Birthday

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Acho que devia falar mais de mim próprio. Bem, sou um adolescente típico com a pequena variante de que sou muito deprimido com tudo. A razão? Temos, em primeiro, eu ser filho do divórcio, que, por acaso, o pai não dá a mínima para mim. Depois, temos eu ter mudado recentemente para a cidade e ter perdido todos os meus amigos e conhecidos. É complicado ir morar para um sítio onde não se conhece ninguém, ainda mais que onde eu vivia era Rei. E para compensar, a minha mãe e o meu irmão estão sempre a discutir em casa por causa da namorada dele. Vida boa!

Enquanto ia para a escola apenas rezava que ninguém ligasse o Facebook e visse quem é que fazia anos. Não tinha interesse em que me desse os parabéns. Sim, eu não tenho uma boa relação com os meus colegas de turma. Tenho as minhas razões.

Cheguei à escola. Hora do desespero.

- Olá - Disseram umas colegas minhas.

- Olá - Sorri e ri-me. Acho que o meu sorriso é uma das poucas coisas que tenho de bom. Odeio a minha cara e o meu corpo. O meu cabelo é um desastre e ando de uma forma estranha. Mas também eu já não ligo para o que acham de mim.

Entrei para a aula.

Enquanto a professora de Física e Química escrevia coisas aborrecidas no quarto e ia vendo se alguém dos meus amigos da minha antiga vila me desejava um feliz aniversário. Não que tivesse nada combinado a não ser um almoço de família. A dada altura, notei que um colega meu pegou no telemóvel. O sangue subiu me imediatamente. Enquanto ele desbloqueava o teclado, o meu coração começou a pulsar. Tinha de arranjar alguma maneira de ele arrumar aquilo. Mas como? Olhei para o quadro e o meu cérebro fez a magia dele.

- Professora, temos de que usar a componente vertical? Não podemos usar o angulo na forma, diretamente? - Foi o melhor que arranjei no curto espaço de tempo que tinha. Ela ficou a olhar para mim.

- Não, tens de fazer assim como eu digo! - Agora mais calmo, olhei de novo para os cálculos e percebi que eu tinha razão.

- Mas se fizer as contas da minha maneira dá exatamente a mesma coisa. - Argumentei.

A professora pegou na máquina e fez uns três cálculos. Depois chegou ao pé de mim e disse: 

- Afinal tens razão, onde aprendeste isso?

- É de caras! - Só depois de dizer isso é que percebi o erro que tinha cometido. - Pelo menos para mim. 

- Ah, sim. Todos sabemos que pensas de uma forma.. Diferente. - Replicou ela. Eu sabia que a tinha magoado. Não é como se ela fosse perita em dar aulas. Era muito bipolar. Conseguia ver que ela também tinha uma vida difícil.

Ao sair de transe, olhei para a sala. Estavam todos a olhar para mim como se fosse uma aberração, até ao momento em que alguém olhou para mim de uma forma diferente e perguntou: 

- Hoje não é o teu aniversário?

- Sim, é. - Já me lixaram. E preparei me. Começaram todos a dar me os parabéns com olhares cínicos e falsos. Eu odeio os tanto.

Quando a aula acabou, saí o mais rápido possível  daquele ambiente tóxico e fui passando pelas resmas de alunos que ia encontrando. Ouvi alguém a dizer "O gayzinho faz anos hoje, temos que lhe dar uma prendinha". Se fosse as prendas que me tinham dado no passado não tinha interesse. É provável que já tenham percebido que eu era vítima de bullying naquela escola por parte dos meus colegas. Não gosto de entrar em detalhes mas foi tanto físico como psicológico. Comecei a pensar na vida que tinha há um ano e como sentia falta dos meus amigos da antiga vila. As lágrimas vieram me aos olhos. Só queria que hoje me deixassem em paz.

As aulas foram passando até que chegou a altura do almoço. A minha mãe veio me buscar à escola e levou me a casa. Estavam lá os meus avós e o meu irmão. Eu adorava o meu irmão, ele era como um pai para mim. Os meus avós também eram um grande reforço para mim. Ambos ajudaram me muito na minha mudança não só de casa mas como também de vida. Mas, eu amava especialmente o meu avô. Eu não imaginava a minha vida sem ele.

Depois do almoço a minha mãe levou me à escola de novo e pediu me que convidasse alguém da minha turma para ir lá a casa hoje. Não tinha vontade nenhuma, mas lá aceitei.

Cheguei, de novo, à escola.

- Elisa, queres ir ao meu aniversário? - Elisa era a rapariga com quem me dava melhor. Talvez porque eu e ela estávamos no mesmo barco. Ou apenas por ela ser boa pessoa. Com mesmo barco quero dizer: eu não sabia qual era a minha orientação sexual, ainda mais as aquela pessoas da escola diziam todas que eu era gay mesmo quando eu dizia que não era. Nunca tinha estado com um rapaz. Não sabia mesmo. Mas, voltando à Elisa. Ela era um modelo para mim. Era assumiu se bissexual perante toda a gente sem qualquer problema. E ninguém se importava. Devia ser por ser rapariga.

- Hoje não dá, tenho couro. - Respondeu ela.

- Deixa lá, então. - Disse e fui me embora contente por não ter que continuar a conversa.

As aulas acabaram e fui para casa.

Abri a porta e estavam umas 10 pessoas que eu reconhecia. As lágrimas vieram me aos olhos, mas desta vez saíram mesmo. Estava surpreendido

The Story of a Depressed TeenOnde histórias criam vida. Descubra agora