Há muito tempo venho querendo falar sobre ele. Talvez porque tenha sido o que mais me assustou durante a infância.
Em teoria, não era diferente dos outros. Chegava por volta das três da madrugada, amava o escuro e desaparecia sempre que a luz era acesa. Seu porte era grande, sua cabeça batia no alto da porta.
Mas nada disso era o que mais me assustava. Se fosse só isso, eu teria me acostumado com ele, como fiz com os outros.
Ele adorava brincar comigo.
Sua maior alegria era chegar ao meu quarto, me despertar de um sono leve, como uma pluma, e dividir-se.
Sim, em vários de seus milhares de pedaços.
Então, subia pela minha cama, depois pelas minhas pernas, logo nos meus braços, até alcançar minha garganta, onde me pressionava contra a cama, tirando qualquer ar dos meus pulmões.
Gritos? abafados.
Pedidos de socorro? anulados.As lágrimas que escorriam pelo meu rosto eram a única coisa que me acalmava, já que todas as vezes, que no cair da madrugada, quando procurava por minha mãe, ela apenas dizia para eu não incomodá-la, "que tudo não passava de um pesadelo e que deveria voltar a dormir".
Desde então, nunca mais precisei da ajuda de ninguém para nada. Nem quando eles saíram dos meus pesadelos para o mundo real.
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Os monstros que moram debaixo da minha cama
Short StoryContos sobre os 'monstros' que encontrei ao longo da minha infância e adolescência e como, de alguma forma, eles ainda estão presentes até hoje. Descobrindo que alguns desses monstros talvez nunca realmente partam. Obs: Cada capítulo é um conto indi...