NYX VALENNew York, 2023
O cheiro de tabaco e café forte permeava o ar abafado do escritório. Eu estava encostada na mesa, pernas cruzadas, com um cigarro entre os dedos. A fumaça se elevava em espirais preguiçosas, dançando sob a luz amarelada da luminária. Diante de mim, um homem de terno escuro ajustava papéis e conectava um tablet à tela holográfica que ocupava quase toda a parede do fundo.
— Então, qual é o desafio dessa vez? — perguntei, soltando a fumaça devagar, meus olhos semicerrados fixos nele.
O homem, Hector Kane, era um dos melhores estrategistas do ramo. Seu rosto sério e suas mãos firmes refletiam a experiência de quem planejava assassinatos de maneira metódica. Ele levantou o olhar para mim, a expressão neutra, e abriu o holograma.
— Korrin Romanov. — Sua voz era grave e objetiva. Na tela, a imagem de um homem jovem, de olhos penetrantes e sorriso sarcástico, surgiu. — Herdeiro da máfia Romanov e o próximo na linha para assumir todo o império.
— Interessante. — Apaguei o cigarro no cinzeiro de vidro sobre a mesa. — Continue.
Hector clicou em algo no tablet, e a tela holográfica começou a exibir dados detalhados, como movimentações financeiras, rotas de tráfico, e imagens de segurança de Korrin em diversos locais.
— Ele é responsável pela expansão da máfia em mercados que antes eram impenetráveis, especialmente na Europa Oriental. Tráfico de armas, drogas, pessoas. É astuto, perspicaz, rápido e altamente estratégico.
— Não parece o tipo de pessoa fácil de enganar. — Cruzei os braços, inclinando-me para observar as informações mais de perto.
— Não é. — Hector abriu outro arquivo, mostrando mapas e esquemas. — Sua missão é simples no papel, mas extremamente complexa na prática: infiltrar-se no círculo interno de Korrin, ganhar sua confiança, coletar todas as informações sobre suas operações e, quando o momento certo chegar, matá-lo.
Soltei uma risada baixa e irônica.
— Parece mais um projeto de longo prazo do que uma missão.
— É exatamente isso. — Ele apontou para o cronômetro que surgiu na tela. Quatro meses. — Esse é o prazo. Não podemos agir de maneira precipitada. Korrin Romanov é protegido por uma rede de segurança impecável. Tentar eliminá-lo diretamente seria suicídio.
— Então vou brincar de agente dupla por um tempo. — Peguei outro cigarro e o acendi. A primeira tragada era sempre a melhor. — Como eu me aproximo?
Hector abriu um diagrama detalhando as principais conexões de Korrin.
— Você será apresentada como uma assassina freelancer interessada em trabalhar para os Romanov. Sua reputação foi cuidadosamente construída nos últimos meses. Eles acreditam que você tem experiência em eliminar rivais políticos e mafiosos.
Assenti lentamente, já começando a traçar mentalmente os próximos passos.
— E o ponto de infiltração?
— São Petersburgo. — Hector ampliou o mapa da cidade, destacando uma mansão isolada nos arredores. — Korrin está organizando uma grande reunião com seus aliados mais próximos. Acreditamos que ele está planejando consolidar sua posição como herdeiro, eliminando qualquer resistência interna. É lá que você vai começar.
— E como mantenho o disfarce?
— Temos um contato dentro da máfia. Ele vai confirmar sua história e garantir que você seja aceita na organização. Mas, Nyx... — Hector parou por um momento, seu olhar encontrando o meu. — Essa missão exige paciência. Não se trata apenas de matá-lo. Você precisa destruir a base de poder que ele construiu. Isso significa encontrar as rachaduras no sistema, expô-las, e desmontar tudo antes de acabar com ele.
Soltei a fumaça devagar, o olhar fixo na tela.
— E se eu falhar?
Hector deu de ombros, como se fosse óbvio.
— Se você falhar, morrerá. Eles não perdoam traição.
Deixei escapar um sorriso. Adorava um bom desafio.
— Tudo bem. Prepare o transporte e os documentos. Quero sair amanhã.
Hector fechou o holograma, recolhendo os papéis.
— Uma última coisa. — Ele puxou um envelope e colocou sobre a mesa. — Isso contém informações sobre os principais aliados de Korrin. Conheça-os antes de chegar lá. Qualquer movimento errado e eles perceberão.
Peguei o envelope, sentindo o peso da missão.
— Não se preocupe, Hector. Eu nunca falho.
Ele assentiu, virando-se para sair. Fiquei sozinha no escritório, as luzes projetando sombras enquanto eu analisava a foto de Korrin novamente.
— Quatro meses, hein? — murmurei para mim mesma, tragando o cigarro uma última vez antes de apagá-lo. — Romanov, Romanov... você já está morto.
[...]
Naquela noite, revisitei os arquivos mais uma vez, memorizando cada rosto, cada detalhe das rotas de tráfico e cada fraqueza aparente no esquema. Sabia que, uma vez em São Petersburgo, estaria entrando no covil do inimigo. Mas era exatamente lá que eu brilhava.
Enquanto o relógio marcava as horas, preparei meu arsenal com armas pequenas e discretas, equipamentos de escuta, e o necessário para desaparecer se algo desse errado. O plano estava em ação.
— O primeiro passo era simples, fazer Korrin Romanov acreditar que eu era a aliada que ele precisava para consolidar seu poder. O último? Certificar-me de que ele nunca mais respirasse.
Que o jogo comece.