Era uma noite escura, uma tempestade se formava no céu e não demoraria a chegar. O vento soprava forte lá fora castigando quem quer que fosse que ousasse sair sem alguma proteção.
Coloquei a roupa que eu me sentia mais confortável para esse tipo de ocasião: uma calça taquetel, uma regata e para completar, o meu precioso casaco preto com capuz. Os principais itens que eu não podia e nem deveria esquecer era a touca e a minha faca.
Saí do meu esconderijo, mas antes verifiquei a área. Me desentendi com alguns maloqueiros alguns dias atrás, então todo cuidado é pouco.
Andei até o quarteirão de cima e fiquei de tocaia esperando alguma pobre alma desavisada.
Escolhi um lugar bem estratégico, em uma rua com pouquíssima iluminação e quem viesse não conseguiria me ver.
Escutei um trovão ribombar no céu, as ruas estavam todas desertas, quem é que seria doido de sair por aí com o dilúvio que ia cair? É claro que sempre tem alguém, pessoas que saem tarde do trabalho, por exemplo. Eu ficaria ali o tempo que fosse necessário para
"pegar emprestado" com alguém uma carteira ou bolsa, mesmo que para isso eu me molhasse inteira com a chuva.
A cada instante raios cruzavam o céu, clareando tudo por um momento e mergulhando as ruas em escuridão novamente. Tomei o cuidado de não ficar embaixo de alguma árvore já que elas são um belo condutor de energia.
Ouvi passos apressados vindo em minha direção. Era uma mulher que caminhava e olhava para todos os lados sabendo do risco que corria ao andar por aquela rua escura e quase totalmente vazia.
Assim que a mulher passou por onde eu me escondia e mal sabendo do perigo que corria, eu dei o bote. A agarrei por trás e coloquei a faca em seu pescoço, essa era uma técnica que eu treinei durante muito tempo, a abordagem. Eu segurava as pessoas de uma forma que não tinham escapatória ou formas de se defenderem.- Se gritar eu te corto. - Falei baixo. - Eu só quero a bolsa.
- Por favor, não me machuca.A mulher que já tremia me passou a bolsa e eu corri. Escutei ela gritar mas não havia ninguém para ajudá-la. Corri para uma esquina bem afastada, e de lá eu daria uma volta, até para despistar quem quer que esteja me seguindo.
Eu nunca corria direto para o meu esconderijo, não queria perdê-lo por um erro meu, então depois de cada assalto eu despistava de diversas formas.
O melhor de ter morado na rua é que a gente passa a se virar, e foi numa dessas que eu conheci um grande amigo, o Hugo. O cara me ajudou bastante e me ensinou uma das minhas técnicas preferidas de fuga, o Parkour. Demorei muito para aprender, treinei bastante, me arrebentei diversas vezes e despenquei de alturas enormes mas consegui dominar. O Parkour já me salvou muito.
É isso que eu faço para despistar, passo por muros, grades, portões, subo em prédios quando dá... O que estiver na frente ou o que for alto o suficiente para ninguém me alcançar eu faço. Antes de cada assalto, eu sinto a excitação e a adrenalina me envolver, é como uma droga, a gente sempre quer e deseja mais.
O assalto é uma forma de conseguir dinheiro mais rápido, só saber usar as armas e as técnicas certas.
Trabalho sozinha, apesar de receber propostas tentadoras, nunca aceitei nenhuma delas.
Consigo grana do meu jeito sem precisar dividir com ninguém e isso já me basta.
Parei um instante e verifiquei a bolsa, peguei o que eu julgava ser necessário: 50 reais e um celular, nem cartão de crédito tinha.
Depois de saber que eu estava segura o suficiente, resolvi voltar para o meu esconderijo. Eu não tinha medo de andar nessas ruas, os outros é que deviam ter medo de mim, apesar de nunca ter realmente usado a minha faca, eu não pensaria duas vezes se precisasse usá-la.
Fui caminhando por uma rua totalmente diferente da que eu passei antes. Por fim a chuva nos presentou com sua graça, veio forte com trovões e raios. Como eu já tinha tirado a touca, o vento castigava meu rosto. Parei de repente no meio da rua, mais a frente havia um beco. Eu não sabia se tinha escutado bem ou se era barulho provocado pela chuva.
Olhei para trás, mas não vi nenhum movimento.
Outra vez o barulho. Havia alguém naquele beco, escutei um choro de mulher.
Rapidamente e silenciosamente me esgueirei até a ponta do beco e dei uma olhada. O que vi fez meu coração saltar. Um homem estava violentando uma mulher naquele beco.
Não é porque eu assalto que eu tenho que ser conivente com outro tipo de violência. Não, eu tenho raiva de estupradores, de homem que bate em mulher e de muitas outras coisas.
Eu tinha que agir rápido. Coloquei minha touca que tampava meu rosto, deixando somente meus olhos visíveis e caminhei para o beco.
- Solta a moça. - Falei com a raiva transparecendo em minha voz.
O homem se assustou e levantou, fechando a calça. Mesmo estando escuro ali, eu o conhecia, eu já o tinha visto antes, só não me lembrava de onde. E eu esperava que ele não reconhecesse a minha voz.
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Profecia
FanfictionA vida de Nikki vai muito bem até o dia em que salva uma garota de um estuprador. Ao saber que o estuprador morreu e que tenha sido possivelmente pelas suas mãos, descobre que os seus problemas só estão começando. A outra parte dos seus problemas ve...