Capítulo 1 - Mia Lopez

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Acordei cedo, como sempre, para os barulhos de La Cruz Blanca, dormir até um pouco mais era impossível. Esse era o bairro onde cresci, onde minha mãe, meus irmãos e até alguns anos atrás, meu pai eu tentávamos sobreviver, era simples, barulhento com motos e carros circulando todos os minutos.

A maioria das casas era feita de tijolos e madeira improvisada, com paredes que pareciam desmoronar a cada chuva forte. Mas a minha casa, mesmo com os tijolos rachados e o teto que gotejava quando chovia, se mantinha de pé, com suas cores coloridas.

Minha mãe, Guadalupe, estava na cozinha, como sempre, preparando o café da manhã, embora estivesse cada vez mais fraca e debilitada. O câncer que a consumia não dava trégua, mas ela insistia em fazer o que podia. “Para vocês não perderem o apetite”, ela dizia com um sorriso. Eu sabia que a saúde dela estava piorando, e cada dia era um teste para saber quanto mais ela conseguiria aguentar.

Ela é a mulher mais forte que eu conhecia, depois que meu pai nos abandonou, alguns meses depois que minha irmã mais nova nasceu, ela batalhou para que eu conseguisse terminar os estudos na escola, e tivéssemos o que comer.

O câncer no fígado foi descoberto recentemente, o tratamento era caro, o bairro era escasso em saúde e sempre ela tinha que ir para o centro.

Enquanto eu, a irmã mais velha, trabalhava e cuidava das coisas do meu jeito.

— Bom dia, mãe! — disse, tentando esconder a preocupação que transbordava em meus olhos.

— Bom dia, minha filha. Como dormiu? — perguntou, com uma voz rouca.

— Bem...

— Théo e Ângela estão lá fora, queriam te acordar, mas eu não deixei. — Sorriu.

— Que bom para a sorte deles.

Théo, meu irmão de quinze anos, estava em sua fase de adolescente rebelde. Sempre perguntava se ele estava estudando, mas ele preferia passar o tempo com seus amigos andando de bicicleta ou no sofá dormindo, ignorando as responsabilidades. E a Ângela, com seus oito anos, ainda tinha aquela energia contagiante, sempre curiosa e sempre me pedindo para brincar com ela. Eu adorava os dois, apesar de saber que a responsabilidade de sustentar nossa casa pesava mais sobre mim do que sobre eles.

Ao sair para o quintal de terra, encontrei os dois brincando. Théo estava tentando ensinar Ângela a andar de bicicleta, o que causava mais risos do que progresso, já que a bicicleta era extremamente fora do tamanho de Ângela.

— Vai, Angel, pedala! Isso, agora! — Théo incentivava, enquanto a pequena girava a bicicleta em círculos.

— Cuidado, Théo, senão ela vai cair! — brinquei, rindo.

— Não se preocupe, Mia, ela está aprendendo, e não vai machucar nada. — respondeu, com um sorriso irônico, como se fosse sempre o sábio da casa.

— Vem, o café está pronto. — Adentramos para dentro de casa.

Após o café, fizemos uma limpeza na casa. Apesar de ser domingo, sabia que não podia deixar para depois. A cada mês, as dívidas aumentavam, e a cada dia minha mãe ficava mais debilitada, consequentemente eu ficava mais tempo fora de casa.

As tarefas da casa ficavam sobre mim, e eu não reclamava disso, vez ou outra, Josefa, a viúva que morava em algumas casas abaixo, sempre me ajudava, mas hoje era o dia de eu ajudá-la.

Ela não tinha filhos e vivia sozinha desde a morte do marido na guerra do cartel contra a polícia. Ele morreu em um confronto, e desde então, Josefa só vivia de lembranças e da dor da perda. Mas ela não se importava de me pagar uma quantia simbólica para que eu limpasse sua casa.

CONTRATADA PELO DONO DO CARTEL - SINALOA 1Onde histórias criam vida. Descubra agora