Prólogo

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~~ La Push 10 anos atrás


A voz gentil da minha avó me tira dos meus pensamentos em relação ao desenho que eu estava fazendo, deixo o lápis de cor verde sobre o desenho incompleto e saio do meu quarto caminhando até a cozinha onde vovó Carmen está mexendo algum tipo de caldo no fogão, o cheiro pelo cômodo é tão gostoso que fico ansiosa para experimentar o que ela está fazendo.

- Oi vovó. - Caminho até estar próxima o suficiente para abraçar sua cintura e apoiar minha testa em suas costas como fazia todos os dias, eu amava o cheirinho de biscoitos que ela tinha, nós sempre tínhamos vividos juntas e saber que daqui a pouco tempo não vou mais acordar e encontrar com ela na cozinha tem me feito chorar a noite, mamãe falou que eu devia parar com isso, que deixava o papai chateado por se sentir culpado de estar nos afastando, que uma proposta de emprego era algo grande e que eu ainda não tinha idade para entender, eu entendia muito bem que isso significava mais dinheiro, uma vida melhor meus pais falaram, mas eu não conseguia entender como a vida podia ser melhor que isso, eles não eram felizes aqui? Tudo que eu conheço na vida é La Push, aqui é minha casa, eu conheço todo mundo e sou feliz vivendo aqui, não quero partir.

- Coelhinha da vovó, me ajuda com uma coisa? - A voz suave dela afasta os pensamentos e sentimentos ruins, com um sorriso concordo acenando com a cabeça.

- Vai até a casa da Allison e leva aquele pote de bolinhos para mim? São para agradecer a torta que ela nos fez querida. - Sua mão faz um carinho leve no topo da minha cabeça, ela me olha sorrindo antes de voltar a dar atenção ao fogão, deixo um beijo em sua bochecha antes de me afastar e pegar o pote em cima da mesa, hoje não está chovendo, então não preciso vestir a capa de chuva e acabo não colocando o casaco por pura preguiça, saio de casa, o dia está nublado como sempre é por aqui, mas eu gosto, o cheiro do musgo no chão, a terra molhada, o vento trazendo a maresia da praia, eu já tinha ido a casa da amiga de vovó um milhão de vezes e eu adorava a forma como ela me tratava com carinho e sempre me fazia doces e pulseiras e colares artesanais, ela me ensinou a fazer alguns uma vez, a mamãe não tinha gostado do que dei para ela, a pulseira sumiu no dia seguinte, nunca a vi usando, mas vovó e dona Allison ainda usavam as que fiz para elas, até mesmo Sam, filho dela usava a pulseira de couro que tinha feito para ele com a ajuda de sua mãe, chego na frente da casa cor laranja, a pintura estava sempre descascando e dona Allison sempre fazia o Sam pintar, ela gostava de deixar a casa arrumada, bato na porta de tela e aguardo, algum tempo depois a porta da casa se abre revelando a dona da mesma.

- Querida, oi, entra. - Dona Allison abre a porta de tela com um sorriso contagiante e me dá espaço para entrar, a casa estava quentinha e acolhedora como sempre.

- Oi senhora Uley, boa tarde, a vovó me mandou. - Sorrio para ela e balanço o pote na sua direção.

- Ah Carmen é impossível! Eu disse que não precisava fazer nada, você coloca na cozinha pra mim querida? Em cima do balcão está ótimo, preciso deixar essas roupas no quarto e já volto. - Só reparo nas peças de roupas em seus braços quando ela diz, confirmo com um aceno e ela me dá uma piscadinha antes de dar meia volta e ir pelo longo corredor até o seu quarto, entro na sala completamente e mais afastado está a mesa de jantar e a ilha da cozinha, sentado a mesa de jantar com alguns livros em volta Sam está concentrando estudando.

- Oi garotinha. - Ele me cumprimenta sem tirar os olhos do que escreve, caminho até o balcão deixando o pote lá.

- Oi Sam. - Não falo mais que isso, não quero distraí-lo, apenas observo, Sam era um cara legal que sempre me tratou com carinho, como se eu fosse sua irmã mais nova, as vezes ele me levava ao cinema para ver algum desenho de tarde, comprava pipoca e refrigerante e não parecia se aborrecer com as milhares de perguntas que eu fazia o tempo todo, mas ele já é um adulto e acho que estava meio que de namoro com uma das meninas da nossa comunidade, fora que ele estava focado nos estudos então as idas ao cinema diminuíram drasticamente no último ano, não podia culpá-lo, sorrindo para sua dedicação vou até cozinha e coloco uma xícara de café, alcanço um pratinho e abro o pote que trouxe tirando um dos bolinhos da vovó, coloco no prato e caminho de volta para Sam na mesa, onde deixo a caneca fumegante e o prato, caminho em direção a porta para ir embora.

- Obrigada garotinha, que tal eu te levar ao cinema semana que vem, acho que vi um desenho legal em cartaz. - Ele agora olha para mim sorrindo, bebe um pouco do seu café enquanto espera minha resposta, eu queria dizer sim, alto e feliz, e isso também significaria que eu não teria que ir embora e nem deixar as pessoas que eu amo para trás, mas essa opção não existe, então engulo o choro como posso e tento sorrir para ele.

- Eu vou embora na terça. - A frase saí meio baixa pelo choro que ameaça irromper pela minha garganta.

- Achei que vocês só iriam no ano que vem. - Ele me olha pensativo por um tempo.

- O patrão do papai ligou, querem ele lá o mais rápido possível, então vamos embora. - Olho para baixo, encaro as minha galochas vermelhas, para onde eu ia não ia precisar delas mais, uma lágrima teimosa desce por minha bochecha, sou rápida em limpá-la, sinto quando um tecido grosso e cheiroso é posto em cima dos meus ombros, quando levanto os olhos Sam está na minha frente sorrindo gentil, um dos seus casacos está sobre mim e eu não tinha reparado estar com frio até a quentura reconfortante me atingir, ele acaricia meus cabelos e ajusta a peça grande demais no meu corpo, em seguida se agacha na minha frente e envolve meu corpo num abraço carinhoso.

- Vai ficar tudo bem, você é uma garotinha corajosa, a mais durona que já conheci. - Rindo o abraço de volta e deixo os medos para depois, por agora eu ainda estava aqui, ainda tinha todas as pessoas que eu amo perto de mim e quem sabe um milagre pudesse acontecer para me fazer permanecer aqui para sempre, é o que eu desejo.


Maktub | SAM ULEYOnde histórias criam vida. Descubra agora