Capítulo 1 sem título

4 0 0
                                    

Eu estava revirando meu guarda-roupa e encontrei uma caixa com os meus diários antigos, de quando eu ia ao psicólogo e ele me recomendou escrever meus sentimentos e acontecimentos do meu dia. Sinceramente foi um misto de emoções, comecei a frequentar um psicólogo na pandemia, minha mãe tinha medo que eu fizesse algo. Nessa mesma época eu conheci uma garota, me apaixonei por ela um tempo depois. Ela não foi o meu PRIMEIRO amor, mas com certeza foi o meu primeiro AMOR.

O diário de 2022 especificamente, estava cheio de páginas tristes, onde eu escrevia que me odiava, que era incompetente, gorda, péssima. E do nada as páginas passaram a ser para ela, cheias de flores e corações com nossas iniciais.

Eu escrevi cartas pra ela, principalmente depois que o que tínhamos acabou e ela encontrou o amor dela, eu não era o amor dela, mas ela era o meu. Hoje ela é praticamente casada e tem uma filha. Não nos falamos mais, não somos mais amigas, mas eu guardo ela no meu coração.

Mas sendo sincera... relendo as cartas e os diários eu percebo que ainda espero acordar em uma segunda-feira e receber um "bom dia, princesa! Dormiu bem?"

Angélica, você foi o meu RHEYA, do R ao A. 

__________________________________________________


Se tem uma coisa que a escola ensinou a Richard, é que o amor é cego e imprevisível. Quando mais novo, ele via seus amigos namorando pessoas que pareciam o completo oposto deles, se atrapalhando em beijos desajeitados, sem saber onde colocar a língua. Ele via os mesmos amigos dizendo para Deus e o mundo o quanto amavam suas amadas, com uma intensidade que Dick nunca conseguiu entender.

Ele nunca soube o que era aquilo. Pelo menos, não até aquela memorável segunda-feira.

Era dia de ter duas aulas seguidas de educação física. Vôlei. Ele odiava vôlei.

Como sempre, a professora fanática religiosa juntou todos em um círculo, insistindo para que rezassem e fizessem um pedido a Deus. Dick era ateu, mas nunca discutia. Fazia o pedido por educação. Era bem diferente de Mariana, que sempre se recusava a participar. Toda vez era um show — uma vez ela quase jogou uma cadeira na professora.

Na sua vez, Richard pediu que seu pai tivesse uma boa viagem à Noruega. E então ouviu uma voz que fez seu coração tropeçar.

— Eu peço que nosso dia seja bom e que a chuva que está por vir não seja forte o suficiente para inundar Gotham.

Ele definitivamente disse algo mais, mas Dick não ouviu. Estava muito ocupado olhando para o dono daquela voz. Ao seu lado, o ser mais bonito que seus olhos já tiveram o prazer de encontrar.

A bola girava lentamente nas mãos de Dick enquanto ele tentava entender como, exatamente, havia acabado de ser colocado como par daquela criatura celestial. Estavam no meio da quadra, ele e o dono daquela voz inesquecível.

— É simples, cara. Você só precisa lançar a bola, aí eu saco. — O ruivo explicou com um sorriso fácil.

Wally.

Lindo nome. Sorte de Dick que a professora sempre fazia chamada no início da aula. Wallace West, mas todo mundo o chamava de Wally.

— Certo. — Dick murmurou, distraído. Ele lançou a bola, desajeitado.

Wally riu, ágil como sempre, ajustando o corpo para compensar o movimento estranho. Com um salto rápido, ele devolveu a bola para o outro lado da rede com força e precisão. A professora assobiou em aprovação, e os colegas aplaudiram.

— É disso que eu tô falando! — Wally exclamou, virando-se para Richard e estendendo a mão para um cumprimento. — Time bom!

— Ou você é bom o bastante para carregar os dois. — Dick respondeu, rindo nervosamente, enquanto apertava a mão dele.

O ruivo riu mais uma vez, o som vibrando nos ouvidos de Dick como música.

Aos poucos, a conversa entre eles fluiu. Wally era cheio de energia, e Dick não pôde evitar rir junto enquanto errava saque após saque.

Depois da aula, enquanto Wally guardava as bolas no armário de equipamentos, Dick tomou coragem.

— Ei, você tem celular?

Wally franziu o cenho, mas abriu um sorriso em seguida.

— Tenho, mas é um modelo meio velho. — Ele puxou o aparelho do bolso e mostrou.

— Não importa. Posso pegar seu número?

O ruivo piscou, surpreso, mas não hesitou.

— Claro. Mas só se você prometer me chamar para outra parceria de vôlei.

Dick riu, mais aliviado do que esperava.

— Feito.

As mensagens entre eles começaram simples, mas logo se tornaram constantes. Eram sobre a escola, séries favoritas, e até discussões intensas sobre quais filmes de super-heróis eram os melhores. A cada conversa, Dick sentia que conhecia um pouco mais daquele furacão chamado Wally.

Até que, um dia, decidiram se encontrar fora da escola, na praça de Gotham.

Era uma tarde tranquila. O sol começava a se pôr, tingindo o céu de tons de laranja e dourado. Sentados em um banco, Wally chutava uma pedrinha enquanto falava sobre uma viagem que sua família estava planejando para Central City.

— Parece divertido. — Dick comentou, olhando para o ruivo, cujo cabelo brilhava sob a luz do entardecer.

— É... mas eu não quero ir. — Wally respondeu, olhando para os pés.

— Por quê?

Ele levantou os olhos, direto para os de Dick.

— Você não percebeu? — Wally sorriu, pequeno, mas sincero. — Porque você está aqui.

Por um instante, Dick ficou imóvel. O mundo pareceu parar ao seu redor. Antes que pudesse processar o que estava acontecendo, Wally inclinou-se para frente, os olhos ainda fixos nos dele.

Dick não pensou duas vezes. Também se inclinou, seus lábios encontrando os de Wally em um beijo que começou tímido, mas logo ganhou intensidade. Wally era confiante, como sempre, e Dick sentiu-se seguro ao acompanhá-lo.

Quando se afastaram, ambos estavam sorrindo.

Naquele momento, Richard finalmente entendeu o que seus amigos sempre tentaram explicar.

O amor era cego, imprevisível, e às vezes, absolutamente perfeito.

_________________________________________________________________

Esse beijo não aconteceu, na verdade nem tinha como acontecer. Nos conhecemos na pandemia, quando tínhamos que ir a escola de mascaras e dividir a sala em alunos que iam semana sim e semana não.

No meio disso ela se mudou pra cidade vizinha. De novo voltando pra 2022, eu pedi ela em namoro e ela negou, disse que não estava preparada. De qualquer forma hoje ela é praticamente casada e é mãe de uma linda menina. E eu estou feliz por ela, porque querendo ou não ela fez parte da minha adolescência e eu guardo um carinho por ela.

O pedido foi horrível, eu sei. Eu cheguei nela e lancei um "O Brasil não vai passar o Fim de Ano comemorando o Hexa, mas você pode passar o Fim de Ano comemorando um namoro"

Enfim, obrigado por ler mais um relato da minha vida no formato de BirdFlash!

O amor era cego, imprevisível, e às vezes, absolutamente perfeito.Where stories live. Discover now