Capítulo 1

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Sorrisos. Mamãe sorria pra mim e a única coisa que eu queria era ver mais sorrisos como esses. Felicidade. Isso me definia quando estávamos juntas. 

Mamãe segurava na minha mão como se falasse que não soltaria jamais. Mamãe desviou os olhos do meu ainda com um sorriso e a encarei encantada. A última coisa que ouvi foi um barulho estrondoso e ela mexendo a boca em um último "Eu te amo".

Não, não, não!

-Alyssa! Alyssa! - Ouvi alguém me chamar como se fosse no fundo da minha cabeça. - Meu amor acorda.

Levantei abruptamente me sentando na cama com a respiração ofegante e encontrei os olhos da Ava me encarando com carinho.

-Não chora querida. - Ela me abraçou afagando meus cabelos. - Sonhos ruins, de novo? - Perguntou quando nos afastamos.

-Era a mamãe. - Sussurrei olhando para as minhas mãos sobre a coberta. - No dia do acidente. - lágrimas caíram dos meus olhos deixando a minha visão turva.

-Oh meu amor, vem cá. - Ava sorriu pra mim e me abraçou novamente. - Você precisa descansar, amanhã você tem obrigações a cumprir.

-Odeio isso tudo. - Murmurei voltando a me deitar.

Ava me deu um beijo na testa e sentou na poltrona. Às vezes ela sentava ali para me olhar dormir e na maioria das vezes ela dormia. Ou acordava com os meus sonhos ruins. Ava era como uma mãe pra mim e se tinha uma pessoa que eu tinha que agradecer nesse mundo era ela. Ela sempre me deu apoio depois da morte da mamãe, se nao fosse ela eu nem sei o que seria de mim. 

Senti meu celular vibrar no travesseiro ao lado e o peguei lendo uma nova mensagem:

"Ei gata, vamos esperar no mesmo lugar de sempre.                                                                                           Beijos, Ben!

Sorri pra mim mesma e fingi dormir. 

Assim que Ava voltou a dormir, resolvi colocar meu plano em pratica. Emma já estava me esperando com o Ben a duas quadras. Confesso que já fiz isso muitas vezes e nunca fui pega, o que sempre foi um alívio.

Ava acabava descobrindo as minhas saídas. Mas nunca me criticou, pelo contrário, acabava me incentivando pelo meu pai ser tão conservador. Para ele a filha do prefeito não poderia ter defeitos, tinha que ser perfeita. Cabelo sempre arrumado, roupas lindas e deslumbrantes , sorriso sempre no rosto, postura ereta e etc. Na maioria das vezes eu me sentia sozinha e desconfortável. Nunca gostei de ser pressionada, e meu pai por sua vez fazia isso muito bem.

Depois que a mamãe morreu, ele decidiu ser ainda mais ríspido e se trancar no seu próprio mundo. Os anos se e cada vez mais eu me sentia sufocada. Festas de gala, compromissos, estudos, caridades e etc. Ele nunca me deixou ser uma garota normal, com apenas 16 anos. Sempre tive que ser exemplo, o que na maioria das noites se tornava impossível.

Caminhei lentamente até o meu closet e digitei a senha para abrir a gaveta secreta. Papai sempre disse que eu tinha e guardar as joias em uma gaveta com senha, mas eu acabei usando uma das gavetas para outra coisa. A gaveta continha basicamente: roupas normais, tênis, algumas maquiagens –além das que ele tinha consciência- e algumas lembranças da mamãe. Papai mandará colocar tudo em um quarto que foi especialmente guardado para ela. Eu não queria ter que ir em outro cômodo da casa para ver uma foto dela, por isso eu guardava algumas lembranças dela ali. Toquei levemente uma das fotos e sorri para ela, onde quer que estivesse.

Mamãe sempre me entendeu, apesar de ser a mulher do prefeito ela se sentia sufocada. Quando ela se sentia assim, ela ia até o meu quarto mandava eu vestir roupas normais e íamos ao cinema. Esses foram melhores dias da minha existência. Eu me sentia livre e tinha ao meu lado a pessoa que eu mais amava.

A Filha Do PrefeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora