01. Everlong

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" Hello

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" Hello. I've waited here
For you, Everlong "

Eu não estava pronta para voltar pra casa, minha nova casa. Não estava pronta para encarar meu pai de novo e ter de volta em minha vida todo o drama do karatê, a coisa pela qual uniu meus pais em matrimônio, e também, tragicamente os separou.

Desde que nasci, os princípios ensinados em casa afirmavam sobre lealdade e fidelidade, segurança e proteção, mas onde ele esteve quando as coisas começaram a se tornar mais difíceis? Onde meu pai esteve? E acreditar que agora, depois de anos negligenciando a mim e a minha mãe, tudo poderia se resolver num passe de mágica, realmente soa como uma piada.

˚  𝜗𝜚˚

Marietta de longe é o sonho de qualquer garota. Apesar de ser na Califórnia, tudo por aqui é como um constante fantasma, já que a cidade tem crescido em fama graças aos torneios de karatê. Meu pai, junto com um antigo rival, abriu um dojô, e ouvi durante todo o caminho ao telefone, sobre como voltar ao karatê me faria aliviar as pressões externas.

Aliviar o fato de que perdi minha mãe? Não parece promissor.

O táxi me deixou em uma casa situada em um bairro que é nobre por aqui. Meu pai sempre foi alguém íntegro, e bem sucedido em seus projetos, mas não poderia imaginar que abrir uma escolinha de karatê lhe traria resultados tão lucrativos.

Peguei toda minha bagagem, sentindo o peito apertado. Eu enfim, iria revê-lo depois de nove anos. Há um misto de raiva e medo inundando meu peito, mas a única pessoa a temer esse reencontro, é ele, a pessoa que deu às costas para mim, quando tudo começou a desabar. Não sei quanto tempo vai demorar até que essa ferida feche, mas definitivamente, não prevejo um perdão tão brevemente.

Assim que toquei a campainha da porta de madeira, quem abrira fora surpreendentemente uma garota. Seus olhos azuis me encaravam com uma nítida confusão. Não é possível que meu pai tenha se casado de novo, certo? Apesar de todos seus erros, suas únicas palavras que foram certeiras para mim, foram as de que sempre amaria minha mãe, e que jamais a substituiria.

— Oi... — Ela disse, olhando atrás de mim, como se esperasse mais alguém — Meu pai não avisou que tinha visitas, você...

— Pai? — Perguntei, quase rindo indignadamente — Ele se casou de novo, então. Ótimo, além de negligente, é traidor.

— Olha, eu não sei exatamente do que você está falando...

— Filha, quem está na porta? — Uma voz masculina ressoou atrás dela, e eu me esgueirei para vê-lo, mas assim que ele se aproximou da porta, pisquei algumas vezes. Não era meu pai. — Espera, você é...

— Jean — Afirmei a um fio de voz, tentando assimilar tudo o que estava acontecendo em uma pequena fração de segundos — Jean Toguchi. E você seria?

— Eu sou Daniel... — Ele parecia perplexo. Será que eu estava na casa certa? Fora o exato endereço que ele me mandou por mensagem — Seu pai ainda não está aqui. Por favor, entre.

˚  𝜗𝜚˚

— Então está me dizendo que ele mora aqui de favor? — Solto uma risadinha nervosa e passo as mãos em meus cabelos. Só pode ser brincadeira — Sem pagar aluguel nem nada?

— Jean, o seu pai é um homem muito honrado — Larusso explicou, havia ainda um pouco de confusão em sua expressão —, e ele é um grande amigo que me ajudou muito, então ele é mais que bem-vindo aqui, assim como você!

— Eu não... Não quero ser um incômodo — Afirmei, me levantando. Eu não poderia viver na casa de alguém que mal conheço sem ao menos pagá-lo, isso seria invasivo e desrespeitoso.

— Tem um quarto de visitas que está vago... — A garota disse, tentando ser gentil — Não pode ficar dormindo debaixo da ponte, certo? Seu pai é da família, então você também é.

Família. Eu nunca soube a real definição disso, enquanto eles, parecem ser a exemplificação perfeita da palavra.

— Eu vou conseguir um emprego — Disse firmemente, voltando a me sentar no sofá — Agradeço sua bondade, senhor Larusso, mas de onde venho, seria falta de educação ficar aqui sem qualquer tipo de retribuição. Meu pai te ajuda com o dojô, e eu posso ajudar nas tarefas domiciliares e te pagar um aluguel.

— Olha, não precisa de tanto, está bem? — Ele gesticulou com as mãos, balançando a cabeça positivamente e apertando os lábios, aparentemente, pensando no que dizer — Que tal se você entrar para o meu dojô? Estamos recrutando novos alunos para o torneio, precisamos de duas meninas para a categoria feminina. Já seria o suficiente para nos retribuir esse favor, e eu soube que é muito boa no karatê.

— Bem, eu... Aceito, claro.

Ele sorriu em resposta, levantando os dois polegares, em um gesto positivo. Eu abri um sorrisinho nervoso e ri baixo. Tudo o que eu menos queria era me meter com o karatê de novo. Ele foi a razão do divórcio de meus pais, a razão dele ter ido embora sem previsão de volta, e acho que uma das razões de eu estar aqui agora, mas não posso, não posso simplesmente aceitar viver aqui como uma sanguessuga, e se é sua única sugestão, me vejo na obrigação de aceitar.

Ouço o barulho da porta se abrir e uma voz que parecia bastante familiar, alertando de sua chegada. Eu me levantei no mesmo momento, caminhando na direção da entrada, quando enfim, nossos olhos se encontraram, eu senti um forte aperto no peito, e uma vontade angustiante de chorar. Nove anos é muita coisa, e acho que ambos carregamos uma dor que não pode ser simplesmente apagada. Ele me encarou com surpresa e tristeza, ao mesmo tempo, sua boca se abriu, mas não conseguiu formular uma palavra, então deu alguns passos até mim, hesitante em se aproximar mais.

— Filha.

Obra autoral ©

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𝗙𝗢𝗢𝗟 𝗙𝗜𝗚𝗛𝗧𝗘𝗥𝗦 ✶ 𝖬𝗂𝗀𝗎𝖾𝗅 𝖣𝗂𝖺𝗓 [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora