O esconderijo

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Acordei no dia seguinte bem cansada, o esforço de ter carregado aquela garota dava sinais visíveis em meus braços.
Levantei e me arrumei.
Peguei minhas facas, uma embaixo do colchão e a outra em um suporte que eu fiz, preso a minha coxa, guardei-as nos lugares que pertencem. Minhas facas na verdade ficam escondidas na minha cintura e na minha perna, perto do pé, escondida pela calça e presa com o mesmo suporte que eu prendo na coxa.
Somente em assalto é que eu uso uma das facas na mão e a outra na cintura.
Agora com a luz do dia, dava para ver o meu esconderijo muito bem, era um galpão abandonado. No canto esquerdo tinha um colchão que demorei em consegui-lo, uma lamparina em cima de um caixote e do lado direito, algumas caixas empilhadas, um varal que estava com as minhas roupas do dia anterior e uma porta que levava ao que um dia foi um banheiro. Ainda tinha o vaso sanitário e eu consegui alguém para fazer um gato, o que me traz água, é claro que não é quente, mas dá para tomar banho.

Minha mochila estava ao lado do colchão com algumas outras roupas, não era muito, mas dava para revezar durante a semana. Eu conheci uma senhora há uns tempos atrás que me deixa lavar minhas roupas na sua casa, é a dona Adelaide. No fundo ela sabe que eu mexo com coisa errada, não sabe exatamente o quê, mas ela sempre tenta me puxar para o lado do bem.
Com o dinheiro que eu consigo nos assaltos, eu compro comida e água e estoco para não passar fome ou sede. O dinheiro que eu não uso, deixo guardado, na verdade muito bem escondido. Já possuo mais de dez mil reais guardado. Meu negócio com assalto começou cedo e eu tenho mais lucro quando pego emprestado de alguém que tenha acabado de sair do banco.
Esse galpão eu consegui há uns dois anos, antes eu morava na rua mesmo, dormia em cima de um papelão e tinha um cobertor surrado que nem esquentava, passava frio e muitas vezes dormia na chuva.
Se eu perdesse esse galpão, perderia também o meu colchão que eu dei duro para conseguir.
Tive que trabalhar durante dois meses inteiros entregando compras de um mercado só para ganhar o colchão. Era um colchão bem velho, mas é bem melhor do que dormir em um papelão.

Por falar no galpão, eu dei uma melhorada nele.
Arrumei-o do meu jeito, tirei toda a poeira que havia e ainda fiz algumas saídas estratégicas.
Quem entrasse aqui jamais conseguiria me encurralar.
Sai do esconderijo, sempre observando a área.
Fui andando até a rua de baixo. Lá era a onde ficava a casa da Adelaide.
- Oi Nikki. - Adelaide apareceu na porta quando toquei a campainha.
- Oi Adê. - Respondi sorrindo.
- Andou sumida esses dias, o que houve? Não está metida em coisa ruim não, né? - Ela abre o portão para me deixar passar.
- Fica tranquila, está tudo bem.
-Sei. Esse tudo bem quer dizer o quê?
- Relaxa Adê. - Falei tranquila.
- Menina, menina, assim você não vai chegar nem aos vinte e cinco anos.
- Você fala isso como se eu fosse morrer hoje.
Sem contar que ainda faltam seis anos para eu fazer vinte e cinco. - Entrei na casa dela e me sentei no sota. - Cadê a Jú? - Perguntei me referindo à sobrinha dela.

- Já falei para deixar a Juliana em paz. Ela não é igual a essas mulheres que você fica. - Adelaide diz e me dá um tapa no braço me fazendo rir.
- Eu só quero falar com ela.
- Falar? Porque não vai atrás da Cacau? - Cacau é uma garota de programa que eu conheci e é a única que deixaria de receber dinheiro para ficar comigo quando eu quisesse.
- Que bicho te mordeu Adê? - Perguntei.
- Nenhum. Só estou cansada de dizer as mesmas coisas para você, eu me preocupo e você sabe disso.
- Eu já sei. - Falei, fazendo uma careta.
- Pois não é o que parece. Eu sempre falo e falo e tudo o que eu digo entra em um ouvido e sai pelo outro. - Adelaide diz, com um ar cansado. -
Essa vida que você leva, ainda vai te matar.
Você pode não me contar o que faz, mas eu sei que coisa boa não é. Todo aquele dinheiro que aparece com você, não é normal.
- Tá bom Adelaide. - Falei suspirando.

- Tá bom nada. Eu não sou sua mãe, mas eu me preocupo com você como se fosse minha filha, eu aprendi a gostar de ti. Você nunca me diz o que faz para ganhar esse dinheiro todo. Você vende seu corpo?
- O quê? - Perguntei, incrédula. - Adelaide, que absurdo.
- Eu sou pobre, Nikki. Mas eu nunca precisei fazer nada ruim para conseguir dinheiro, sempre trabalhei honestamente e é o que você deveria fazer.
- Esse papo já deu né? - Levantei e andei até o portão com a Adelaide atrás de mim. - Depois eu venho lavar a minha roupa.
- Nikki? - Adelaide segurou meu braço antes que eu saísse. - Não fica chateada comigo, só quero que você tome jeito.
- Tá tudo bem, Adê. Depois eu apareço.
Ganhei um abraço e saí. Já que eu não consegui o que queria, então eu fui atrás da Cacau mesmo. Eu fui lá na casa da Adelaide para transar com a Jú, somente isso. A garota é novinha, mas faz que nem gente grande.

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⏰ Última atualização: Nov 10, 2024 ⏰

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