Rivais (Capítulo Único)

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Carol sentia a ansiedade corroer seu estômago, seria a primeira vez que encontraria sua ex-equipe no campeonato. Foram 10 anos defendendo o Minas - literalmente, falando para os quatro ventos o quanto havia sido bem acolhida, o quanto se permitiu evoluir ali, o quanto amava aquele time.

E agora teria que dar o seu melhor para derrotar ele.

Não é como se tivesse sido uma despedida fácil - ao contrário - foi turbulenta até demais. Ela saiu magoada, com o ego ferido e ferindo os outros. Depois de uma recuperação fenomenal de uma lesão gravíssima, Carol esperava seu espaço de volta no time titular. Ela não contava com a atuação incrível que sua substituta vinha fazendo, tornando o seu espaço cada vez mais incerto naquela equipe.

Mas o que mais machucava era a bendita esperança de jogar as Olimpíadas de Paris, que era o foco de sua recuperação. Sentia que poderia lutar por uma vaga, sentia que só precisava de uma oportunidade... mas essa a foi negada. E isso amargou toda e qualquer relação que tinha ali. Enquanto ainda estivesse jogando bem, queria mostrar isso ao mundo, mas sem aviso prévio, caiu a ficha de que sua última atuação na seleção seria no mundial de 2022, ou seja, não conseguiu nem se despedir. Era um capítulo dolorosamente fechado, sem direito a conclusão, destinado a ser remoído em "e se"s... e muitos deles em relação ao antigo clube.

Algumas pessoas não entenderam sua frustração, algumas amigas se doeram quando anunciou sua saída, achando que era apenas uma birra infantil. Mas a verdade é que ela já não se sentia bem no Minas, sentia-se acuada. Não queria ser impedimento para a ascensão de uma central com tanto potencial, por quem sinceramente nutria tanto carinho como a Júlia Kudiess. Ao mesmo tempo que queria sim mostrar o voleibol que ainda tinha. Quem poderia culpá-la por querer jogar?

Foram 10 anos amados, mas que chegaram ao fim, tinha que admitir.

Ela só não esperava que tantas pessoas se voltariam contra ela. Ver os fãs que diziam gostar dela, do dia para a noite, começarem a apontar e atacar suas inseguranças mais íntimas era devastador. Tinha que se provar ainda mais.

O último treino antes do jogo estava terminando e Carol aproveitava uma ducha para repassar todos esses pensamentos, precisava de foco e precisava exterminar as reviravoltas no estômago para estar 100% com a cabeça no jogo. Suas colegas de time já foram na frente, mas ela preferiu tomar seu tempo, sentindo uma nostalgia agridoce em estar no estádio do Minas, aqueles corredores tão conhecidos contavam histórias assim como assistir a seu filme favorito pela centésima vez.

Estava distraída ao trombar com alguém virando o corredor. Segurou o corpo, já se desculpando.

- Desculpe, você está bem...?

E elas se viram. Carol Gattaz e Priscila Daroit trocaram olhares. Um estranhamento onde outrora houve tanto carinho.

- Quanto tempo - Carol comentou, ajudando Daroit a terminar de se levantar - está aqui para o treino antes do jogo?

- Sim - a outra respondeu comedida, ainda sentindo como estava o clima entre as duas. A última conversa que tiveram foi cheia de acusações e ataques - Mas quem quis ir embora foi você - a menor decidiu, então, não aliviar.

- Foi... - Carol não queria brigar, pensou que pudessem virar a página, afinal, sempre gostou da sua geminha, então adotou um tom de voz açucarado - mas você sabe o porquê.

- Porque você se acha muito boa pra ficar no banco - Priscila respondeu ácida - acha que sua titularidade não é contestável. Acontece, Carol, ainda mais na sua idade. Só cresce.

Aquilo deixou Carol nervosa novamente.

- Eu não queria titularidade incontestável, eu sei que a Ju vinha jogando muito bem, não é nada contra ela - cuspiu sem paciência mais - eu só queria mais oportunidade de entrar e jogar, eu não tinha como jogar melhor se eu não estava jogando.

Rivais ϟ Carol Gattaz e Priscila DaroitOnde histórias criam vida. Descubra agora