O Beijo e a Saudade

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A viagem de Jungkook até Goiânia começava muito antes do ônibus sacolejante e das noites cheias de música sertaneja. Para ele, aquele festival era a chance de uma pequena fuga, uma aventura que parecia improvável para alguém que sempre sentiu que suas escolhas eram limitadas. Crescera em uma cidade pequena no interior de São Paulo, onde tudo parecia programado: escola, faculdade, um emprego seguro e uma rotina previsível. Aos vinte e dois anos, estava no último ano da faculdade de Direito, carregando o peso das expectativas da família, que sonhava em vê-lo como advogado e, um dia, juiz.

Mas por dentro, Jungkook se sentia inquieto. Era bom em seguir o que esperavam dele, mas sempre soubera que algo estava faltando, um pedaço de liberdade que ele nem sabia como alcançar. Passara anos focado nos estudos, mas sempre procurando alguma forma de se soltar nos fins de semana, nas festas com os amigos. Foi assim que Carol surgiu em sua vida, a amiga que estava sempre ao seu lado, pronta para empurrá-lo em novas aventuras. Ela era o tipo de pessoa que iluminava o ambiente e fazia com que Jungkook se sentisse seguro para arriscar algo fora do roteiro. Foi ela que, uma noite, com um sorriso malicioso, apareceu com os ingressos para o Festival Sertanejo de Goiânia.

— "E aí, vamos encarar Goiânia ou vai correr?" — provocou Carol, abanando os ingressos como se fossem um prêmio.

Jungkook riu e tentou argumentar. Sertanejo não era exatamente seu estilo, mas, no fundo, ele sabia que o problema não era a música, e sim o medo de sair de sua zona de conforto. Algo nele o empurrava a aceitar, e assim, quase sem pensar, ele topou.

O Festival Sertanejo de Goiânia era um dos maiores do país, reunindo multidões de todos os cantos, celebrando o gênero que é símbolo da cultura brasileira. Naquela primeira noite, Jungkook se viu cercado por milhares de pessoas vestidas com chapéus de cowboy, botas e cintos de fivela, todos vibrando ao som das duplas no palco. A energia era palpável, como se cada música aumentasse a intensidade do lugar. Enquanto caminhava pelo evento ao lado de Carol, ele se sentia quase embriagado pela atmosfera.

A noite parecia voar, até que, em um dos momentos mais animados do show, Jungkook percebeu um olhar fixo em sua direção. Entre o mar de rostos e risos, um moreno alto o observava com um sorriso intrigante. O rapaz tinha um charme irresistível, uma expressão confiante e uma energia que parecia vibrar com o ritmo da música. Era impossível ignorá-lo. Jungkook tentou disfarçar, mas o moreno, percebendo o interesse, abriu caminho pela multidão e se aproximou com uma naturalidade desarmante.

Quando ficaram frente a frente, Jungkook, tentando soar casual, arriscou uma frase:
— E aí, curtindo o festival?

O moreno sorriu, revelando uma expressão divertida e um olhar que parecia saber mais do que dizia.
— Curto sempre. E você? Pareceu um pouco deslocado.

Jungkook riu, sentindo-se ainda mais desconcertado, e confessou:
— Confesso que não sou muito de sertanejo, mas resolvi arriscar dessa vez.

Foi nesse momento que ele se lembrou da provocação de uma música que ouvira ao fundo:

"Festival sertanejo
E eu no camarote
A boca mais linda
Virando gin no gole.
Falei, 'e aí, 'tá afim de beijar?'
Mais doida que eu, respondeu, 'só se for agora'."

A frase ecoou em sua mente, e o impulso foi mais forte do que ele. Olhando nos olhos do moreno, Jungkook se aproximou um pouco mais e arriscou:

— E aí... tá afim de beijar?

O moreno riu, surpreso pela ousadia, e respondeu no mesmo tom:
— Só se for agora.

Jungkook mal teve tempo de se preparar. O moreno segurou sua nuca com firmeza e o puxou para um beijo que fez o mundo desaparecer. Ali, entre os flashes das luzes e os gritos de euforia do público, os dois se perderam um no outro. O beijo foi intenso, uma mistura de desejo, surpresa e uma química avassaladora que fez Jungkook esquecer qualquer hesitação. Ele sentiu o gosto do gin na boca do rapaz, o perfume dele se misturando com o ar quente da noite. Cada detalhe parecia cravado em sua mente: a mão do moreno na sua nuca, o calor do corpo dele, e aquele beijo que parecia não ter pressa para acabar.

A sensação era nova, mas ao mesmo tempo estranhamente familiar. Jungkook não sabia dizer se era a intensidade do momento ou algo mais profundo, mas sentiu como se tivesse encontrado algo que não sabia que estava procurando.

Quando finalmente se afastaram, ambos sorriram, um sorriso cúmplice, quase secreto. Ficaram lado a lado pelo resto da noite, conversando, rindo e trocando olhares intensos. Jungkook sentia-se completamente envolvido, fascinado por aquele estranho que parecia ter surgido apenas para quebrar sua rotina.

No final da noite, quando a música começou a diminuir e o festival chegou ao fim, Jungkook sentiu um aperto no peito. Ele não queria que aquilo acabasse. A noite tinha sido mágica, algo que ele sabia que guardaria para sempre. Com um sorriso meio tímido, pediu o número do moreno. O rapaz, ainda com o olhar caloroso, anotou rapidamente e disse:

— Até mais, Jungkook. Quem sabe nos vemos por aí.

Jungkook observou o moreno sumir na multidão, com a cabeça ainda girando com tudo o que tinha acontecido. No dia seguinte, de volta ao ônibus com Carol, ele tentou ligar para o número. Para sua frustração, a ligação não completava. Tentou mais uma vez, e outra, mas nada.

Era como se aquele beijo, aquele momento, tivesse ficado apenas na memória, um fragmento de algo perfeito que não tinha continuidade. Jungkook ficou parado, encarando o celular, o coração apertado pela saudade daquele instante. Na cabeça, o refrão da música não parava de tocar:

"No outro dia eu vim embora
'To na minha cidade agora
Com o contato errado
Sem ela me seguir de volta."

A letra parecia escrita para ele. Dois copos, um beijo, uma mão na nuca. E agora ele estava ali, com um número que não chamava e uma lembrança que não o deixava em paz.

Jungkook olhou pela janela, sentindo que aquele rapaz não era apenas mais uma pessoa que cruzara seu caminho. Algo nele insistia que deveria tentar mais. Talvez estivesse louco, mas ele sabia que não podia deixar aquela história acabar. Mesmo sem pistas, mesmo com apenas uma noite e um número errado, Jungkook estava decidido. Ele voltaria para Goiânia e encontraria aquele moreno de sorriso encantador, nem que isso levasse uma vida inteira.

"Oh, saudade da moreno de Goiânia..."

Moreno de Goiânia - PJM + JJK Onde histórias criam vida. Descubra agora