O primeiro passo (LL)

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Lara observou a casa silenciosa enquanto entrava pela porta da frente, os passos levemente hesitantes. O ar era fresco, impregnado pelo aroma doce de lavanda que ela sempre mantinha em sua casa. Era um aroma reconfortante, mas hoje, de alguma forma, não conseguiu afastar a sensação de peso que ela carregava nos ombros. O dia havia sido longo – as reuniões no trabalho, as exigências do cotidiano, as responsabilidades que pareciam se acumular uma sobre a outra, sem fim.

Ela passou a mão pelos cabelos, que estavam um pouco desarrumados após o corre-corre do dia. Não era isso que ela queria. Não era a vida adulta que ela ansiava. Ao invés disso, sentiu o desejo crescente de desaparecer, de voltar atrás no tempo, para uma época onde suas maiores preocupações eram os brinquedos espalhados pelo chão ou o cheiro de biscoitos assando no forno.

A vida adulta tinha seu preço, e Lara começava a sentir esse peso de forma mais intensa. Era quando a necessidade de regressão começava a surgir, como um reflexo de algo primitivo em seu ser. Ela queria fugir para um lugar onde pudesse ser cuidada, sem cobranças. E, mais do que tudo, ela queria estar com ele.

Ela olhou para o relógio da parede da sala – 19:32. Ele ainda não estava em casa. Lara não sabia se sentia alívio ou ansiedade por isso. Havia algo em seu coração que acelerava quando pensava nele, como se ela fosse uma criança esperando pelo momento perfeito de reencontrar um adulto que a ampararia, não com palavras duras, mas com suavidade e compreensão.

O "Daddy", como ela o chamava, sempre soubera como tratar Lara com o carinho e a paciência que ela precisava. Ele sabia das suas inseguranças, dos seus desejos secretos, dos seus medos. E, o mais importante, sabia respeitar os limites dela, criando um espaço seguro onde ela poderia ser quem quisesse ser – mesmo que isso significasse ser uma criança em um corpo de mulher.

Lara se dirigiu ao sofá, seus pés descalços fazendo um som suave no chão de madeira enquanto ela se aproximava. Sentou-se com os joelhos dobrados contra o peito e se envolveu na manta macia que estava sobre o sofá. Ela afundou a cabeça entre os joelhos, fechando os olhos por um momento. Queria pensar, queria se perder naquele espaço de silêncio. Mas sua mente estava uma bagunça – uma confusão de sentimentos. A sensação de estar perdendo o controle sobre sua vida adulta estava cada vez mais presente, e a urgência de sentir segurança e cuidado parecia quase insuportável.

Ela respirou fundo, sentindo o ar gelado encher seus pulmões, e tentou se acalmar. Não estava sozinha. Ele viria logo. Ele sempre vinha. E quando ele chegasse, ela sabia que poderia se entregar àquilo que mais precisava: regressar.

Quando o som da chave na porta a tirou dos seus pensamentos, Lara levantou a cabeça, seus olhos brilhando de antecipação. A porta se abriu com um rangido suave, e a figura familiar de Lucas apareceu no umbral. Ele estava com uma expressão serena, mas seus olhos, aqueles olhos profundos e observadores, a avaliaram com um olhar que a fez sentir-se como se fosse a única coisa importante naquele instante.

— Hey, princesa. Como foi o dia? — A voz dele, suave e calma, invadiu o espaço. Lara sentiu uma onda de alívio.

Ela não respondeu imediatamente. Ao invés disso, levantou-se do sofá e caminhou até ele, seus pés descalços deixando marcas sutis no chão. Lara olhou para ele com uma expressão misturada de cansaço e necessidade, os olhos quase suplicantes.

— Cansativo — ela murmurou, mas a palavra parecia ter um peso muito maior do que uma simples descrição de como fora o seu dia. Era um cansaço existencial, de viver em um mundo que parecia nunca parar de exigir.

Lucas a observou por um momento, sua expressão relaxando em compreensão. Ele sabia. Sabia que ela estava pronta para se entregar, para se permitir ser mais frágil, mais vulnerável.

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