela se concentrava ao ler cada carta dos ouvintes, colocando o coração em cada palavra que pronunciava ao microfone. Havia algo nela que ia além do profissional, uma conexão que ele preferia guardar só para si — um sentimento escondido entre as pilhas de cartas. Ele sentia isso, mas era claro que jamais iria contar sobre. O que ela acharia dele depois disso afinal? Chamá-lo-ia de louco.

Assim que entrou no estúdio, Hongjoong avistou Wong já ocupada, organizando a correspondência dos ouvintes. Ela estava mais do que concentrada, segurando uma caneta entre os dedos enquanto separava as cartas que seriam lidas no programa daquela manhã. Ele sentiu o coração acelerar um pouco ao vê-la tão dedicada. Ela sempre era assim, metia-lhe até um pouco de inveja por ele ser tão desorganizado e parecendo também um completo cabeça no ar, mesmo que desse tudo de si no seu estágio e desejasse ficar ali a trabalhar para o resto da sua vida. 

Respirou fundo, tentando disfarçar a timidez que insistia em aparecer.

— Bom dia, Wong— ele cumprimentou, tentando que sua voz parecesse suave, mas a ansiedade o denunciou. — Ela levantou os olhos e sorriu. Era um sorriso calmo, que fazia o Kim se sentir especial, como se fosse só para ele. O que claro, só nos sonhos dele que era. Afinal, seu sorriso era visto por todos ali dentro.

— Bom dia, Hongjoong! Preparado para mais uma sessão de cartas? — ela questionou com o tom animado de sempre. — Hoje temos algumas histórias bem interessantes — completou, sorrindo.

Hongjoong assentiu e se sentou ao lado dela após tudo estar organizado, os dois prontos para mergulhar no universo das mensagens dos ouvintes. Beatriz Wong gostava de trabalhar com o Kim, mesmo que fosse somente um estagiário. Se sentia bem livre com ele e sentia que a dinâmica deles era deveras incrível. 

Mas Hongjoong guardava seus sentimentos mais profundos em silêncio, preferindo evitar qualquer situação que pudesse expor o quanto admirava-a. 

Passando as ler as cartas ao lado dela, mantinha o tom profissional, mas frequentemente se pegava imaginando como seria poder conversar sobre assuntos mais profundos com ela, além das rotinas da rádio. Nem que fosse somente uma conversa de amigos. Afinal, era o mais certo que eles fossem, e ele não se importava. Tê-la no seu ciclo de amizades seria ótimo, mesmo que nunca fosse correspondido em seus sentimentos amorosos.

E se o nosso romance tocasse na rádio? | kim hongjoongWhere stories live. Discover now