Aos olhos da Princesa

Capítulo um

 Sentei em frente a aquele espelho, peguei minha escova e comecei a pentear meus longos cabelos castanhos, para mim parecia que nunca acabava. Me arrumei como podia, destaquei meus olhos pretos e marquei a minha boca que era simplesmente simétrica ao meu rosto redondo, naquele momento sentada em frente a aquele espelho falei comigo mesma " você é uma dama completa ". Sempre sonhei em ser da realeza ter como luxo tudo aquilo que eles tinham, vestidos cobertos por pedras, mesa farta, guardas, um castelo enorme e principalmente o reconhecimento de todo o reino, mas era um sonho que não podia se realizar, por motivos óbvios sou uma camponesa.

Me levantei, e fui em direção a minha mãe que estava se repousando do lado de fora da casa, era espaçoso com grandes árvores por todos os lados, havia pequenas vacas que por um tempo nos sustenta e uma grande trilha de plantações variadas, sentei no chão ao seu lado, peguei a sua mão e lhe dirigi a palavra:

- Por que será que uns tem demais e outros tem de menos? – Direcionando meu olhar ao castelo, que ficava ao alto de uma colina. Ela virou seu rosto e olhou fundo nos meus olhos.

- Sofia, minha filha, as pessoas têm o que merecem, e somos muito agradecidas por ter isso aqui, por mais humilde que seja – E sorriu para mim de forma graciosa. Apenas a encarei de uma forma não muito contente, mas não deixei transparecer muito, sei que ela dá duro por mim e não posso ser mal-agradecida a esse ponto de nossa vida. Apenas me levanto e volto para meu quarto.

Abro a porta, e vejo tudo aquilo com um olhar menosprezado, as janelas são de madeira já consumidas pelos cupins, o chão é de um velho carvalho que pertence a aquele lugar a um bom tempo, minha cama é pequena e fica recostada em um canto do quarto, a única coisa que conservo é minha penteadeira, única lembrança que tenho do meu pai que faleceu há 2 anos, toda vez que a fito uma pequena lágrima sai dos meus olhos, o meu guarda roupa é uma pequena madeira pregada a uma das paredes, que aconchega todas as minhas poucas vestimentas. Me deito e ali permaneço durante toda a manhã, pensando sobre a grande festa que ocorrerá no castelo hoje à noite com vários convidados de variados cantos do reino.

Já está anoitecendo e aquelas grandes luzes do castelo, atingem fortemente as frestas da janela de meu quarto, tento tampa com qualquer coisa que tem a minha frente, não quero pensar em que eu não estou lá, também não há formas de eu ir sem um convite, ouvi boatos que todos deveriam comparecer, mas nossa família não recebeu aviso qualquer, então descarto essa possibilidade.

Ouço um grito do lado de fora da casa, fico assustada e corro para ver onde estava minha mãe, chego do lado de fora e vejo uma grande carruagem toda branca, com uma única porta folheada a ouro, possuiu rodas de madeira simplesmente bem tratadas, a carruagem é carregada por dois grandes cavalos brancos que carregavam o semblante da família real.

Fico chocada com aquela cena, será mesmo que é o que estou pensando? Vamos ser convidadas para o grande baile de hoje à noite? Pareço tranquila por fora, mas por dentro estou pulando de alegria como se eu tivesse ganhado um grande prêmio. Vou em direção ao homem – provavelmente mensageiro do reino – que está conversando com minha mãe, pego o meio da conversa:

- ... dentre de algumas horas a grande festa irá começar, a família real a espera essa noite, tenham uma boa noite e obrigado – Ainda não consigo acreditar, eu vou à festa, assim que a carruagem some no meio da floresta, dou um pulo de alegria ao lado da minha mãe e a abraço como nunca antes, simplesmente grito:

- NÃO ACREDITO! – Minha animação era certeira, e estava bem implícita.

- Sofia isso é inacreditável – também vejo o rosto de surpresa dela, eu apenas confirmo com a cabeça, e a abraço novamente.

- Vamos, temos que nos arrumar, não podemos fazer feio e temos pouco tempo, é um sonho a ser realizado, vamos mãe. – Olho para ela, e está cabisbaixa, olho com estranheza.

- O que há de errado mãe?

- Temos apenas um convite, e não dá para nós irmos juntas, mas quero que vá sempre foi o seu sonho. – Fico sem reação, pois devíamos ir juntas, por mais que seja o meu sonho ela é minha mãe.

- Não vou sem a senhora, sabe muito bem disso.

- Sofia – Ela coloca sua mão em meu rosto e diz com sutileza e graciosidade, como sempre faz – Eu quero que vá, estou feliz aqui e não tenho interesse algum em ir, por favor vá, apenas te peço isso. – E me abraça.

- Não sei se é uma boa ideia, o que vou fazer lá sozinha? – Sussurro em seu ouvido, enquanto me abraça. – Vou ficar totalmente deslocada mãe.

Ela se desprende de mim, e olha bem no fundo dos meus olhos de forma cativante como nunca fez.

- Pense nas incríveis oportunidades que pode haver para você lá dentro, pode conhecer pessoas incríveis, apenas tome cuidado. – Nessa hora ela estreita os olhos para mim. – As pessoas podem ser bonitas por fora, mas por dentro é um poço de maldade. Minha filha vá e dê o seu melhor, como sempre lhe ensinei.

Dou um sorriso acolhedor para ela, e apenas falo tudo bem, entro para dentro, e vou logo pegar o meu melhor vestido, que ganhei de presente da minha tia, quando nos visitou ano passado, será a primeira vez que vou usar ele. O pego e percebo o quanto é elegante e lindo, é longo, de uma cor meio verde esmeralda, sua parte de cima é apertada o que defini meu corpo, possui alguns cristais na frente que moldam o desenho, que é abstrato, mas que imitava as curvas do mar, suas costas é totalmente cruzada em fitas de cetim branco que dá todo uma harmonia ao vestido, apenas o visto confiante.

Sento em minha penteadeira que é toda branca, e contém um pequeno espelho em seu centro, possui duas gavetas a frente onde guardo todos os meus produtos junto com as bijuterias. Me encaro por uns 2 minutos, e fico ali imaginando que hoje eu vou poder me sentir uma verdadeira princesa, passo uma leve maquiagem em meu rosto, mas como sempre destaco meus olhos pretos, faço um coque deslumbrante em meu cabelo e apenas deixo duas mexas caírem a frente de meu rosto. Pego um colar e um par de brincos combinando com o vestido e termino de me arrumar, me seguro para não chorar, pois aquilo ainda é surreal para mim.

Grito minha mãe assim que termino, ela vem correndo me ver, abre a porta delicadamente, e quando me olhou desabou em choro, e apenas um sincero está linda sai de sua boca, a abraço e lhe dou um beijo em sua testa, ela retribui e nos despedimos. Sigo lá para fora e vejo aquela linda carruagem novamente à minha frente, me dirijo em direção a ela, assim que me aproximo o mensageiro apenas diz:

- Madame – E abre a porta para mim.

Eu entro com a maior elegância do mundo, e aceno para minha mãe com um largo sorriso no rosto, e vejo sua felicidade do lado de fora por mim, a encaro até que a carruagem começa a andar, depois de um tempo ela some no horizonte, me ajeito no banco de couro, cruzo as pernas como uma verdadeira dama, e digo ali mesmo: tudo pode ser real a partir de hoje.