Sentimentos

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O ar do castelo estava diferente.
Uma energia densa pairava, vibrando nas pedras das paredes, como se o próprio castelo aguardasse o que estava por vir. Conforme eu caminhava pelo salão, os servos passavam apressados, carregando guirlandas de pinheiros e fitas prateadas, suas mãos ágeis tecendo o espírito da festividade nas paredes ancestrais.

Sons de passos ligeiros, risadas abafadas e o farfalhar dos enfeites preenchiam o silêncio habitual. Aquelas paredes já haviam testemunhado tantos invernos e, de alguma forma, essa tradição parecia viva, não só em mim, mas em todas as princesas antes de mim.
Era uma herança silenciosa.

Passei os dedos pelas colunas geladas e senti uma melancolia familiar - o peso de saber o que aquele baile significava.
Mas hesitar agora seria inútil.

Minutos depois, meus passos me levaram até a biblioteca.
Entre o sussurro das páginas e o cheiro inebriante dos livros, encontrei James e Emma, rodeados por pilhas de manuscritos antigos que se erguiam como muralhas.
Emma lia com o cenho franzido, como se cada palavra escondesse um enigma, enquanto James rabiscava anotações rápidas, seus lábios movendo-se quase silenciosamente.

- Bom dia!
Cumprimentei, com um leve sorriso.
Ambos responderam em uníssono.

- Como estão as buscas? Encontraram algo relevante?

Emma hesitou, o olhar incerto:

- Sabemos que o colar carrega o símbolo dos Deuses, mas até agora não encontramos qualquer registro que explique o significado desses aerógrafos.

- Há outra coisa que me intriga, Alteza.
James se inclinou, com um brilho inquieto no olhar, e estendeu um mapa em minha direção.

Emma e eu olhamos atentamente o pergaminho, onde as fronteiras do nosso reino estavam demarcadas com detalhes precisos.

- Aqui é o castelo, aqui nossa civilização, e ao redor, nossas terras...

James ditava enquanto apontava cada região do mapa.
Emma ergueu uma sobrancelha, entediada pela aula improvisada de geografia.

- E...?

Ele apenas sorriu, fitando a expressão de tédio estampada da face da ruiva

- A caverna, meninas. Onde ela está no nosso reino?

Meus olhos percorreram o mapa, focando na montanha que conhecíamos. Mas, ao buscar o ponto exato onde encontramos Dom, senti uma estranha ausência.

- Isso quer dizer que invadimos outra terra? Perguntei, intrigada.
- Dom estava fora do nosso território quando o encontramos?

James respirou fundo, revelando um segundo mapa, onde estava detalhado o reino de Valerian, nosso vizinho.

- Se a caverna não fica em nosso território, então deveria estar mapeada em Valerian, mas não aparece aqui também.

- Como isto é possível?

- A verdade é que encontramos um lugar que simplesmente, não existe.

Emma mordeu o lábio, perdida em pensamentos.

- Em resumo, o que temos é...
murmurou James, colocando um caderno aberto à nossa frente.

- Um lugar inexistente. Um colar com símbolos dos Deuses que mal compreendemos, e um homem sem lembranças de si.

- Em outras palavras, nada.
Emma suspirou, resumindo o que todos sentíamos.

Suspirei, frustrada.
Já fazia dois meses desde que encontramos Dom naquela caverna misteriosa.
Desde então, ele havia se tornado uma presença constante, aprendendo rapidamente sobre nosso povo, história e cultura.
Sua curiosidade pela medicina o destacava - talvez um reflexo de algo mais profundo, algo que nem ele mesmo entendia, mas que, de algum modo, parecia familiar.

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⏰ Última atualização: 5 days ago ⏰

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