Legado Maldito: Entrevista Com O Filho Do Diabo

Capítulo 1: No Início

Capítulo 1: No Início

> "E houve batalha no céu... O grande dragão foi lançado fora - a antiga serpente, que se chama Diabo e Satanás."
(Apocalipse 12:7-9)

Séculos haviam passado desde que Lúcifer caiu como um relâmpago sobre a Terra, expulso do céu pela sua própria rebeldia. Sua presença na Terra era um segredo mantido à margem dos olhos humanos, uma sombra que cruzava os séculos. No entanto, em 2008, algo o puxou para mais perto da humanidade. Ele decidiu viver como um ser humano, escolher um nome, assumir um rosto... e, com um disfarce cuidadosamente construído, Lúcifer tornou-se "Miguel".

Miguel não queria ser notado, mas o destino o colocou frente a frente com Daiana, uma jovem de olhar inquieto e profundo, que parecia enxergar nele algo além do que ele permitia a qualquer um ver. Havia, entre os dois, uma ligação intensa, uma atração inevitável. Como a maré que se arrasta pela gravidade da lua, Miguel sentia-se puxado para ela de uma maneira inexplicável. E, em uma noite de paixão, ele cedeu a essa conexão.

Mas as consequências logo se apresentaram.

Algum tempo depois---

Daiana estava com o coração aos pulos. Descobrira que estava grávida. Ansiosa, correu para contar a Miguel, querendo dividir a alegria e, talvez, os medos que já começavam a se formar. No entanto, quando o encontrou e revelou a notícia, o que viu nos olhos dele não foi felicidade - foi uma sombra, uma frieza que a atravessou.

- Você... está grávida? - Miguel repetiu, sua voz baixa e firme, como se controlasse um turbilhão.

- Sim, Miguel. Vamos ter um filho - disse ela, tentando manter a esperança em seu olhar.

Miguel se afastou, respirando fundo, com os punhos cerrados. Ele sabia que aquilo era mais que um erro. Era uma violação das leis que governavam seu reino sombrio. O Inferno não permitia que ele gerasse vida, não na Terra, não em outro lugar. A ligação entre eles era uma ameaça, uma fraqueza inaceitável.

- Isso não pode acontecer, Daiana - ele murmurou, sua voz já distante. - Vou embora. Mas quando esse... filho... completar 16 anos, ele terá que me encontrar. Ele deve viver comigo.

Antes que ela pudesse questionar, protestar ou entender, Miguel se afastou, sumindo na escuridão, deixando Daiana com o coração partido e uma vida prestes a nascer.

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Meses depois, Daiana deu à luz um menino, a quem chamou de Abel. A dor da perda ainda estava presente, mas a cada sorriso e olhar do filho, algo nela se acalmava. Criou Abel com todo o amor que tinha, e sua mãe, Letícia, uma mulher religiosa e de fé inabalável, deu apoio e orientação, tentando proteger o menino dos mistérios que Daiana nunca ousou revelar.

Os anos passaram, e Abel cresceu como um garoto comum, frequentando a escola e ajudando a avó em casa. No entanto, à medida que os dias se aproximavam de seu aniversário de 13 anos, ele começou a sentir uma inquietação, uma presença inexplicável que parecia se manifestar em pesadelos recorrentes.

Na noite de seu aniversário, Daiana, sua mãe, caiu enferma de repente. Abel sentiu-se impotente enquanto segurava a mão dela, que já estava fria e trêmula. Com um último suspiro, Daiana murmurou:

- Cuidado, Abel... Aos 16... seu pai voltará... ele vai querer levá-lo...

Essas palavras foram a última coisa que ele ouviu antes que o mundo ao seu redor escurecesse, e Daiana partisse, deixando-o apenas com sua avó e com a sombra de um pai que ele nunca conheceu, mas que já o rejeitara antes mesmo de seu primeiro choro.

Abel cresceu com um misto de nojo e raiva de si mesmo, uma ferida aberta por ter sido abandonado pelo pai. E, desde a morte de sua mãe, os sonhos se intensificaram. Cada noite, ele se via caindo em um abismo sem fim, um buraco que o levava ao que parecia ser o próprio Inferno. As chamas, as sombras, as vozes sussurrando em uma língua que ele não compreendia... E sempre, ao fundo, uma presença aguardava, como se estivesse apenas esperando que ele estivesse pronto.