Suas saias balançavam lentamente embaladas pela brisa que corria. Estava em pé na varanda de uma casa de campo. Mais à frente, sua vista era tomada por um mar de flores amarelas. Talvez tivesse retornado a Florença? Mas quando? Não lembrava de ter feito nenhuma viagem.
- Tina...
Levou uma das mãos ao rosto, uma mecha de cabelo teimava ficar em sua visão, quando percebeu que suas mãos estavam mais longas, mais velhas...
- Tina! - Escutou uma voz distante chamar. - Valentina, acorde!
- O que foi? - Levantou de súbito, assustada - Brando? - Fitou seu irmão. Olhou para o relógio e estava sendo marcado 4h.
- A Mamãe... Ela acabou de chegar, Tina. - A confusão tomava conta de suas palavras. - Ela não está bem... Ela está chorando. - Colocou as mãos na cabeça - Eu não sei o que fazer.
_ Você não acordou a Sandra, acordou? - Sentou-se na beirada da cama e acendeu o abajur. Os olhos de Brando estavam vermelhos, ele recuou com a luz, talvez não tivesse pregado os olhos a noite inteira.
- Claro que não. - Esfregava os olhos.
- Melhor assim. Agora vá dormir, eu vou ver o que posso fazer pela mamãe.
Brando obedeceu, apesar de ser bem mais velho que a irmã, ele não sabia como agir quando sua mãe passava por essas crises. Valentina pegou o primeiro roupão que achou e calçou uns chinelos. Prendeu os cabelos no topo da cabeça e foi espiar pela janela, o céu ainda estava bem escuro, era Outono de 1985, o sol só iria despertar horas mais tarde. Desceu as escadas com rapidez, foi à cozinha e preparou uma xícara de chá. Subiu novamente as escadas indo para o quarto de seus pais, chegando lá encontrou sua mãe ainda com seu vestido e sapatos de festa jogada sobre a cama... Estava desolada. Chorava copiosamente.
- Vá embora, Valentina. - Sophia escondeu o rosto manchado pela maquiagem desfeita e apontou para a porta - Volte para o seu quarto, Valentina... Eu estou bem.
A garota colocou a xícara de chá nas mãos da mãe, que apenas recebeu, estirou as pernas de Sophia e tirou seus sapatos.
- Estou bem, Tina... Acredite. - A mulher segurava o choro.
A menina esticou as cobertas e ajeitou os travesseiros para que sua mãe se acomodasse melhor. Ela não falaria nada, ela nunca falava.
- Seu pai é um bom homem, Tina... Eu só estou um pouco sensível. Não pense besteiras sobre ele, por favor. - Sophia segurou as mãos de sua filha. - Somos mulheres de responsabilidades, minha filha. Você entenderá no futuro, eu prometo.
Valentina apenas assentiu e se dirigiu ao banheiro, iria pegar lenços úmidos para enxugar as lágrimas de Sophia...
- Sra. Collins.
A voz masculina rompeu quarto adentro.
- Entre. - Valentina respondeu.
David Hill abriu a porta e ficou um passo fora do quarto. Era um sujeito novo, de queixo quadrado e ombros largos. Observou Valentina e continuou:
- O Governador Collins pediu para apressá-la, o presidenciável Jeb Bush acaba de chegar e pede para ver a senhora.
- Cuidado ao chama-lo de "presidenciável" na frente do Andrew, sim? É "Senhor Presidente". Sabe como esses homens são. - Tentou sorrir.
- Entendo, senhora.
Valentina foi até o espelho que deixava ao lado do closet. Retirou o pano que o cobria e se admirou em frente a ele.
- O que acha, Hill? Estou apresentável?
- Sim, Senhora. Está belíssima. - O segurança desviou o olhar para o chão. - Perdão.
- Não. Não precisa se desculpar. Me faz bem um elogio sincero de vez em quando. - Colocou o pano novamente sobre o espelho.
- Se me permite perguntar, Senhora. - Pigarreou - Porque sempre mantém esse espelho escondido?
Um leve mal estar tomou conta de Valentina. O sorriso que sustentava em seu rosto tentava fugir.
Não. Eu tenho responsabilidades.
Tomou o fôlego novamente e virou-se para David.
- Algumas histórias de família que gosto de manter guardadas. - Abriu um largo sorriso. - Agora vamos deixar de conversa, sim? Tenho que levar meus encantos de anfitriã ao salão, meus convidados importantes me esperam, não é? - Foi em direção a porta.
- Sim, Senhora.
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Garoto de Aluguel
RomanceFilha de uma família antiga, tradicional e influente de políticos italianos, os Fiore, Valentina, atual Sra. Andrew Collins, segue a risca o que lhe fora ensinado desde menina. Cresceu destinada ao bom casamento, ao status elevado da sociedade e da...