Laços de Segurança

Encontro Inesperado

A manhã começava tranquila na mansão da família Torres. Onde, Maitê, uma jovem de 23 anos, estava em mais um dia agitado em sua vida repleta de compromissos. Filha de uma família rica, ela se dividia entre reuniões do clube do livro, ensaios de teatro e a pressão incessante de sua mãe para que seguisse uma carreira nos negócios da família. Contudo, a jovem encontrava refúgio nas páginas de seus romances favoritos, sonhando com um mundo além dos muros de sua mansão.

A mansão se ergue imponente no meio de uma vasta propriedade cercada por altos muros de pedra e um portão automático ornamentado com detalhes em ferro forjado. Logo na entrada, um caminho de pedras perfeitamente alinhadas serpenteia pelo gramado bem cuidado, conduzindo à construção principal. O jardim ao redor é exuberante, com arbustos podados em formas geométricas e uma fonte de água cristalina que se destaca no centro do pátio frontal.

Em um desses dias cansativos, enquanto sua mãe estava conversando com um novo segurança que seria contratado na propriedade, Maitê entrou no escritório. Ela parou na porta ao ver um jovem alto, de cabelos escuros e um olhar sério. Raphael, o novo guarda-costas, estava se apresentando à sua mãe.

— Oi Querida, quero lhe apresentar uma pessoa. Este é Raphael, o nosso novo segurança. — disse a mãe, voltando-se para a filha. — Ele estará responsável por garantir sua segurança em todos os momentos.

Maitê se sentiu um pouco intimidada, mas ao mesmo tempo intrigada. Mesmo assim cumprimentou o rapaz. — Oi… prazer em te conhecer. — disse ela, estendendo a mão. — Mas, sinceramente, não consigo imaginar que tipo de perigo poderia haver na minha vida.

Raphael, vendo a jovem sorriu de forma gentil, mas sua expressão logo se tornou séria. — Maitê, a segurança nunca é demais. Infelizmente, no  mundo em que vivemos pode ser imprevisível.

— É verdade, mas isso não significa que eu não possa viver minha vida normalmente. — rebateu ela, sentindo-se incomodada com a ideia de precisar de proteção constante. — Acho que posso cuidar de mim mesma.

— É o meu trabalho cuidar de você, e vou fazer isso com todo o respeito. —  ele respondeu, sua voz firme.

Preciso ir, tenho aula daqui a pouco — disse Maitê ao se aproximar de sua mãe e dar um beijo em sua bochecha.

— Raphael irá acompanhar você — respondeu sua mãe com um sorriso calmo.

Maitê imediatamente revirou os olhos, sua expressão transformando-se em descontentamento. — Eu não preciso de um guarda-costas, mãe. É só faculdade, eu vou ficar bem.

— Isso não está em discussão, Maitê. Já conversamos sobre isso. Raphael está aqui para garantir sua segurança, não para te atrapalhar — concluiu sua mãe com firmeza, enquanto voltava sua atenção para o jornal em mãos.

Maitê bufou, cruzando os braços. Aquilo era completamente desnecessário na sua visão, mas sabia que insistir seria inútil.

Enquanto se arrumava para a faculdade, ainda indignada, seus pensamentos vagavam. — Mais um dia de aulas e mais um evento social de literatura para agradar a todos, menos a mim mesma — murmurou para si, olhando para as roupas que escolheu para o dia. De um lado, um conjunto de moletom azul-escuro, perfeito para as aulas. Do outro, um vestido elegante, com toques modernos que remetiam a contos de fadas, escolhido para o evento de literatura à noite.

Ela suspirou, jogando o vestido sobre a cama. Mesmo que gostasse de eventos literários, odiava a sensação de ser obrigada a ir, ainda mais por ser uma sessão de autógrafos da amiga da sua mãe. E a ideia de ter um estranho, Raphael, a seguindo por todos os lugares, tornava tudo ainda pior.

— Por que não pode confiar em mim? Eu só queria um pouco de liberdade. — pensou, enquanto terminava de ajustar o cabelo e pegava sua bolsa.

Maitê desceu as escadas apressada, o som de seus passos ecoando pela mansão. Ela estava atrasada para a faculdade, mas o maior incômodo de todos era o motivo de sua pressa. Lá embaixo, Raphael a aguardava, com sua postura séria e firme.

— Então vamos... — Disse ela se aproximando da porta. — Tenho 30 minutos até lá. — Disse ao verificar a hora em seu celular. — Tudo bem então, vamos. — Responde Rhafael a jovem que está com uma expressao de insatisfação.

Durante o trajeto, o silêncio entre os dois era pesado. Raphael dirigia com atenção, enquanto Maitê olhava pela janela, tentando ignorar sua presença ao seu lado. Ela não entendia por que sua mãe precisava se preocupar tanto. Era apenas a faculdade, e ela já estava mais do que capacitada para cuidar de si mesma.

Quando finalmente chegaram à faculdade, o aborrecimento de Maitê não diminuiu. — Obrigada pelo passeio — disse ela, saindo do carro apressada, sem olhar para trás.

Mas assim que entrou no campus, seu humor mudou. No meio da agitação dos alunos, seus olhos brilharam ao encontrar Lucas, seu namorado. Ele a esperava com um sorriso largo, e todo o aborrecimento que sentira se dissipou instantaneamente.

— Maitê! — chamou Lucas, correndo até ela. Ela não hesitou em correr em direção a ele, seus sentimentos de raiva e resistência rapidamente se transformando em felicidade. Quando chegaram perto, Maitê o envolveu em um abraço apertado e, em seguida, o beijou com alegria.

Raphael, observando à distância, sentiu um misto de satisfação e tristeza ao ver a felicidade dela. Ele sabia que seu papel era proteger Maitê, mas não podia evitar a sensação de que havia algo mais entre eles — algo que ele ainda não conseguia entender.

Enquanto os dois se afastavam em meio ao sorriso e à conversa animada, Raphael respirou fundo, preparado para enfrentar o dia que ainda estava por vir, ciente de que sua missão de protegê-la estava apenas começando . Ele sabia que, por mais que tentasse, não seria fácil ser apenas o observador da vida de Maitê.

Ele observou mais uma vez, sentindo o peso da responsabilidade que carregava. Seu trabalho como guarda-costas era simples: protegê-la, não interferir em sua vida pessoal. Mas algo dentro dele dizia que esse equilíbrio seria mais difícil de manter do que ele imaginava. E à medida que o dia começava a se desenrolar, Raphael sentiu que algo estava prestes a mudar, algo que ele não poderia prever, mas que já estava começando a se formar no silêncio entre eles.