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POV RAMI

O café da manhã havia terminado, mas eu ainda estava ali, sentada à mesa, observando SN de longe enquanto ela organizava algumas coisas no celular. As meninas haviam se espalhado pela casa para aproveitar as horas livres antes da gravação, mas eu não sentia vontade de me mover. Havia algo em mim que me mantinha fixa no lugar, algo que eu só comecei a entender naquele momento.

Meu olhar seguia cada movimento de SN. O modo como ela inclinava a cabeça levemente enquanto lia, os dedos ágeis deslizando pela tela do celular. Seus lábios se curvavam em uma expressão leve de concentração, quase um sorriso, mas não exatamente.

Comecei a perceber detalhes que antes me passavam despercebidos. A maneira como seu cabelo caía suavemente sobre os ombros, como se sempre estivesse no lugar certo, ou como seus olhos brilhavam com intensidade mesmo quando estava apenas focada em algo banal. Era estranho como tudo parecia tão natural nela, como se cada gesto fosse cuidadosamente calculado, mas ao mesmo tempo espontâneo.

E então, me peguei pensando: por que eu reparava tanto? Por que esses detalhes, que eu nunca dei atenção antes, agora me pareciam impossíveis de ignorar?

Por muito tempo, eu pensei que o desconforto que sentia perto de SN era por causa da presença constante dela, da forma como ela parecia estar sempre à frente, sempre no controle. Achei que fosse por conta do papel dela na nossa preparação, ou talvez pelo jeito confiante que ela tinha de lidar com tudo. Mas agora, enquanto observava cada pequeno detalhe, a realidade começou a se desenhar na minha mente.

Eu não a odiava. Nunca odiei.

O desconforto era algo muito mais complicado. Era a frustração de ver SN tão atenta a todas nós, mas nunca exclusivamente a mim. Eu queria ser o centro da atenção dela, queria que aqueles olhos brilhantes e aquele sorriso discreto fossem direcionados apenas para mim.

Meus pensamentos foram interrompidos quando ela levantou o olhar e encontrou o meu. Por um segundo, fiquei paralisada, incapaz de desviar. SN arqueou levemente uma sobrancelha, um sorriso curioso surgindo em seus lábios.

"Rami? Tá tudo bem?" ela perguntou, a voz suave mas carregada de uma preocupação genuína.

Meu coração acelerou, e eu não soube o que dizer. Apenas assenti, talvez de forma um pouco rápida demais, e olhei para o lado, tentando disfarçar o rubor que subia para o meu rosto.

"Se precisar de algo, é só falar," ela acrescentou, antes de voltar ao celular, como se nada tivesse acontecido.

Mas para mim, tudo tinha mudado naquele instante.

Percebi que não era ódio. Era algo muito mais perigoso, muito mais profundo.

E eu não sabia se estava pronta para lidar com isso.

POV AHYEON

A água quente escorria pelo meu corpo, envolvendo-me em uma sensação momentânea de conforto. O vapor preenchia o pequeno espaço do banheiro, mas não fazia nada para dissipar o turbilhão de pensamentos que girava incessantemente na minha mente.

Fechei os olhos, deixando que a água caísse sobre meu rosto, como se pudesse lavar os sentimentos que há tempos eu tentava esconder. Mas era inútil. Cada gota que caía parecia trazer de volta a memória de mais cedo, quando Chiquita, ainda sonolenta, me acordou com aqueles pequenos beijos no pescoço.

Foi tão inocente, tão puro. Ela não tinha intenção alguma além de me tirar do sono com carinho, como sempre fazia com todo mundo. Mas para mim, aquilo foi diferente. Cada toque suave de seus lábios na minha pele acendeu algo que eu estava tentando apagar há meses.

Entrelinhas do Destino ┃CHIYEONOnde histórias criam vida. Descubra agora