Na escuridão densa da noite chuvosa, as ruas do bairro pobre de Kingsport eram um labirinto de becos apertados e sombras espessas. A chuva caía incessantemente, encharcando as ruas e formando poças sujas que refletiam as luzes trêmulas dos postes enferrujados. Os sons da cidade pareciam abafados pelo peso da água, e um frio úmido se arrastava pelas casas, infiltrando-se pelos buracos nas janelas e pelas frestas nas portas.
Na pequena casa no fim da rua, Devon, um garoto de 13 anos, olhava pela janela do quarto enquanto a chuva escorria como lágrimas pelo vidro. Seus pais estavam no quarto ao lado, discutindo baixinho para não acordá-lo. Mas ele não dormia; a tempestade o mantinha acordado. E algo mais... algo o chamava.
Era um som estranho, como um murmúrio distante, algo que apenas ele parecia ouvir. Uma voz fria e envolvente que se infiltrava em sua mente, sussurrando seu nome suavemente, como um feitiço sombrio que não podia ser ignorado. Ele se levantou da cama, sentindo uma sensação de urgência inexplicável. Seus pés descalços tocaram o chão frio, e ele abriu a porta do quarto, movendo-se como se estivesse em um transe, com o olhar fixo na escuridão lá fora.
Quando saiu de casa, o ar gelado o envolveu, e ele sentiu as gotas da chuva frias e pesadas caírem sobre sua pele, molhando-o por inteiro em questão de segundos. O vento sussurrava em seus ouvidos, misturando-se ao som das gotas de chuva, criando uma melodia lúgubre que parecia o chamar para mais fundo na escuridão. Devon seguiu, como se a voz o segurasse pelo peito e o puxasse para frente. Seus passos eram pesados sobre as pedras molhadas, e o eco de cada movimento parecia ser absorvido pela noite. As luzes dos postes piscavam, oscilando entre a vida e a morte, enquanto a neblina densa se fechava ao redor, como um véu de sombra líquida.
Conforme caminhava, sussurrava para si mesmo, tentando se acalmar. "Não estou com medo... não estou com medo..." Mas cada passo que dava pelas ruas estreitas e escuras o fazia sentir-se mais exposto, como se estivesse sendo vigiado por olhos invisíveis. A sensação de estar sendo observado se intensificava a cada segundo, como se o ar ao seu redor estivesse se comprimindo. Ele parou, olhando desesperadamente para os lados, enquanto o pânico subia em sua garganta.
— Por favor... quem está aí? — gritou, sua voz se quebrando em meio ao som da chuva. Não houve resposta, apenas o sussurro incessante do vento e o som do frio se arrastando pela cidade.
Então, ele o viu. Sob a luz trêmula de um poste, uma figura alta e indistinta se destacava contra a escuridão. Seu terno estava encharcado e desajustado, e sua cabeça inclinada para o lado exibia um sorriso grotesco e distorcido, com fileiras de dentes desiguais que pareciam afiadas como lâminas. Algo no olhar vazio e frio daquela figura fez o sangue de Devon gelar. Nas laterais de sua cabeça, duas pequenas caudas se moviam de maneira inquietante, como se fossem parte viva de sua forma grotesca. A bruma fria ao redor do ser ondulava como se fosse parte dele, e o ar ao redor ficou ainda mais gelado, cada respiração trêmula de Devon soltando vapor.
Devon tentou recuar, mas seus pés pareciam grudados ao chão molhado. Um frio paralisante começou a se espalhar por seu corpo, como se estivesse sendo congelado de dentro para fora. Uma força invisível parecia mantê-lo preso, incapaz de se mover ou gritar. A figura falou, e sua voz soou como um sussurro vindo de todas as direções ao mesmo tempo.
— Venha, pequeno... você não quer mais sentir frio, não é?
Devon sentiu o desespero subir em sua garganta. — Por favor... me deixa ir... — implorou, a voz quase se desfazendo.
A figura ergueu uma maleta que parecia se distender de forma impossível, como se dentro dela houvesse algo vivo, pulsante e faminto. Quando a maleta se abriu com um estalo sinistro, Devon viu sombras retorcidas se agitando lá dentro, serpenteando como serpentes sedentas de sangue. Uma força invisível o puxava para frente, arrastando-o em direção à escuridão.
Quando os tentáculos sombrios emergiram da maleta, eles o envolveram com uma força esmagadora, apertando seu corpo. Devon tentou se soltar, gritando em desespero enquanto sentia ossos se partirem sob a pressão crescente. A dor foi tão intensa que parecia rasgar sua mente em pedaços, e cada tentativa de se debater resultava em mais agonia. O garoto clamou por seus pais em meio aos gritos de dor, mas sua voz se perdeu no som ensurdecedor da chuva.
A criatura observava impassível enquanto Devon era lentamente arrastado para dentro da maleta, o sorriso grotesco permanecendo inalterado em seu rosto. O garoto sentiu o ar ser arrancado de seus pulmões enquanto a escuridão o consumia, os tentáculos esmagando seus músculos e rompendo sua pele. Dentro daquele vazio, onde o tempo e o espaço se distorciam, a fome implacável da criatura se alimentava de sua dor.
A última coisa que Devon viu foi o olhar frio e distante daquele ser, e o vazio absoluto que parecia se estender para além de qualquer compreensão humana. Então, tudo se apagou.
Quando a figura abaixou a maleta e se virou, a rua voltou ao seu estado silencioso. Na manhã seguinte, apenas uma poça de água suja e sangue restava, enquanto o nome de Devon se tornava mais um na lista crescente de desaparecidos de Kingsport.

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Departamento Anômalo - A Ruptura
خارق للطبيعةNa moderna e vibrante cidade de Kingsport, estranhos desaparecimentos deixam um rastro de mistério e pavor. Convocado para investigar, Victor G, um investigador da Divisão de Reconhecimento do enigmático Departamento Anômalo, é lançado em uma missão...