Capítulo um| Guerra entre fronteiras.

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1356 Após o Grande Guardião

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1356 Após o Grande Guardião. D-1.
Fronteira de Quimera e Luanda.

O sangue esfriava em seu corpo sem vida.

Eu olhava para todos aqueles homens, lutando em nome de meu pai, Kanã. Tudo aquilo parecia tão em vão. Defender aquele lugar escasso, agora tomado pelo fogo de nossa própria insanidade, era uma piada cruel. As casas, antes vibrantes, agora eram apenas cinzas vazias. E, no entanto, o sangue... ah, o sangue. Esse era o único resquício de vida que sobrava.

As espadas colidiam, o som metálico ecoando como um lamento incessante. Meus homens caiam um a um, suas vidas arrancadas pela força avassaladora do inimigo. Suas habilidades, alimentadas pelo poder do sol, eram incríveis. Indestrutíveis. Eu os vi rasgar as fileiras do meu povo como se fossem trigo na colheita.

Por entre a fumaça, meu olhar se fixou nele. O homem que liderava aquela carnificina. Seu rosto era um retrato da impiedade. Ele parecia sentir prazer ao acabar com cada alma.

E foi então que a voz dentro de mim falou.

"O dragão despertará sempre que o chamar."

Eu senti a ardência familiar em meu peito. Não, não agora. Não podia ceder. Eu sabia o que aquele fogo representava. Sangue, destruição, caos. Mas ao ver os homens de Luanda sucumbirem, algo dentro de mim começou a se romper.

— Príncipe Cornelius, filho de Kanã!

A voz cortou o caos da batalha como uma lâmina. O líder inimigo gritou, apontando sua espada diretamente para mim. Seus olhos, vermelhos como brasas, refletiam tanto desespero quanto fúria.

— Onde está o anel? — ele berrou, o suor escorrendo por seu rosto. — Onde está sua una?!

O quê? O que ele estava dizendo? Eu franzi o cenho, confuso, mas mantive a calma.

— Do que está falando? Enlouqueceu?—murmurei, tentando entender sua acusação. —O anel foi levado pelo último Guardião.

— Blasfêmia! — ele gritou, sua voz ecoando pelo campo de batalha. — Você o esconde! Usa seu poder para enriquecer e subjugar!

Dei um passo à frente, sentindo o calor do sangue e da pólvora encher meus pulmões. O chão sob meus pés parecia vibrar, como se reconhecesse a tensão crescente dentro de mim.

— Ouça, — falei, tentando controlar o tom. Minha espada baixou-se lentamente. — Esta guerra é inútil. Um desperdício de vidas. Podemos ser um povo unido novamente. Aceite minha mão e juntos nos ergueremos.

Meus olhos se fixaram nos dele, buscando qualquer traço de razão.

Mas ele recuou. Seu olhar transbordava desdém e algo mais... dor.

— Você não entende. — Sua voz vacilou. — Eu não posso recuar. Eu não posso parar este conflito. Verena jamais nos perdoaria se voltássemos sem o anel.

Verena. O nome penetrou minha mente como uma lâmina. O que ela tinha a ver com isso?

— Luanda protegerá você e seu povo, — tentei novamente, desta vez com mais urgência. — Por favor, eu te suplico. Não há honra em mais sangue derramado.

Mas sua determinação endureceu. Ele apertou o punho ao redor da espada e deu um passo à frente.

— Não.— Sua voz era fria, como aço. — Eu devo matar você.

E então ele ergueu sua lâmina mais uma vez.

Meu coração afundou. Havia momentos em que a razão era inútil, em que palavras não podiam mais salvar ninguém. A voz do dragão rugiu mais uma vez dentro de mim, e eu soube que meu controle estava por um fio.

"Escolha, Cornelius," sussurrou a maldição em meu interior. "O fogo ou a derrota."

O som das espadas ao redor se dissipou na minha mente. Tudo que existia agora era o homem à minha frente, sua lâmina erguida e suas palavras ecoando em minha cabeça.

"Eu devo matar você."

— Não há vitória em sua morte, nem redenção na minha.— As palavras saíram como um sussurro. Mas ele não ouviu. Ou talvez não quisesse ouvir.

Ele avançou, e eu recuei um passo, minha mão tremendo ao erguer minha espada. Eu podia sentir o calor subindo por minhas veias, o rugido crescente do dragão dentro de mim. As palavras da maldição repetiam-se como um eco maldito.

"O dragão despertará sempre que o chamar."

Eu não queria chamá-lo. Mas o fogo não esperava permissão.

De repente, o campo de batalha ficou em silêncio absoluto. Não por cessar de combates, mas pelo som do meu rugido ecoando sobre as colinas. O calor em meu peito explodiu, e antes que eu percebesse, minha pele humana se rompeu, dando lugar a escamas negras e reluzentes.

Meus ossos se contorceram, minhas mãos tornaram-se garras, e meu corpo cresceu até que eu me erguesse como uma sombra monstruosa sobre o campo.

Os soldados ao meu redor recuaram, gritando. Até mesmo o inimigo, que há pouco erguera sua espada contra mim, deixou-a cair ao chão, os olhos arregalados.

— Dragão! — ele gritou, tropeçando para trás. — Vocês disseram que era uma lenda!

Mas eu não podia responder. O dragão assumira o controle, e tudo que eu sentia agora era o desejo insaciável de destruir.

Abri minhas asas e deixei que o fogo contido em meu peito se libertasse. Uma onda de chamas rugiu pelo campo, consumindo tudo em seu caminho. Inimigos e aliados, a terra e as cinzas, nada foi poupado.

Quando o fogo cessou, eu estava sozinho no campo devastado. Meu povo, minha honra, tudo havia sido destruído.

E, no fundo do meu coração, o dragão riu.

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