"O Fogo em Sua Alma"

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A sala era fria, metálica, como um mausoléu sem memória. O som repetitivo de máquinas ecoava ao fundo, entrecortado pelos passos suaves de cientistas em jalecos brancos.

No centro, uma cápsula de vidro ocupava o lugar de destaque, envolta em cabos e monitores que piscavam incessantemente. Dentro dela, um jovem de olhar intenso, quase sobrenatural, observava o mundo além de seu confinamento. Taehyung.

Ele era um experimento, um milagre da engenharia genética ou, como diziam nos relatórios, "Espécime 47-F". Mas, para os poucos que tinham coragem de olhá-lo nos olhos, ele era muito mais do que isso. Seu olhar carregava algo indomável, uma força que nem mesmo as paredes reforçadas do laboratório podiam conter.

Desde que se lembrava, Taehyung vivia cercado por paredes de metal e regras rígidas. Não conhecia o toque do vento ou o calor do sol, mas dentro de si havia algo que queimava.

Literalmente.

Descobriu aos cinco anos que seu corpo podia gerar calor suficiente para derreter aço. Foi quando, em um ataque de raiva infantil, as grades de sua cela se torceram como papel, e o alarme estridente anunciou o caos no laboratório.

Os cientistas o temiam e o idolatravam ao mesmo tempo. Ele era o primeiro de sua espécie, o resultado de experimentos que uniam DNA humano a partículas energéticas desconhecidas. Seu código genético fora alterado para manipular o elemento mais imprevisível da natureza: o fogo.

Porém, não era apenas uma habilidade, era uma extensão de sua alma. Ele sentia o calor pulsar em suas veias, a energia dançando sob sua pele, como uma fera pronta para ser libertada.

Sua infância foi solitária, mas ele não se sentia frágil. Enquanto outros experimentos falhavam e eram descartados, ele sobrevivia. Aprendeu a se adaptar, a controlar suas emoções e a esconder a fúria que ardia em seu coração.

Por mais que tentassem moldá-lo, Taehyung sabia que era diferente.

Não apenas pela sua habilidade única, mas pela forma como olhava para o mundo. Ele queria mais. Queria entender o porquê de sua existência, descobrir quem era além dos números e siglas que os cientistas lhe deram.

Mas nem tudo era escuridão. Havia uma mulher entre os cientistas, uma bióloga chamada Jiyeon, que sempre falava com ele como se fosse mais do que um experimento. Ela contava histórias sobre o mundo lá fora, sobre montanhas cobertas de neve, mares infinitos e noites estreladas. Era sua voz que ele ouvia quando o silêncio ameaçava esmagá-lo.

Ainda assim, o mundo que ela descrevia parecia tão distante quanto um sonho. Para Taehyung, o único universo real era aquele laboratório, com suas câmeras vigilantes e experimentos incessantes. Até que, aos dezessete anos, algo mudou.

O fogo dentro dele começou a crescer, tornando-se mais difícil de conter. Era como se seu corpo estivesse respondendo a um chamado invisível, algo que os cientistas não haviam previsto.

Em uma noite, enquanto o laboratório dormia, Taehyung fechou os olhos e deixou sua mente vagar. Sentiu o calor se acumular em suas mãos, a energia fluir como um rio descontrolado. Ele estendeu os dedos e, pela primeira vez, não tentou conter as chamas.

Elas vieram, rugindo como uma tempestade, consumindo tudo ao seu redor. A cápsula de vidro estilhaçou-se, os alarmes soaram, e o fogo dançou como se estivesse vivo.

Quando a fumaça se dissipou, Taehyung estava de pé no meio das ruínas. Os cientistas observavam, aterrorizados, enquanto ele caminhava lentamente em direção à saída. Pela primeira vez em sua vida, sentiu o gosto da liberdade.

Não era apenas um experimento. Era Taehyung, o mestre do fogo, e o mundo lá fora estava prestes a conhecer sua verdadeira força.

E ele não tinha medo de queimá-lo até as cinzas.

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