Fanthy.

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Era
Uma
Vez...

Numa floresta escondida, esquecida pelo tempo onde a luz lutava para transpassar as enormes árvores que corriam o caminho até a cachoeira que antes, jorrava vida, e agora era apenas um penhasco vazio de limo e espinhos. Era lá que um pequeno vulto se escondia do mundo. Pingos de sangue marcavam sua passagem na relva verde, a cauda quase demoníaca mas ainda animal, a pele prateada, rastejando com a leveza de um fantasma e mesmo assim manchando seu alvo traje e grandes asas ao se mover pela terra.
  O tempo sempre guarda lendas, e essa espalhou-se como uma sombra, por todo o mundo se perguntavam, seria uma criatura? uma bruxa? um...                                                 Demônio? ou... fantasma? Ninguém jamais poderia descobrir, a mata não era só densa pelos seus arbustos e árvores, por seus animais famintos e caminhos tortos... espinhos da grossura de baobás se erguiam... um a cada dia. Formando um labirinto quase intransitável... como se... a floresta tentasse proteger aquela coisa... a qualquer custo.
   Uma pena, a curiosidade dos mortais sempre foi difícil de ser inibida, e finalmente, em um dia claro onde o céu não tinha sinal de nuvens e sol parecia tão curioso quanto a humanidade, dois amigos finalmente entraram naquele estranho e bizarro cenário verde. Não existia mais o azul no céu, apenas a lama em seus pés e um rastro vermelho amarronzado na trilha... 
- Isso parece a pior ideia que já tivemos na nossas vidas.- Disse o primeiro que carregava um machado.
- Me parece um cenário digno para arrancar a cabeça de uma bruxa.- disse o segundo segurando um facão. 
  Jamais. Ao seguir o caminho ouviram a frente... Folhas... passos, passos, passos... Corvo... Pararam de seguir. Mal presságio? 
- Deveríamos voltar...- Falou relutante o primeiro. Então, no meio do silêncio da indecisão...
                                                                                   Um choro. 
-Tem mais alguém aqui? - Se perguntou o segundo pensando que uma criança poderia ter se perdido naquele lugar.
Os dois seguiram o som dos soluços na mata, o mais rápido que podiam sem se preocupar com o possível cansaço, a sede ou a fome. A curiosidade era maior que tudo isso.
    Finalmente após um longo caminho encontraram um lago, onde havia uma moça de cabelos loiros na outra margem... curvada em si com as mãos no rosto....em prantos. 
 A mata parecia se fechar ao redor, rodeando como se até as arvores observassem seus movimentos, e uma atmosfera fantasmagórica se erguia na água turva. 
 Nenhum dos dois teve a menor coragem de soltar sequer um suspiro. 
 E por segundos, criou-se um novo conceito de hora, demorando... demorando.... demoran..do demo.... O segundo soltou a respiração antes que desmaia-se quase roxo.
  A mulher, ergueu a cabeça ainda virada de costas para o rio e eles, então ergueu os braços em sinal de questionamento, mostrando as mangas sujas de um líquido escuro... e as mãos...sangrando.
- Vocês....- ela deu uma risada.- Vieram me salvar?
O silêncio mortal... foi quebrado de forma rápida e estranhamente corajosa pelo segundo.
- Não. Viemos descobrir o que é você.
O primeiro queria chuta-lo mas estava paralisado, nunca sentiu tanto medo em sua vida como naquele momento.
- Curioso... perdido na própria ambição... me traz lembranças. - E com seus olhos ainda fechados virou-se, ao revelar um grande rasgo sangrando em seu peito e seu rosto manchado lacrimosamente por um líquido escuro... 
O primeiro, já havia desistido de qualquer que fosse sua primeira ideia, aquilo era surreal demais para um simples camponês. 
Já o segundo...
- BRUXA! Corrompida pelo diabo pensa que terei alguma pena dessa sua falsa monstruosidade?!
Cometeu um erro... 
Se armou contra a criatura, gritando como um selvagem se preparou para atacar.
- Ah... Agora eu compreendo sua burrice. - disse ela abrindo os olhos, vazios. Apenas leves pupilas vermelhas vagavam no vazio escuro que escorria deles. 
Ainda possuía o medo, mas o ódio lhe era maior, seus pés correram na direção daquela coisa sem alma, passando pelo lago..."seco? ".. até a outra margem encostando a lâmina em seu pescoço. 
Tão rápido quando a luz podia deixar enxergar, ela se moveu para o outro lado, assustado, ainda tentou de todas as formas acertar, rodando, investindo, sempre parando contra o nada, apenas sentindo o vulto brincar com seus olhos.
Para a fantasma...Sua diversão estava acabando...Uma pena. Hora de fazer seu serviço... 
Uma última tentativa contra o rosto, o passo falso quase o faz cair completamente mas se segura fincando a faca no chão. 
 Aquele lugar, parecia pior agora, o rio não existia e a vida havia sido engolida.Sem sons, murchando as árvores próximas. 
- Pequeno pedaço de carne. Bem vindo ao além.
O fantasma emplumou suas asas altas, escorrendo de si sempre o vermelho de seu próprio sangue, o negro e a corrupção de seus olhos. Olhou-o no fundos dos olhos, como se julgasse sua alma, prendeu o rosto dele com uma mão e virou sua cabeça para o amigo.
- Qual suas últimas palavras para seu companheiro? - Aquela coisa preta escorria para o chão formando um caminho até o primeiro, estava estático, sentindo o líquido subir por seu corpo...
O segundo sequer pensou em algo, viu seu amigo explodir em sua frente... como se fosse apenas um bolo de carne e ossos reduzido a uma montoeira de nojo e sangue.
Ela voltou a olhar para ele, preso ao chão pela mesma coisa... teria o mesmo fim? 
 -Jamais.- Ela sussurrou.
E como uma criança travessa que gosta de destruir seus brinquedos, começou a desmembrar o segundo. 
Um pé, Uma mão, 
outro,
outro,
uma perna,
um braço,
outro...
outro... 
Ali ele ainda estava vivo, ela poderia mantê-lo entre o véu da mortalidade e do espírito por quanto tempo quisesse... Mas ele já deveria ter aprendido...
- de..dem..onio..-  Gaguejou em meio a dor
Não... ele infelizmente não iria aprender.
- Não. Eu não vão visita-lo no inferno. 
E como uma verdadeira assombração seu rosto se deformou mais e mais junto das asas se erguendo, e os olhos... enormes... pretos...vermelhos  
Partiu indo em direção a cabeça atravessar desmoldada o rosto e mostrar o pior dos monstros. 
Parou de costas para o segundo.
E ele mesmo, ouviu seu pescoço ceder. 
Aquela corda líquida esmagando, pele e ossos .... rompendo ele da vida. 
           
            Talvez, a floresta não quisesse proteger alguém do mundo.
                            As vezes é o mundo que precisa ser protegido.

Cá estamos, eras e eras, já não existe mais floresta, mas ela ainda vaga por aí, antigamente punindo apenas os que perturbavam sua paz, acontece... que agora, a eternidade deu-lhe tempo para decidir seu propósito, arrastando suas asas, com seu rastro de sangue e corrupção, ela vaga aguardando o próximo da lista para cumprir seu serviço. 
Seja ele bom ou mal, o primeiro erro, é morte certa.


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⏰ Última atualização: 4 days ago ⏰

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