Prólogo

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França, Paris - 6:30 a.m.

Acordei como todos os dias fazia. O despertador tocava, eu o desligava, levantava da minha cama com dossel - sempre fora meu sonho de criança ter um quarto de princesa, eu era quase uma mesmo- e seguia os ritos matinais que todas as pessoas faziam. Escolhi uma roupa qualquer, pensando, inconscientemente, o que as pessoas pensariam da minhas escolha, mas mais especificamente o que ele pensaria.

Naquele dia coloquei uma blusa azul que destacava a cor dos meus olhos, uma calça jeans de lavagem clara e uma sapatilha simples.

Devia ter me vestido de preto, afinal seria um dia de luto. Mas vamos apenas ignorar esse detalhe, pois eu ainda não sabia o que viria a acontecer naquele dia ensolarado.

- Dia bonito, não? - Perguntei chegando na sala de jantar onde minha mãe, padrasto e irmão tomavam o café.

- Olha ela acordou de bom humor. - Meu irmão pontuou arrumando os óculos no lugar.

Peguei uma maça e um pedaço da panqueca meio comida que estava em seu prato. Me afastei dele pensando se respondia sendo grosseira ou se reparava na estranha mudez que acompanhava minha mãe naquela manhã, geralmente seria ela que comentaria meu humor, não Lucca, meu irmão.

- Acho que não é um bom momento pra ser mal educada com você, meu doce - Sabia que chamá-lo assim o irritaria, fiz por isso mesmo - Por que está quieta, mama?

- Não é nada querida. Espero que vocês tenham olhado o relógio, se não estou cega, vocês tem 15 minutos pra ir para o campus. - Ela pôs fim na conversa, rapidamente.

Eu sabia que ela estava mentindo.

Chegamos na universidade com cinco minutos de sobra. Queria eu estar atrasada.

No momento que sai do carro escutei o barulho de uma mensagem chegando no meu celular, que estava no meu bolso. Recentemente tenho odiado esse som.

Como minhas suspeitas indicavam, era mais uma mensagem anônima. Abri a mensagem pra saber qual a ameaça da vez. Admito que as mensagens me assustavam um pouco, mas eu me recusava a me intimidar totalmente pelo conteúdo delas. A ameaça da vez, não era propriamente uma ameaça, era só um aviso, um comentário. A pessoa queria compartilhar sua ação comigo.

Eu não admirei tanto assim esse seu ato de solidariedade.

Boatos correm mais rápido do que você pode correr para os braços do seu amado, mon cher. Passarinhos me disseram que uma aluna está envolvida no segredo sujo da vez... Mas você adora ser o centro das atenções, não é? Boa sorte, é só mais um passo pra verdade completa.

No mesmo momento que acabei de ler a mensagem, Elléne chegou ao meu lado, seus olhos que corriam de um lado para o outro e seu sorriso levemente psicopata indicavam que ela tinha fofocas para compartilhar.

- Fiquei sabendo de umas coisas, tenho que te contar, agora. - Foi o que ela disse.

A menina que sempre foi uma das minhas melhores amigas na França não sabia que eu era o foco da fofoca que enchia seu dia. Ela também não sabia que estava selando o meu futuro ou contribuindo pra que ele se tornasse um presente próximo.

Chegando em casa naquele dia fatídico, a única coisa que eu conseguia pensar, além da expressão que vi no rosto dele quando tomei minha decisão, era em chorar até dormir, talvez realizar isso dentro da minha banheira em um banho quente.

Mas o universo concordava com a lei de não-sei-quem sobre o fato de que tudo que está ruim pode ficar ainda pior.

Minha mãe parou a mim e ao meu irmão na sala, deixando evidente que tinha um assunto sério pela frente.

- A avó de vocês morreu. Deixou a casa em Verona pra vocês. - Ela disse direta.

Minha mente virou uma zona. A única avó que tínhamos contato era a paterna. Ela morava na Itália, meu país natal, sempre passávamos os verões em sua casa, tomando chá no entardecer e roubando algum vinho dos produtores vizinhos durante a madrugada. Só podia ser ela.

Minha mãe acabou de dizer que a velhinha mais doce e divertida que eu conhecera na vida morrera e que deixara sua casa de herança. Associado com o um stress matinal, foi o bastante pra fazer minha pressão cair e o mundo todo girar sobre meus pés. Cai sentada sem reação.

- Vamos ao enterro amanhã.- Sem mais uma palavra ela subiu para o seu quarto.

Em total silêncio meu irmão me levantou, me ajudou a subir as escadas me lavando ao meu quarto. quando eu desabei em lágrimas, ele me abraçou e chorou comigo.

Foram duas perdas naquele típico dia francês ensolarado.

Sempre gostei de observar as luzes da torre Eiffel antes de dormir. Dava pra vê-las da janela do meu quarto. Mas a única coisa que conseguia pensar hoje - dois dias depois do ocorrido citado acima - ao observar a torre, era que eu estava me despedindo de Paris, me despedindo da minha vida na França e voltando para uma infância quente entre os vinhedos e colinas italianas. Voltando pra Verona por tempo determinadamente indeterminado. Ficaria lá até pelo menos sair da faculdade. Meu coração pedia pra vê-lo, mas minha mente achou a morte da minha Nonna um ótimo motivo pra se abrigar longe dele pra sempre.

É pro seu bem.

Minha mente repetia pro meu coração.

Dando uma última olhada nas minhas malas, me deitei e adormeci vendo seus olhos azuis experientes, tristes, me olhando pela ultima vez em um doce sonho.






Comentem e indiquem, por favor, é importante. Até o próximo capítulo bambinas, xoxo. 

-Kiara

Incasinato BambiniOnde histórias criam vida. Descubra agora