WILD ONE

Capítulo 1

Meu celular berrou com The Weeknd cantando "The Hills", e demorei um pouco a atender só para soltar a voz no trecho "I only call you when its half past five"" junto com o cantor. Do outro lado da rua, minha vizinha fechou a janela da sala com força. Eu não podia desperdiçar um toque de celular como aquele, essa é a verdade.

— Ei, gata — disse Amy do outro lado da linha, estourando uma bola do chiclete que estava mascando. —Estou passando ai.

—Tudo bem.

Hoje seria o dia que eu iria a um dos shows do namorado de Amy. Pode parecer clichê mas nós somos melhores amigas desde que nos conhecemos por gente, sério, nossas mães eram amigas e fomos praticamente criadas juntas. Eu lhe contara coisas que nunca contara a ninguém. Tínhamos muitas piadas internas que só a gente entendia. Compartilhávamos nossa comida e não dividíamos a conta do mercado, porque não ficávamos conferindo quanto cada uma tinha gastado. O que era meu era de Amy. Também não guardávamos segredos uma da outra. E, quando brigávamos, nunca íamos dormir com raiva. Ficávamos acordadas até fazermos as pazes, mesmo que isso significasse passar a noite em claro.

20 minutos se passaram e Amy estacionou seu Neon em frente a casa, ela buzinou algumas vezes, como se eu já não soubesse que ela tinha chego. Sai de casa usando um par de botas curtas, um vestido preto largo e uma jaqueta jeans.

—Finalmente você vai conhecer Derek. —disse Amy assim que eu entrei no carro.

Eu nunca tinha tido a chance de o conhecer pois eu sempre estava ocupada dividindo meu tempo entre o trabalho e a faculdade, era cansativo mas eu sabia que compensaria no futuro. Amy pelo ao contrario nunca precisou se preocupar com isso, ela vem de uma família rica onde ter 3 carros diferentes para usar na semana é normal. Admito que nós somos diferentes de todas as maneiras imagináveis: jeito, aparência, estilo, questão financeira e etc mas isso nunca nos impediu, eu confiava nela de olhos fechados.

Acabamos de chegar no lugar do show. Era em um bar com piso de madeira, mesas de madeira, balcões de madeira, se tivesse uma infestação de cupins o lugar todo iria sumir. Havia um palco mais a frente onde eu presumi que seria ali onde a banda iria tocar, Amy me arrastou até o balcão e pediu "o de sempre" o que me fez pensar quantas vezes ela já esteve ali sem mim. Algum tempo depois o barman nos entregou dois copos com um liquido amarelado dentro, Amy deu o seu melhor sorriso para ele e agradeceu, Deus, ela era a rainha do flerte.

Amy olhou para mim com um sorriso travesso.

—No já a gente vira.

Assenti com o mesmo sorriso, fazia tempo que eu não saia para beber.

Contamos até três e então ambas viramos o copo, senti o liquido descer pela minha garganta queimando e fiz uma careta. Ok, eu não estava acostumada a beber e sim, eu odiava o gosto de bebida e digamos que com apenas dois copos eu já consigo ficar tonta.

—Forte. —Disse ainda com uma careta no rosto me referindo ao gosto.

—Mas gostoso. —Deu de ombros.—Vou até os fundos ver como Derek está.

—Ok.

Agora eu me encontrava sozinha, olhei para o meu copo quase vazio, ainda tinha sobrado um restinho da bebida e eu virei me arrependendo no mesmo instante, eu oficialmente tinha odiado essa merda. Escutei o sininho da porta e assim que minha cabeça virou em direção a entrada eu congelei, a última pessoa que eu esperava ver estava aqui.

Meus joelhos de repente pareciam feitos de areia. Respirar doía. De uma hora para outra, o fantasma de Jace parecia estar por toda parte. Eu me lembrei da primeira vez que nos beijamos, nos fundos da escola. Fiquei calada sentindo meu coração afundar, Inspire, expire. Bem quando eu tinha conseguido seguir em frente, Jace voltava à minha vida, me arrastando para o ringue, para o segundo round. Eu poderia rir da ironia daquilo tudo. Rebobinei minha memória vários meses, até chegar ao outono. Jace era calouro em Stanford fazia cinco semanas quando terminou comigo. Pelo telefone. Em uma noite em que eu realmente precisava dele ao meu lado. Eu não queria nem pensar sobre aquilo agora, doía demais lembrar o que tinha acontecido naquela noite. Como tinha terminado.