I. aquecer

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"Down on the West Coast, they got a saying
If you're not drinking, then you're not playing"

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‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎   O som está alto, mas não tão alto quanto os meus pensamentos de arrependimento por ter vindo. Encostada na parede em um canto do grande salão de festas, observo a multidão de pessoas que está a poucos centímetros de mim, se esbaforindo ao som de músicas estouradas — que faz meu ouvido doer.

Respiro fundo, tentando juntar forças para atravessar aquela multidão em busca da maldita que me convenceu a vir à festa de calouros da universidade. Meu corpo, no entanto, se recusa a se mover, a sentir as pessoas suadas se pressionando e esfregando sobre mim.

Posso esperar algumas horas até a festa terminar, talvez? Mas meus pés estão doloridos por ter estado em pé por tanto tempo, minhas mãos tremem levemente pela falta de higiene e a agonia da roupa úmida, grudada em meu corpo por causa do suor e da cerveja que bêbados jogaram para cima.

Tudo em mim cheira a suor e cerveja, o que quase enlouquece minha mente, clamando por um banho e uma torneira para esfregar minhas mãos.

Respiro fundo novamente e começo a dar pequenos passos, tentando me encaixar na multidão. Os corpos se pressionam contra o meu, e logo começo a sentir meu corpo ser levemente empurrado.

E de novo, de novo e de novo.

Minhas mãos se fecham em punhos, tentando não se sujar com os germes e o suor que impregnam os que estão ao meu redor. Suspiro enquanto tento manter a calma, olhando ao redor e, ao mesmo tempo, para o chão, verificando se não piso em algum caco de vidro.

Tudo vai melhorar, logo estarei em casa, com meu corpo limpo, minhas mãos limpas e roupas limpas, em um ambiente sem o cheiro de cigarro e bebidas alcoólicas.

Alguns minutos se passam. Finalmente, consigo chegar ao outro lado do salão de festas. Sinto um certo alívio ao não sentir todos aqueles corpos sobre mim, mas um pequeno pânico surge ao não encontrar minha amiga.

O local é imenso, e eu ando sem rumo, perdida em minhas tentativas falhas de encontrá-la. Paro em frente à entrada, analisando cada pessoa que está fumando e bebendo na área da piscina, mas não a vejo.

De repente, sinto um ar quente em meu pescoço, fazendo meu coração gelar.

— Perdida, querida? — a voz soa baixa, quase inaudível, mas tão próxima que não consigo fingir que não ouvi. Fico assustada por alguns segundos.

— Procurando uma amiga. — respondo, sem esboçar medo ou algo do tipo, apesar de sentir seu corpo pressionando meu braço esquerdo, perigosamente próximo ao meu.

Alguns segundos se passam em silêncio, e eu ainda consigo sentir sua presença atrás de mim, seu ar quente encostando na pele do meu pescoço, me causando arrepios e uma pontada de medo. Queria me afastar, mas meu corpo estava paralisado.

— Primeira vez que te vejo. — ele diz, novamente em um tom baixo, e não sei se fico aliviada ou receosa por ele finalmente falar algo.

— Eu sou novata mesmo. — respondo, meu tom neutro e um pouco trêmulo, revelando meu desconforto com a interação anterior.

Preciso me limpar urgentemente.

— Hum. — ele murmura. Sinto um toque quente e leve em minhas mãos, o que me assusta e faz com que eu levante um pouco a mão. — O que te aflige tanto para estar tremendo dessa forma? — ele pergunta.

Fico alguns segundos paralisada, sem saber o que responder. Não entendia o interesse repentino desse desconhecido em mim e muito menos o motivo dele estar tão perto.

— Apenas frio. — respondo de maneira simples, enquanto meus olhos percorrem desesperadamente as pessoas em frente à piscina, em busca da minha amiga.

Mas nada. Ela havia sumido justo no momento em que eu mais precisava dela.

Sinto-me aliviada quando percebo seu afastamento. Ele não diz nada, e eu suponho que tenha ido embora, me deixando em paz.

Suspiro, passando a mão pela testa, tentando pensar em uma boa alternativa para encontrar minha amiga e como iríamos para o nosso apartamento na madrugada, enquanto eu imaginava longos minutos esfregando meu corpo para me livrar de toda a sujeira.

Mas então sinto algo em meus ombros, que me faz virar o corpo instantaneamente. Fico alguns segundos processando a situação enquanto encaro o homem mascarado à minha frente, segurando um palito.

— Se acalme, querida, não vou te devorar. — ele diz naquele mesmo tom, mas posso sentir um certo sarcasmo em sua voz.

Meu olhar analisa sua roupa: uma blusa polo preta, calça preta e botas pretas. Ele também usa uma máscara preta, sem desenhos, apenas dois buracos para os olhos, o que me deixou curiosa.

— Nada mal, não acha? — ele pergunta, seus olhos indescritíveis fixos nos meus.

Respiro fundo, tentando manter uma postura.

— Você me assustou. — murmuro, desviando o olhar para algumas pessoas que passam ao nosso lado. Onde está aquela maldita?

— Nada da sua amiga, querida? — ele pergunta novamente, e me sinto receosa com tantas questões. Esse tipo de pergunta não é comum ao conhecer alguém.

Mas eu tento continuar, apesar de sentir meu corpo implorando por um banho longo.

— Não... — apesar de tentar falar em um tom normal e neutro, minha voz sai como um murmúrio incerto.

— Você continua tremendo, querida. — ele diz, dando um passo à frente, fazendo-me olhar para ele. — Deixe-me te aquecer. — Seus braços se levantam, e em uma das mãos ele segura um terno. Ele chega mais perto e coloca-o sobre meus ombros, ajeitando para cobrir bem meus braços.

Sinto um arrepio percorrer meu corpo enquanto seus olhos parecem analisar meu rosto e reação. Sinto que ele está sorrindo, apesar de seus olhos não demonstrarem nenhuma emoção.

— Obrigada, mas... não precisa. — recuso, tentando ser o mais gentil possível.

— Não tire. — sua voz soa firme, mais alta dessa vez, como se fosse uma ordem.

Fico alguns segundos em silêncio, tentando encontrar algo em minha mente para escapar dessa situação, mas me sinto como uma presa tentando escapar da caça sob seu olhar. Apesar de não demonstrar nada, consigo sentir algo intimidante vindo de sua postura, voz e olhar.

— Quero te aquecer de alguma forma. — ele diz, e isso me alivia por não ter conseguido pensar em algo para responder. — Se tirar, sinto que você estará desprotegida e com frio, querida.

Suas palavras soam como um aviso, uma ordem. Respiro fundo, tentando conter meu nervosismo que começa a aparecer. Eu realmente me meto em cada situação.

— Obrigada. — murmuro novamente, desviando o olhar.

— Você não parece ter bebido. — ele diz, parecendo ter me analisado o suficiente para perceber isso. — E nem sinto cheiro de cigarro em você. O que você faz aqui?

Ele é realmente curioso e não parece se conter com suas perguntas.

— Você tem razão. — respondo, tentando me limitar ao mínimo de palavras. — Eu apenas vim tentar me distrair um pouco. E você? — devolvo a pergunta, talvez se eu o deixasse desconfortável, ele fosse embora e me deixasse em paz.

— Me distrair. — ele responde simples, mas seu tom ainda é firme. Sinto que ele não quer me dizer mais. Então, tento pensar rapidamente em algo que o deixe desconfortável. — Mas por que não está bebendo? Não é mais fácil para se distrair? — ele pergunta, interrompendo meus pensamentos.

— Não gosto de bebidas. — respondo, ainda tentando limitar minhas palavras.

Ele parece ficar pensativo, em silêncio por alguns segundos.

— Mas há um ditado que diz que quem não bebe não está se divertindo, e eu posso ver isso em você.

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⏰ Última atualização: 6 days ago ⏰

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Bad intentions, nicholas chavez 𖹭.ᐟ.Onde histórias criam vida. Descubra agora