My Agere World

O refúgio do mundo interior (LL)

O dia seguinte trouxe um céu cinza e nublado, uma brisa suave que passava pelas janelas abertas da sala. Lara ainda se sentia imersa na calma do dia anterior, como se a sensação de serenidade que ela encontrou ao lado de Lucas tivesse criado uma bolha protetora ao redor dela, impedindo qualquer coisa do mundo exterior de invadir seu espaço seguro. Ela havia acordado algumas vezes durante a noite, mas sempre encontrou seu lugar de volta ao calor do cobertor e à segurança dos cuidados de Lucas, como se ele estivesse sempre ali, protegendo-a.

Agora, com o dia iniciando mais preguiçoso, ela estava sentada à mesa de café, mexendo distraidamente na xícara de chá que ele preparara para ela. As folhas de chá flutuavam em círculos dentro da água quente, e Lara ficou observando por um tempo, como se cada movimento daquelas folhas fosse uma representação do que ela sentia internamente: as emoções, as lembranças, tudo aquilo que se movia em sua mente, mas que nunca parecia se acalmar. Ela ainda sentia um peso, uma necessidade de escapar para aquele campo de flores onde a paz reinava. Mas, ao mesmo tempo, sabia que o que ela sentia era normal. A regressão não era uma solução mágica, mas uma ferramenta para ajudá-la a lidar com as complexidades do mundo adulto.

Lucas entrou na cozinha e parou ao ver Lara, seu olhar gentil e atento. Ele sempre parecia perceber a energia de Lara, como se soubesse quando ela estava se fechando ou quando o mundo dentro dela estava prestes a desabar. Mas, em vez de pressionar, ele sabia que precisava dar o espaço que ela precisava para se abrir. E, hoje, ele esperava que ela estivesse pronta para dar o próximo passo. A regressão de ontem tinha sido um avanço, mas agora era hora de Lara refletir sobre como essa parte dela se encaixava no resto de sua vida.

— Como você está se sentindo hoje, princesa? — Lucas perguntou, sua voz suave, mas com uma intensidade que só ele sabia transmitir.

Lara olhou para ele, levando a xícara de chá até os lábios e tomando um gole. O calor da bebida parecia trazer um pouco de alívio ao que ela sentia no peito. Por mais que ela tentasse esconder, ainda havia uma pontada de insegurança, uma sensação de inadequação que vinha e ia. Ela não sabia exatamente o que estava sentindo, mas sabia que precisava ser honesta, como Lucas sempre a incentivava a ser.

— Eu... — Ela começou, hesitando. — Eu me sinto... calma, mas também um pouco confusa. Não sei como explicar.

Lucas sorriu e se aproximou dela, sentando-se ao seu lado. Ele não a pressionou para dizer mais do que ela estava disposta a compartilhar. Ele sabia que, aos poucos, Lara encontraria as palavras para expressar o que estava dentro de seu coração.

— Isso é completamente normal, princesa. Regredir não significa que todas as suas dúvidas e medos desapareçam instantaneamente. É um processo. — Ele olhou para ela com seus olhos profundos, sempre acolhedores. — O importante é que você está permitindo que essas partes de você venham à tona. E isso é um grande passo.

Lara se perdeu no olhar de Lucas por um momento. Ele sempre soubera o que dizer, sabia exatamente como tocá-la, como guiá-la. Ele nunca apressava nada. Estava ali para ela, sem pressões, sem expectativas. Aquela era uma das razões pelas quais ela se entregava ao processo de regressão com tanto conforto. Ele nunca a faria sentir que estava errada por querer ser frágil, por querer ser cuidada.

Ela baixou os olhos para a xícara de chá, mexendo novamente as folhas que flutuavam. Aquietou-se por um momento, antes de responder com uma voz suave:

— Eu quero tentar de novo... fazer a regressão. Mas não sei o que fazer para conseguir ir mais fundo.

Lucas percebeu a vulnerabilidade nas palavras dela. Ele sabia que Lara estava disposta a explorar, mas ainda havia uma hesitação, uma parte dela que não sabia como se entregar totalmente. Ele queria guiá-la, mas também queria respeitar o seu ritmo. Ele sabia que a chave para o que ela precisava era uma confiança mútua, uma confiança que ele ainda estava ajudando a fortalecer.