Hartmann Vollbrecht parte 1

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Reino da Saxônia,Sacro Império Romano Germânico, 1524.

Hartmann chegou cedo para ouvir Thomas Müntzer, seu amigo de longa data, inflamando os camponeses com suas palavras. De pé em um caixote usado para carregar batatas, ele pregava como se fosse um profeta divino.

- Temos que lutar contra os senhores que nada produzem e tudo detêm! - bradou Müntzer, sua voz ressoando pelo campo. - As enguias da aristocracia nos assassinam e roubam nossos filhos, nossas mães, nossos pais. Trabalhamos no campo como animais, enquanto eles vivem do nosso suor! E agora, Papistas e Protestantes se aliaram contra nós. Lutero, esse hipócrita, ainda diz que um senhor, mesmo pagão, tem o direito de matar um camponês. Isso são palavras de um homem cristão?

A multidão explodiu em vivas:

- Abaixo a aristocracia! - gritou um homem, erguendo os punhos.
- Morte a Lutero! - vociferou uma mulher, com a voz carregada de ódio.

Müntzer ergueu as mãos, pedindo silêncio.

- Eles cercam as terras e dizem: "Isto é meu, e vocês também me pertencem." Somos tratados como animais, mas não somos cordeiros prontos para o abate. Seremos leões! Lutaremos! Deus criou todos os homens como iguais. Por que eles detêm tudo, enquanto nós não temos nada?

Hartmann observava à distância. Ele conhecia Müntzer desde a infância, quando brincavam juntos nos campos da Saxônia. A vida, porém, os levara a caminhos diferentes: Müntzer, ao púlpito; Hartmann, ao comércio. Enquanto Müntzer abraçava a fé, Hartmann seguia o ouro. Sua fortuna, construída em viagens a Veneza e no lucrativo comércio de especiarias, trouxera-lhe riqueza, mas não status.

Agora, o desejo de desafiar a aristocracia os reunia novamente. Mas, ao ouvir os gritos fervorosos da multidão, Hartmann não conseguia deixar de se perguntar: estava ali por amizade, por justiça ou por vingança contra os nobres que sempre o desprezaram?

O discurso chegou ao fim, e Müntzer caminhou até ele, o semblante sério.

- Os camponeses já estão prontos para a luta. Conseguiu as armas? - perguntou Müntzer, sem rodeios.

Hartmann hesitou, olhando ao redor.

- Meus amigos italianos conseguem qualquer coisa pelo preço certo. Estou do seu lado, Thomas, mas... será que precisamos realmente ir à guerra? Não há outro jeito de lutar? Nosso Salvador Jesus era contra a violência.

Müntzer riu, mas sem humor.

- Jesus não era pacífico. Ele lutou contra a injustiça de seu tempo. Já esqueceu quando ele expulsou os comerciantes do Templo sob o chicote? - Sua voz ficou mais grave. - E, além disso, os senhores do clero e da aristocracia não têm freios morais para matar o povo de Deus. Por que nós deveríamos?

Hartmann franziu o cenho.

- Tudo bem, mas haverá um derramamento de sangue, Thomas. Homens, mulheres, crianças...

- Se não fizermos nada, morrerão do mesmo jeito - cortou Müntzer, incisivo. - Só que de forma mais lenta. Morrerão de tanto trabalhar feito mulas. Da fome, ou congelados no inverno, enquanto os senhores engordam às suas custas.

Müntzer apontou para os camponeses.

- Olhe para eles, Hartmann. Repare bem. Esse é o seu povo também, ou será que suas vestes caras o fizeram esquecer que tem sangue camponês?

Hartmann observou os camponeses. As vestes sujas e rasgadas, as crianças magras abraçadas às mães, os rostos marcados pelo sol e as mãos calejadas. A miséria do campo era assustadora, e ele sabia disso melhor do que ninguém. Fora por isso que, ainda jovem, deixara tudo para trás. Partira com uma caravana até a cidade, onde aprendera a ler e a contar. Foi ali que sua vida mudara, que ele subira na vida.

- Hartmann - chamou Müntzer, despertando-o de seus pensamentos. - Caminhe comigo.

Müntzer foi a frente, Hartmann foi atrás subiram uma planície era um dia ensolarado de Outono , a brisa do vento afastava os cabelos de Hartmann , as vezes quando estava no mar ou na cidade fazendo seu comércio sentia falta dessa paz do campo, planejava comprar uma casa ali quando seus negócios prosperassem ainda mais , os dois caminhavam em silêncio contemplativo olhando as multidão que se réunira se dispersar e voltar ao trabalho, Hartmann tinha que admitir havia a sua beleza .

- Está sentindo Hartmann ? Perguntou de repente Thomas.- Vida-Thomas falava enquanto fitava o horizonte, calmo e reservado.
-E tudo o que essas pessoas querem , uma vida decente -Thomas abaixou e pegou um pouco de terra na mão -Um pouco terra , água ,comida para os filhos,o mínimo que eles merecem pelo tanto de trabalho, Deus deu tudo de graça para os homens ,mas os ganancioso os tiram tudo e pedem sempre mais.

As palavras de Thomas Müntzer deixavam um nó na garganta de Hartmann , ele gostava da vida de conforto, e no fundo ele desejava ser aristocrata e ter uma vida de luxo e satisfação de seus desejos.

- Eu admiro tudo que tem feito meu amigo , você deu esperança a essas pessoas .Disse Hartmann

- Não Deus deu a eles um propósito , minhas palavras só dizem o que Deus quer que eu diga .Disse Thomas com fervor, enquanto amassava a terra na mão- Somos pó meu amigo nada mais.agora derramava a terra no chão bem devagar - Nosso tempo é curto aqui Hartmann mas podemos deixar um legado , que tipo de legado você quer deixar ?Thomas falava olhando nos olhos de Hartmann .

Hartmann não conseguia responder e revirou o olhar.

De repente som de cascos foram escutados ao longe e tudo aconteceu tão rápido , cavaleiros , com suas espadas matando , gritos foram ouvidos a , de repente fogo para todo o lado Thomas e Hartmann observavam toda a chacina sem poder fazer nada.Thomas tentou correr para ajudar os camponeses mas Hartmann o segurou .

- Me solte Hartmann! Gritou Thomas.

- Eles já estão mortos não pode ajudá-los se você morrer agora toda a luta será em vão .

Então Hartmann arrastou Thomas a força para onde tinha amarrado seu cavalo o cavalo de Thomas havia conseguido se soltar e fugirá , Hartmann montou Thomas no seu próprio cavalo.

- O que esta fazendo Hartmann ,monte também.

- Não meu amigo você deve continuar a luta as armas, procure Giorgetti Borgonhon , eles está com suas armas .

- Deus tem um propósito para você Hartmann nunca se esqueça disso.Disse Thomas.

Hartmann ouviu cavaleiros se aproximando e deu uma palmada no cavalo que partiu com Thomas.

Foi quando sentiu uma pancada forte na cabeça e acabou desmaiando.

Sombras e Códigos Ascensão de Thalia MerywetherOnde histórias criam vida. Descubra agora