Jorginho não esperava que o seu fim viria daquela maneira, muito menos naquela velocidade. Suas costelas já doíam como o diabo e seu olho esquerdo não conseguia se manter aberto por mais do que três segundos. Sua boca sangrava e parte dela estava amortecida. Seus dentes da frente jaziam no chão ao seu lado. E ainda havia o corte na cabeça do tamanho de um palmo, que vertia sangue por todo o seu rosto.
- Não perguntarei novamente. – disse a figura encapuzada à sua frente. Era impossível ver sua face, e Jorginho achava que isso não mudaria nada, enfim.
- Eu não sei do que o sinhô tá falando. Eu não tenho nada a ver com isso não, sinhô. – respondeu o garoto de apenas 16 anos, arrastando-se para longe de seu agressor.
Mas de nada adiantou. A figura logo estava sobre ele novamente, os punhos se fechando sobre o colarinho do garoto. Jorginho sentiu-se sendo erguido do chão. Seu rosto estava a poucos centímetros daquilo que mais parecia uma máscara. Era um lunático, e isso o assustava ainda mais.
- Você é mais um dos aviõezinhos do Sanchez, não adianta mentir para mim garoto. – a voz tenebrosa entrou como uma faca quente na manteiga, perfurando toda a sua moral, a sua alma, ou o que restava dela. Sua sanidade ia escorregando de seus dedos.
- Tá, tá, mas eu não falo com ele não. Só recebo a droga do Juca que recebe a droga do Sanchez e levo pros outros lugares, eu juro! – disse Jorginho, esperando que seu juramento valesse alguma coisa para a figura.
Para Leviatã, no entanto, aquilo não significava nada. O anti-herói olhou então por cima do ombro do garoto, focando na escada imensa que levava para o fim do morro. Por baixo da máscara, ele sorriu. Mas um sorriso maldoso, de um homem prestes a assassinar um moleque perdido na vida.
E ele nem mesmo se importava.
- Diga-me onde posso encontrar o Juca. – era sua última pergunta.
- Na Lan House do lado do Fliperama. – afirmou o garoto. Era a última coisa coerente que ele diria.
Leviatã o levou até a escada. Os olhos avermelhados e demoníacos de sua máscara encararam Jorginho. E então, sem aviso prévio, vendo o garoto em pé à sua frente, o anti-herói o chutou no meio do peito.
Ele ficou a observar o corpo do garoto rolar escada abaixo, enquanto Jorginho gritava de dor, cada osso de seu corpo se despedaçando com as sucessivas pancadas. Quando enfim chegou ao fim da escada, ele já estava desacordado, um pulmão perfurado pela costela e o ferimento na cabeça ainda mais aberto, agora mostrando o osso em si. Era hora de encerrar sua interrogação com aquele garoto.
O morro ainda permanecia em silêncio, ainda que houvesse casas ao redor de onde ele estava, ninguém saiu para ver o que está acontecendo. Era uma coisa normal de se acontecer ali, e os moradores não se intrometiam. Leviatã desceu parcimoniosamente, aproveitando cada segundo daquele sentimento de que estava fazendo uma coisa de certo, estava vingando Amanda. Jorginho, ou aviãozinho, era apenas um degrau para alcançar os maiorais.
Parou ao lado do garoto, vendo seus braços retorcidos num ângulo extremo, o sangue juntando-se à lama da rua sem asfalto. O garoto parecia que não havia sobrevivido aos ferimentos, mas logo essa hipótese foi descartada. Jorginho se mexeu violentamente, talvez colapsando. Abriu os olhos e eles demoraram a focar em Leviatã. O anti-herói ficou de cócoras ao seu lado, mãos nos joelhos.
- Escolheu o caminho errado, filho.
- Leite, mãe, por favor. E uma caixa de almôndegas do Senhor Jesus, amém.
O cérebro colapsou. Traumatismo craniano dos feios. Exagerei na dose? Não. Este em especial havia matado uma senhora de sessenta anos e um garoto de onze. Por que deveria poupar sua vida? Não importa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Leviatã
ActionLeviatã, um monstro marinho que mantém o equilíbrio no mar, protegendo os peixes menores dos maiores. Na Religião Judaico-Cristã, um Duque do Inferno, um demônio. Este anti-herói é os dois. Ele mantém o equilíbrio nas ruas, protegendo as pessoas de...