Se necessário matarei os dois

2 0 0
                                    

Meus passos cautelosos se arrastavam no corredor vazio, a luz que preenchia o quarto frio era cinza ou talvez apenas refletia o cinza das paredes. A luz fraca impossibilitava-me de enxergar o que havia na minha frente porém era eficaz o suficiente pra iluminar os corpos caídos aos meus pés.—Parece que alguém já passou por aqui—Suspirei soprando um fio de cabelo que caia em meu rosto—, não fará diferença, se for preciso eu matarei os dois.Segui meu caminho, tateando as paredes para me orientar. A cada passo que dava a luz parecia enfraquecer e o lugar ficava mais precário.—Por que Charlatões sempre escolhem lugares escuros para efetuar suas atividades?Olhava para o lado, afinal não faria diferença olhar para o lado ou para frente, dificilmente enxergaria alguma coisa precisamente.—Provavelmente eles não querem que seus rostos sejam identificados enquanto fazem coisas ilegais. Bem, eu não preciso identificar o rosto de um morto de qualquer forma.Finalmente aquele corredor acabou e eu me encontrei onde eu supus que era o salão principal. Era uma sala ampla de paredes brancas, a luz estava um pouco mais forte que antes mas não o suficiente para iluminar a sala inteira. Mas meus olhos não demoraram muito no aspecto da sala, eles logo se viraram para os dois homens que estava em um canto da sala. Um deles tinha cabelos vermelhos, usava um colete sobre uma camisa social branca e uma gravata. Parecia segurar um relogio na mão que estava esticada no chão. O outro tinha um porte fisico um pouco melhor que o que estava caido no chão—Talvez ele entretenha-me um pouco mais que o outro—, meus olhos o analisavam de cima abaixo, não parecia estar ferido mas sua blusa preta estava toda manchada de sangue. Estava reenclinado sobre o homem caído. Pow! O barulho repentino fez meus olhos se arregalharem, minha mão repousou automaticamente na faca embainhada no coldre na minha perna.O cara de blusa preta tinha golpeado o outro bem no estômago, o que estava caído começou a cuspir sangue.Mexi minha boca pronunciando palavras quase inaudiveis.—Que movimento estupido, seria mais prático mata-ló com uma faca, iria agilizar o processo e não faria tanto estardalhaço. Antes de agir olhei de relança para o rosto do de blusa preta, ele tinha cabelos pretos que caiam desgrenhados sobre o seu rosto, seus olhos negros que estavam fixasados no moço caído que se desviaram por um momento na minha direção— eu reconheci a sensação de ter aquele olhar sobre mim—.Ele não se demorou muito no mesmo e logo voltou a encarar o homem que sangrava. Desembainei a faca que estava escondida um pouco embaixo da fenda do meu vestido, puxei ela para minha frente, pousei meus olhos diretamente na ponta da faca, e num movimento agil a lancei. Ela caiu fincada no chão do lado de Vitor e do charlatão. —Eu falei que o serviço de lidar com esse homem era meu, você não deveria ter interferido.— falei ajeitando minha luva e andando devagar até o local onde estavam. Vitor se virou e eu pude ver melhor seu rosto todo manchado de sangue.—Mil perdões, minha flor de sangue. Não forá minha intenção me meter nos seus assuntos.Seu tom de voz era arrogante, o sorriso que se formou em seu rosto era um convite para o caos, um jogo perigoso. Os olhos negros fixos em mim eram como lâminas afiadas, sempre prontos para cortar.Ele se levantou, os braços erguidos, seus olhos cheios de um certo brilho travesso.—Todavia se a bela dama quiser pode finalizar o serviço. Prossegui avançando para o charlatão caído no chão, por fim parei um pouco distante dele. Do lado do Vitor para ser exata. Eu me manti ereta, sem nenhum movimento desnecessário. Cada gesto era ponderado e controlado, como se cada segundo fosse crucial e não pudesse dar espaço para brincadeirinhas triviais.—Que ideia ridicula foi essa de matar alguém no soco?—Eu não pretendia matá-lo no soco. Eu trouxe uma arma mas este senhor é tão presunçoso que talvez eu tenha perdido a linha.—Agora você sabe como é lidar com alguém como você— sussurei silenciosamente. —O que você disse?—Você é pago para perder a linha? Foi isso que eu falei, além disso com essa sua fraqueza sentimental você fez uma bagunça que com certeza teria atraído a policia em algum momento. Seus sorriso desapareceu e seus olhos perderam o brilho brincalhão de sempre,era como se uma pessoa que sempre é brincalhona tivesse desaparecido, substituída por alguém completamente focado ,com os olhos fixos e o semblante tão sério que tornava difícil respirar ao seu lado. Pelo menos ele tinha a capacidade de ficar serios em momentos como este. —Você tem razão, eu deveria ter sido mais cauteloso nesta situação. —Tudo bem, mas vamos focar no mais importante agora, o serviço.—Claro.—Bem, eu vou aceitar seu convite a finalizar o trabalho para você. Porém eu preciso de algo que você tem posse.—O que?— Da última vez que nos vimos você ficou com minha Katana, onde ela está?Vitor não disse uma palavra, ele apenas se dirigiu para um canto um atrás de nós, ele se curvou sobre um terno preto jogado no chão, de lá ele pegou uma katana e a trouxe até mim.—Toda sua.Estendi minha mão e peguei no cabo da minha katana que ainda estava embainhada. Puxei ela. O som dela desembainhado preenchendo meu ouvido como uma doce melodia dos anjos. A segurei com firmeza e me aproximei do homem que ainda estava caído no chão. Agora de mais de perto pude ver melhor sua face. Seu rosto estava contorcido, os lábios pálidos e os olhos arregalados corriam pela sala,como se procurassem uma forma de fugir. Que criaturinha frágil, olha de cima, parecia mais fraco do que realmente era. Ele falou, sua voz nitidamente tremula. —Por favor, não me matem! Eu não fiz nada de propósito.Tentei disfarçar o meu riso cobrindo a boca com as mão. Percebendo que não levava a sério sua fala , ele continuou parecendo ainda mais desesperado.—Se vocês me matarem Deus não os perdoará e vocês não entraram no céu,irmãos.Não pude mais contar o sorriso, deu leve risinho ainda com a mão cobrindo minha boca. Olhei fixamente em seus olhos, um sorriso desdenhoso aparecendo em meus lábios.—Se eis religioso então consegue ouvir o canto dos anjos?—Não acho que ele conseguiria ouvir o canto dos anjos quando são os demonios que estão o levando para seu descanso sem fim.Falou uma voz vindo do canto da sala, virei um pouco minha cabeça e vi Vitor encostado na parade com os bracos cruzados.—Você tem um ponto Vitor. Me virei para o moço de novo.— Então se você é tão religioso me responda uma pergunta, o seu Deus aceitaria um charlatão em seu reino? Ele nada disse.—Acho que temos uma resposta. Mas como eu sou uma pessoa boa, eu te darei o direito do perdão.Um sorriso de alivio surgiu na face do sujeito.— Te darei sete segundos para pedir perdão ao seus Deus!Falei sorrindo. O rosto do senhor murchou,o brilhos dos seus olhos se esvaindo aos poucos—Já temos uma previa de como ele será morto—, com uma expressão de desespero ele forçou-se a virar para o lado. O movimento parecia ser torturante para ele,o homem mal conseguia se sustentar sobre os cotovelos, suas pernas se arrastando-se pois não tinha força para se levantar. A sala havia sido preenchida com o barulho agoniante de seu rastejar. Abri minha mão e então abaixando dedo por dedo comecei a contar.—Um...Dois...Três...Quatro...Cinco...Seis...Sete!Ele não tinha se afastar muito neste pouco tempo, estava a uns dois passos de mim. Então me aproximei dele, girando minha katana nos meus dedos.—Que pena, parece que em vez de usar seu tempo para prezes o desperdicio com essa tentativa falha de fugir.Levantei minha katana um pouco acima da minha cabeça, meus olhos ferozes fixados no meu reflexo na lamina lamina—não era mentira que meus olhos eram impiedosos quando executava meu serviço—.Com um movimento rápido a lâmina da katana cortou o ar, seu brilho frio reluzindo antes de atingir o alvo.O impacto foi silencioso mas o som do metal perfuranfo a carne macia ecoou pela sala. O restigio de sangue do pobre senhor se espalhava pelo chão e alguns restigios pintavam o meu rosto e manchavam meu vestido. Havia sido seu fim tristemente. E nos últimos segundos que pude ouvir seu suspiro meus cabelos pretos se balançaram ao vento e quando sua respiração foi tirada dele meu cabelo parou de se mexer. Me virei para Vitor meus olhos implacaveis recaindo sobre ele, primeiro percorri seu cabelo molhado, depois seus olhos negros e meu olhar deslizou sobre seu ombro pintado de sangue. Então me lembrei de algo e apontei para o chão. —Que coisa idiota de se pensar, vir matar com um terno. —Eu vim a carater para o evento que ocorreu aqui mais cedo tinha que me infiltrar. Porém e você?—Seus olhos vagaram pelo meu vestido, parecendo perceber cada detalhe até a fenda dele onde seu olhar se demorou—,Veio com um vestido de fenda, o que pretendia?Seduzir um dos charlatões?Seus olhos se despreenderam da fenda de meu vestido e se concentraram em meus olhos.— Bem, parece que deu certo.Toquei o seu queixo suavemente.Seus olhos pareciam um pouco mais profundos agora como se fossem buracos negros que se consumiam e também tentava me arrastar para o seu profundo abismo. —Você fica linda de vermelho. -Você está bebado de novo,Vitor? —Por que estaria? Não se pode elogiar uma bela dama?—Este não é o problema. O problema é que meu vestido é preto, não vermelho.Ele estendeu uma mão, seu polegar pressionado no meu queixo. Senti um movimento súbito, o braço de Vitor envolvendo a minha cintura, ele fez um movimento cauteloso puxando-me para mais perto.O corpo dele estava próximo,quente e sólido.Um arrepio indesejado percorreu minha espinha em resposta do seu toque quente. Seus olhos que antes estavam fixados nos meus agora recaiam com um peso imaginavel nos meus lábios. Moveu a mão que estava no meu queixo e sem desviar os olhos dos meus lábios ele esfregou seu polegar na minha bochecha onde sangue escorria. Finalmente entendi o que ele quis dizer. Deslizei minha mão em seu ombro sentido os musculos tensos sobre meus dedos. —Você também fica bem de vermelho.O calor dele transpassava sua camisa e esquentava meus dedos, ele pareceia estar bem quente mas o sangue de sua camisa que escorria por entre meus dedos estava mais quente que isso.—Está confortavel, Vitor? — sussurei minha voz doce como mel.—Mais do que você pode imaginar!A boca dele se curvou em um sorriso de satisfação que tinha resquicíos de seu sorriso provocador, os lábios abrindo-se ligeramente enquanto ele ainda me mantinha cativa. Minha mão deslizou para cimaa, meus braços envolvendo o pescoço de Vitor. Ele apertou minha cintura firmemente enquanto eu descansei minha cabeça sobre seus ombros. Meus negros fios de cabelo caindo sobre sua camisa suja. Aquele liquido avermelhado grudava de leve em meu cabelo. Meus olhos fechados apenas sentinso a sensação de ter o rosto pressionado contra o ombro de Vitor. Meu peito subindo e descendo pesadamente era uma das poucas coisas que eu conseguia sentir naquele momento. Sentia cada batida do coração dele ecoando no meu próprio peito como uma batida surda.O perfume dele era um tanto amargo e parecia se misturar com o meu nos envolvendo em uma névoa de perfume.—Se você machucou alguém,Vitor...Eu não me importarei de ser o veneno que corre pelas suas veias.Depois de disse isso eu me afastei, o fitando com um olhar calmo mas um sorriso sutil e confiante sse abria em meu rosto—Você não acha que uma moça tão indefesa como eu deveria se defender de um homem estranho?Minha voz era calma como se não quisesse espantar o marasmo daquele momento.Ele inclinou a cabeça para o lado, estreitando seus olhos.—Claro que sim.Sorri mais firmemente—Que bom que temos opiniões parecidas...Minha mão tocou uma superficie fria que se encontrava no meu coldre.A sala estava silnciosa quando eu revelei o objeto de subito.Meus dedos estavam sobre o gatilho,meus olhos fixos nos de Vitor. O metal frio tocando minha pele, a ponta da pistola apontada para seu ombro.O brilho da arma refletia a luz fria da sala,como um aviso silencioso de que ele esteva a apenas um movimento de distancia da morte. Minhas mão tremiam um pouco, então Vitor deu um passo a frente segurando a minha mão tremula, seus dedos quentes me deram um choque de temperatura, ele forçou um pouco sua mão na minha mudando a mira de seu ombro para seu peito.—Atira, gatinha!—ele sorria desafiadoramente, com seus olhos que pareciam mais vazio.Pressionei meu dedo no gatilho.—Tem certeza?—Você fará isso de qualquer forma.Ele tinha razão.Revisei a mira mais uma vez e o som do estalo ecoou pela sala,mais sangue percorria sua camisa, agora era seu próprio sangue, sua mão branca se avermelhaca enquanto tentava cobrir o buraco de arma dos seus ombros. Eu havia mudado a mira e atirado em seu ombro em vez de em seu peito, provavelmente ele não morreria,que pena!Me virei sem olhar para trás, o som do meu salto ecoou pela sala.—Alguém tem que levar o credito do serviço no final—murnurei.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: 4 days ago ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Temporary PLeasureOnde histórias criam vida. Descubra agora