Lola

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Lá estava ela, Lola, era seu apelido. Cabelos negros e cacheados, batom vermelho e delineador compunham sua imagem. Roupa amassada, short jeans cor clara e curtíssimo, coturnos em seus pés. Jaqueta de couro, e um cigarro na mão direita, ela andava descontraidamente pela calçada suja durante a madrugada sombria, por volta das três da manhã. Virou a esquina e deparou-se com a placa em neon vermelho do motel Flor de Lótus. Parou de andar, tragou e ouviu um carro frear com tudo ao seu lado. O vidro abaixou, revelando um homem na flor da idade, loiro, olhos escuros. Ele disse "O que faz sozinha por estas bandas nessas horas da madrugada, moça? Posso lhe fazer companhia, se desejar". Ela sorriu com o canto dos lábios e se inclinou pela janela do passageiro, "Estou apenas dando uma volta... e para onde desejaria me levar, senhor?". Ele sorriu com os cantos de seus lábios, e com o olhar mais sujo e malicioso que pode formar, a encarou bem profundamente nos olhos "Entre e eu a farei esquecer de tudo. Terá a melhor noite de sua vida". Os dois se encararam e o homem destrancou a porta. Lola sem hesitar, entrou. Mas logo que fez, se arrependeu.

Foi um lampejo de luz, uma memória veio-lhe a mente, tão doce e fresca como no dia do ocorrido. O cheiro despertou o déjà-vu que sentiu, trazendo de volta uma lembrança de sua infância. A colônia masculina que infestava o Impala 67 do homem, era a mesma colônia que o pai de Lola usava nos seus dias de juventude, antes de morrer.

O homem passou sua mão pela coxa de Lola, acariciando levemente. Ela o parou. Atordoada, abriu a porta do carro e correu. Correu como nunca antes correra. Lola esteve na estrada durante muito tempo, livre de limites e vivendo sóbria consigo mesma, porém ela já tem viajado durante muito tempo, tentado muito forte conseguir encontrar motivos para levar esta vida adiante, e chegou à conclusão de que motivos para desistir, não faltam, mas de alguma forma uma voz dentro de sua cabeça não deixava que ela cedesse. Algumas lágrimas queriam escapar de seus olhos, mas Lola se manteve forte e não derrubou uma gota se quer. Continuou correndo, em busca de redenção, quem sabe.

Chegando a um estacionamento, no fim da avenida, ela avistou um conversível preto e seu coração disparou, fora amor à primeira vista. Depois de alguns minutos trabalhando para roubá-lo, ela entrou e começou a dirigir. Apenas dirigiu. Rápido. Vento em seus cabelos, um sorriso de orelha a orelha e uma bela canção. Fugindo dos grandes prédios de concreto daquela cidade adormecida, ela correu na noite, focando apenas na estrada e em seus pensamentos e lembranças mais profundos... E então a verdadeira liberdade apareceu. Lola baixou suas defesas que trabalhara tanto em construir, permitindo-se, por fim, sentir a dor da perda e do abandono, afogando em sua própria loucura.


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⏰ Última atualização: Aug 12, 2015 ⏰

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