El Dorado (A Lenda da Terra de Ouro)

O Livro.

Mais uma vez em um dia ensolarado eu estava aqui, na mesma floresta. Porque a insuportável da minha irmã mais nova quer aprender a lutar, Novaria tinha 17 anos e eu já tinha 23, mas isso não era o mais importante, perdemos nossos pais quando éramos crianças. Perderam suas vidas em um ataque a nossa vila, felizmente eles conseguiram nos esconder no porão e ninguém foi lá, quando finalmente saímos do porão, apenas encontramos os corpos sem vida dos nossos pais, aquilo causou traumas em nós para toda a vida e então eu passei a cuidar dele, eu tinha medo disso acontecer novamente, afinal o novo rei era um tirano e seus guardas eram mais tiranos ainda. Simplesmente nós tínhamos horários para tudo, não podia andar na rua até as 22:00 horas, não podia ter filhos sem se casar, não podia visitar outra vila depois das 15:00 horas e por último... não podia nem sequer pensar algo ruim sobre o rei. Era estritamente proibido falar mal do rei, espalhar boatos ou falar em seu nome, era apenas "Vossa Majestade" e olhe lá! Mas a verdade era que ninguém sabia seu nome e por isso ninguém dizia, apenas seus familiares sabiam. Eu e Novaria usamos espadas em nosso treino, ela estava ficando bem habilidosa e já chegou a me cortar algumas vezes, nós sempre lutávamos a sério como se quisesse matar um ao outro, afinal para viver aqui em Palatis tinha que saber se defender. O rei proibia muitas coisas, mas os ladrões e outros criminosos viviam fazendo o que queriam e nada acontecia, viver nesse lugar parecia um inferno! E infelizmente eu tive que aprender a me defender, como minha irmã teve o azar de nascer mulher, ela mais do que ninguém devia aprender a usar uma espada. Antes de nossos pais morrerem, minha mãe sempre me dizia que eu devia protegê-la de qualquer coisa, eu prometi que faria isso e estava cumprindo, não podia negar... eu sentia muito sua falta, ver seu corpo sem vida com uma marca de espada no peito, foi terrível. Essa imagem nunca sairia da minha mente e creio que de Novaria também não, sempre evitei falar sobre isso com ela pois sabia como iria reagir, tentaria fugir da conversa e ficaria com um olhar vazio.

Mas ela não se deixou abalar, Novaria era forte e sempre demostrou isso para todos, principalmente para mim. Ela também tinha uma paixão pela música e eu amava ouvir sua voz, já me arrisquei a cantar como ela, mas foi um fracasso. Sempre que pensava na minha irmã eu lembrava da mamãe, elas eram muito parecidas na forma de falar e também de agir, vou sentir falta dela eternamente. Eu sempre desejei me vingar, mas não fazia ideia de quem invadiu a vila naquele dia e nem quem foi o mandante. Mas eu desejava saber, para que finalmente eu pudesse me vingar daqueles desgraçados! Voltando a minha irmã e eu, nós terminamos o treino cedo e decidimos voltar para cama, morria de fome e tenho certeza que ela também. O caminho até em casa foi bem tranquilo, os guardas do rei não estavam por perto, então ninguém nos incomodou até chegar em casa. Ao chegar, colocamos nossas espadas em cima da mesa da cozinha, Novaria abriu todos os potes e procurou em todos os lugares da cozinha algo para comer, bufou e chutou a mesa em protesto por não encontrar nada.

"Estevan! Não tem nada nessa casa!"

Ela esbravejava, eu ria vendo ela tão irritada com fome, nós realmente ficamos tanto tempo treinando que deixamos a feira de lado, tínhamos que comprar verduras e carnes, mas eu ainda não tinha recebido o pagamento. Trabalhava com o ferreiro da vila, ele fazia espadas e outros equipamentos para a guarda do rei, eu só não entendia como um rei tão rico preferia que nós, os pobres, fizesse suas armas. Eu não podia negar, quando pensava nesse rei sempre imaginava como ele seria, eu nunca o vi! Na verdade ninguém da vila o viu, apenas os guardas que viviam por aqui pegando os equipamentos para o rei, ele nunca pisaria em um lugar como esse também. Um sentimento dúbio sempre surgia quando pensava nele. Deixei esses meus pensamentos de lado e me joguei no sofá, minha barrigava roncava de fome, mas infelizmente ainda demoraria a ter alguma moeda de prata.

"Vai ficar jogado ai até quando? Ande, vai arrumar algo para nós comermos."

Fui surpreendido por Novaria, parecia bastante brava e reclamava, desferindo alguns tapas em meus pés. Eu não tinha nenhuma moeda, mas lembrei que podia pescar alguns peixes para nós, me levantei do sofá e fui procurar pelos equipamentos de pesca. O problema seria achar umas iscas, provavelmente teria que caçar minhocas no meio da terra, enquanto eu procurava as varas de pescar notei o olhar de Novaria sobre mim, tentando entender o que eu estava procurando que nem um louco pela casa. Abri um baú que estava no canto da sala e achei as varas ali, dei um largo sorriso pegando as mesmas, mostrei para ela que também sorriu entendendo o que iriámos fazer, saímos de casa animados para pescar no lago. Onde treinávamos tinha um belo lago com vários peixes, assim que chegamos lá tratamos de procurar uma terra boa com minhocas, coloquei a vara de pescar no chão e fui entrando por dentro da floresta. Achei uma parte preta da terra que parecia ter os bichinhos ali, fui me abaixar mas acabei escorregando em um galho, foi tudo tão rápido que pensei que tinha caído em um buraco, saí rolando por um barranco e caí dentro de uma caverna. Eu vim aqui muitas vezes e nunca vi esse lugar! Ouvi pela voz da minha irmã, provavelmente ela ouviu o barulho e veio atrás para saber o que houve, me levantei e bati a cabeça em algo que caiu no chão, reclamei da dor passando a mão onde minha cabeça foi atingida.