capítulo 21

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⚠️ AVISO ⚠️

Neste capítulo há menções a abuso físico, sexual e vômito. O conteúdo é gráfico. Se preferirem, podem pular o capítulo. Caso não queiram pular tudo, haverá uma sinalização indicando onde termina a parte mais pesada.

A partir daqui, começa o conteúdo sensível.

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Pov autor

Ela não sabia como começar. Mina, antes de pedir para Chaeyoung comparecer, havia conversado com a doutora Park sobre aquilo. Um trauma que seu cérebro tentou esconder várias vezes, transformando-o em uma lembrança borrada, onde nada era claro. Ela via tudo confuso e se recusava a querer lembrar. Mina assentiu repetidas vezes, limpando as lágrimas e suspirando.

Olhou para a mulher de cabelos castanhos.

— Eu... eu quero que a Chaeyoung esteja nessa sessão. Quero que ela escute e esteja comigo. Pode ser? — jihyo assentiu, observando a loira se sentar no pequeno sofá, nervosa, mexendo na própria unha.

Mina respirou fundo, enquanto ouvia tudo o que aquele desgraçado tinha feito com ela. Já Chaeyoung, que normalmente arrumava as revistas desordenadas na mesa de centro, permaneceu imóvel, olhando fixamente para as mesmas, como se estivesse resistindo a algo.

Jihyo  pigarreou.

— Você sabe que a terapia em dupla custa mais.

O olhar que a morena lançou foi o suficiente. Era o mesmo olhar que ela sempre dava quando já estava ciente de algo. Jihyo deixou passar, observando Mina puxar Chaeyoung para sentar ao seu lado, segurando sua mão.

Ela sentou-se em frente às duas, mas não em sua mesa como de costume. Escolheu o sofá ao lado.

Mina pediu permissão para falar.

— Quer que eu conte?

A loira negou, engolindo em seco e apertando com mais força a mão de Chaeyoung. Mina agradeceu por Chaeyoung estar com a expressão franzida, mas sim com um rosto neutro e atento, quase compreensivo. Mina respirou fundo novamente antes de começar.

— Nas primeiras semanas em que moramos juntas, você nunca se perguntou por que eu tinha todas aquelas cicatrizes que você tratou com um creme? Ou por que eu me escondia quando algum acidente acontecia na sua frente? Ou por que eu ficava tensa quando você me tocava?

Chaeyoung assentiu.

— Por que... por que você nunca perguntou?

— Bom... porque queria esperar até que você quisesse me contar, como agora.

A loira esboçou um sorriso triste, cobrindo o rosto enquanto começava a soluçar. Chaeyoung acariciou suas costas e engoliu em seco. Mina virou-se para a doutora.

— Deixa a doutora Park contar para você. Eu tenho vergonha.

Chaeyoung havia se preparado mentalmente durante toda a semana para algo frio, duro e hostil. Estava pronta para receber a informação e saber como apoiar sua ômega no momento certo. Mas nunca havia se preparado para ouvir o que Jihyo disse com a voz quebrada, sem querer imaginar como seria se Mina  tivesse contado.

— Mina foi abusada sexualmente pelo tio desde os 13 anos. Começou com toques, depois ele a obrigava a assistir pornografia com ele e descrever atos sexuais. No aniversário de 18 anos dela, ele a violentou. Também sofreu abusos físicos do pai, que tinha acessos de fúria, e foi abandonada pela mãe aos 10 anos.

De repente, tudo fez sentido. Por que Mina havia vomitado ao falar sobre isso, como ela conseguiu sobreviver a tudo isso e por que agia de certas formas. Chaeyoung não esperava, mas começou a entender instantaneamente os sentimentos de sua ômega.

Jihyo  percebeu as lágrimas escorrendo pelo rosto da morena, que apenas assentiu repetidas vezes, tentando se manter firme enquanto acariciava as costas de Mina com mais carinho.

Mina voltou a falar, com a voz trêmula.

— Ele... ele me fazia chamá-lo de “amor” e, quando você me chama assim, esse momento volta à minha mente. Chaengie, ele é mau. Ele sempre encontra uma maneira de viver em mim e estar perto de mim. Quando você faz isso, eu queria esquecer e criar novas memórias boas, mas simplesmente não consigo. Eu sou uma ômega marcada. Marcas de tantos tipos que talvez você nunca seja minha primeira vez em nada disso porque estou manchada. Cada centímetro do meu corpo está manchado, usado.

Chaeyoung negou com a cabeça, engolindo em seco, e respondeu.

— Posso te tocar? — Como nos primeiros dias, quando ela precisava pedir permissão para não ser empurrada ou algo assim. Mina assentiu. — Deus, Minari , você era uma criança... uma criança indefesa, não podia ter feito nada. Tudo o que você suportou, tudo isso, te faz uma pessoa muito forte. O que você sofreu em silêncio, sendo apenas uma criança...

A loira saiu do seu esconderijo e começou a falar, pela primeira vez sendo completamente ouvida pelas duas mulheres.

Mina se aproximou da cama onde Chaeyoung estava pensativa e se sentou ao seu lado, evitando olhar para ela.

— Agora... você sabe tudo. Entendo se...

— Você era uma criança, Mina, uma criança indefesa naquele ambiente. Nada disso foi sua culpa. Todos os outros falharam, por te expor a essa situação desde os 10 anos. Por favor, não ache que isso me faz sentir nojo de você. Me faz sentir raiva, sim, porque ninguém esteve lá para te proteger, mas com você, de forma alguma. Eu realmente acho que você é uma pessoa muito forte — beijou sua testa, abraçando-a, fazendo com que uma pequeno sorriso surgisse no rosto de sua ômega. — E, como diria Jaehyun? E a que aguentar...

                                             Aqui termina o conteúdo sensível! 🦖⚠️

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— É 'E a que aguentar' — ela vê a morena assentir, mas logo a observa. — Você realmente pensa isso de mim?

— Isso e muito mais. Por favor, nunca pense que seu passado me faz sentir nojo de você ou que qualquer coisa em você me repugna. Isso só me faz querer te abraçar para sempre, para que nada de ruim aconteça com você.

Então, Mina sorriu novamente, abraçando-a e se aconchegando em seu ombro até que ouviu a voz de sua alfa.

— Enquanto isso, precisamos dormir. Quer ver um filme?

— Que não seja de terror, já está tarde...

Era um dia normal. Mina apenas viu sua alfa colocar as pantufas para pegar pipoca enquanto ela escolhia um filme qualquer. E ali, ela notou as marcas nas mãos de Chaeyoung, que já estavam desaparecendo.

A chuva já não caía tão forte, e se o fazia, passava a segundo plano, porque Mina estava tão focada em viver sua vida que já não a afetava como antes. Antes, a chuva a deprimia e a fazia chorar.

Ela se aninhou em sua almofada, suspirando, e então deixou a última lágrima cair, a última lágrima que ela iria derramar por causa daquilo. Porque, finalmente, conseguiu falar, finalmente pôde liberar tudo.

Pouco a pouco, soltou a última lágrima que precisava chorar por aquele amargo e pesado passado.

Um passado que ela pensou que afastaria sua alfa dela, que faria Chaeyoung sentir nojo ao saber que ela não seria a primeira vez e que estava "corrompida". Mas, ao invés disso, foi algo que ela contou, e foi recebido, compreendido e totalmente apoiado. Mina se aconchegou completamente no peito de sua alfa, sentindo o cheiro de menta que aos poucos se misturava com o seu, e finalmente falou, pela primeira vez, sem medo, porque estava totalmente segura do que sentia e sabia que era correspondida. Falou alto, como nunca pensou que faria, debaixo de um teto onde vivia cercada de amor, carinho e respeito. Falou claramente.

  Eu te amo ,chaengie

Não precisou de resposta, porque sentir o coração de sua alfa bater como se fosse explodir, prestes a sair do peito, foi suficiente.

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WHEN THIS RAIN STOPS ° MICHAENG Onde histórias criam vida. Descubra agora