Eloise olhava para o computador com uma sensação crescente de desânimo. O relógio já marcava 17h30, e a pressão no escritório só aumentava conforme se aproximava o Natal. Ela estava na empresa há quase dois anos, fazendo o que podia para ser reconhecida. No entanto, a última reunião com seu chefe havia sido um golpe duro."Desculpe, Eloise, mas não estou mais vendo como você pode contribuir para o time da forma que esperávamos. A empresa precisa de alguém mais... assertivo. E, honestamente, ser mulher não ajuda a passar essa imagem." O chefe falava com uma frieza que ela jamais imaginaria. "Vamos substituir você por um homem. Ele pode cumprir os prazos e lidar com a pressão. Isso é o que precisamos."
Ela ainda tentava entender o que havia acabado de ouvir. Ser substituída por um homem? Era um golpe brutal, especialmente porque o Natal estava à porta. O chefe não ofereceu explicações mais detalhadas e nem pediu para ela reunir suas coisas com calma. Tudo foi tão rápido, tão cruel. Ela se sentia humilhada e impotente.
De repente, Eloise se viu com as chaves do escritório nas mãos, o crachá pendurado no pescoço e uma sensação de vazio. "O que eu vou fazer agora?", pensou, enquanto saía do prédio. O vento gelado da noite de 24 de dezembro parecia cortar sua pele, e a cidade parecia indiferente à sua dor. Ela estava sozinha. A casa dos pais ficava no interior, e eles chegariam em poucas horas. O que ela diria a eles? Que estava desempregada? Que não era boa o suficiente?
Enquanto caminhava pela rua, as luzes de Natal piscavam nos postes, criando um contraste cruel com o buraco que se formava em seu peito. As pessoas passavam apressadas, indo para suas casas, para festas com a família. Ela sentia que a única coisa que restava era enfrentar a vergonha e encarar a decepção de seus pais.
Naquele momento, Eloise não percebeu o rapaz que se aproximava dela. Seu nome era Erick. Ele era alto, ruivo, com olhos azuis intensos, quase hipnotizantes. Ele estava distraído, mexendo no celular, e ao virar uma esquina, sem querer, esbarrou em Eloise, fazendo com que ela quase perdesse o equilíbrio.
"Ah, me desculpe!" ele exclamou rapidamente, dando um passo atrás.
Eloise olhou para ele, ainda um pouco atordoada, mas logo se recompôs. "Não foi nada, foi minha culpa. Eu estava distraída," respondeu ela, tentando disfarçar sua confusão interna. Ela sentiu uma pequena sensação de calor vindo do olhar do rapaz, mas não quis se demorar. Tinha pressa de chegar em casa antes que os pais chegassem.
"Ei, espere!" Erick disse de repente, como se algo a tivesse puxado para ele. "Você está bem? Parece... preocupada."
Ela forçou um sorriso. "Sim, só... é só o final do dia, sabe? Tenho muito a fazer. Feliz Natal."
Antes que ela pudesse dar um passo para longe, Erick falou de novo, agora com uma suavidade no tom de voz que a fez parar. "Não, espera. Acho que posso ajudar. Me chame de louco, mas senti que... você não deveria estar sozinha nessa véspera de Natal. Que tal tomar um café comigo? Nada de compromissos, só uma conversa. Eu insisto."
Eloise hesitou. O que ela poderia perder? Talvez uma distração fosse tudo o que precisava, afinal, já estava com o coração pesado e a alma vazia. "Tá bom," disse ela, sem saber exatamente por que estava aceitando a oferta de um completo estranho.
Eles entraram em uma cafeteria não muito longe dali. O calor reconfortante do lugar, com suas luzes douradas e cheiro de café, parecia quase surreal em comparação com o frio de fora. Eles se sentaram e, aos poucos, começaram a conversar. Erick era engraçado, falava de suas próprias frustrações e projetos com uma leveza que encantava Eloise. Ela se sentia mais à vontade à medida que ele a fazia rir.
"Eu posso não ter muita experiência em salvar o Natal de alguém, mas pelo que vejo, você poderia usar uma dose de... você mesma," Erick disse de forma sincera, após ouvir o que ela tinha a contar sobre o que havia acontecido em seu trabalho. "Eu sei que pode parecer bobo, mas... você tem mais valor do que qualquer chefe machista. Não deixe essa experiência definir quem você é."
Eloise ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras de Erick. Pela primeira vez no dia, ela sentiu que alguém realmente a entendia, sem julgamentos. Mas havia algo mais. Algo nela que começava a despertar. Talvez a gentileza de Erick fosse exatamente o que ela precisava para começar a se recompor.
"Você está certo," ela disse, sorrindo. "Eu não deveria me deixar abater assim."
O rapaz a observava com atenção, como se estivesse vendo além da jovem triste à sua frente. "Eu sei que talvez não seja a solução, mas queria te fazer uma proposta. E eu realmente espero que não pareça loucura, mas... que tal passar o resto do fim de semana comigo? Podemos esquecer de tudo isso por um tempo. Só para você sentir que pode ser feliz, sem pressões. Sem expectativas. Eu só... gosto de como você me parece. E, sei lá, talvez essa viagem até o Ano Novo possa te fazer ver as coisas com outros olhos."
Eloise ficou sem palavras. Era uma proposta inusitada, mas ao mesmo tempo, muito tentadora. Ela sabia que precisava de algo novo, algo que a fizesse respirar. "Eu... não sei. Você parece ser uma pessoa boa, mas..."
"Eu entendo. Não precisa tomar decisões agora," Erick interrompeu com um sorriso. "Só pense na possibilidade. E, quem sabe, podemos fazer algo simples. Como uma caminhada, uma refeição tranquila. Sem pressões. O que acha?"
Eloise olhou para ele, sentindo pela primeira vez em horas que a vida poderia lhe oferecer algo além de frustração. Talvez ele estivesse certo. Talvez fosse hora de se permitir ser feliz, mesmo que fosse só por um momento.
"Ok," ela disse, finalmente. "Vamos ver até onde isso pode nos levar."
E naquele instante, o Natal pareceu ter um novo significado para Eloise. Mesmo que ainda não soubesse o que o futuro reservava, ela sabia que, naquele momento, não estava mais sozinha. E isso, por si só, já era um presente.
continua ?
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Eloise e a oportunidade inusitada
RomanceApós ser demitida de seu emprego, Eloise se vê perdida, temendo decepcionar seus pais, que sempre tiveram grandes expectativas sobre seu futuro profissional. O peso da desaprovação paterna e materna a corrói enquanto ela luta para encontrar uma nova...