Londres.

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AQUI ESTOU, HÁ DIAS ENFRENTANDO O BALANÇO INCESSANTE DESTE BARCO, envolta em um ar salgado que parece se impregnar na pele e nas roupas

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AQUI ESTOU, HÁ DIAS ENFRENTANDO O BALANÇO INCESSANTE DESTE BARCO, envolta em um ar salgado que parece se impregnar na pele e nas roupas. Não há nada que deteste mais do que estas viagens. O som das ondas, que outrora eu poderia ter achado reconfortante, tornou-se uma constante lembrança de minha fragilidade diante do mundo. Mas não me permito ceder ao desânimo — afinal, esta jornada é necessária.

Matthieu, finalmente, parece ter compreendido a gravidade da situação. Talvez tenha demorado para ele aceitar que sua irmãzinha se tornara mais uma peça no jogo implacável dos nobres, uma isca atraente para aqueles infelizes cujo único objetivo é acumular poder e prestígio. A notícia da morte de nossos pais o atingiu com força, e, embora a distância e suas responsabilidades o impeçam de vir pessoalmente, ele prontificou-se a enviar alguns empregados confiáveis da propriedade onde reside para buscar-me. Por isso, apesar de todo o desconforto, sou grata.

Enquanto observo o horizonte indistinto, um dos empregados aproxima-se com passos hesitantes. Era Henri, o mais velho entre eles, com mãos calejadas e uma expressão que oscilava entre preocupação e respeito.

— Mademoiselle Ava, perdoe-me a interrupção, mas trouxe-lhe algo quente. — Ele ergueu uma bandeja com uma tigela fumegante e uma caneca de chá.

Aceitei o gesto com um aceno de cabeça, mas não pude evitar um sorriso tímido. Henri era um dos mais antigos empregados da família Leblanc, e eu sabia que, apesar de sua aparência rude, ele tinha um coração gentil.

— Obrigada, Henri. Imagino que estas viagens não sejam mais fáceis para você do que para mim.

Ele soltou uma risada baixa, quase como um grunhido.

— Não é o meu primeiro barco, mademoiselle. Mas devo dizer que, com a idade, o mar se torna menos generoso.

Sorri novamente, desta vez com mais sinceridade, enquanto ele se afastava com uma reverência discreta. Ao longe, ouvi a voz animada de Claire, a jovem criada que também fazia parte do grupo. Ela era o oposto de Henri: cheia de energia, com olhos brilhantes e uma língua afiada que às vezes escapava de sua condição de serviçal.

— Não posso acreditar que a senhorita não tenha tentado nem uma vez se inclinar sobre a borda! — Claire exclamou enquanto se aproximava, equilibrando-se no convés com a leveza de quem parecia imune ao balanço do mar. — Dizem que olhar para as ondas ajuda a aliviar o enjoo.

— E você acredita em todas as superstições que ouve? — retruquei, arqueando uma sobrancelha.

Claire riu, despreocupada, enquanto se sentava ao meu lado, claramente desconsiderando as formalidades.

— Talvez. Mas tenho certeza de que o mar não é tão terrível quanto o que espera por você, mademoiselle.

O comentário, embora dito de forma casual, fez meu coração apertar. Claire percebeu meu desconforto e rapidamente mudou de assunto.

Veil of Nobility - Ava Leblanc Onde histórias criam vida. Descubra agora