Cheguei em casa, vi pela janela movimentações estranhas em minha sala. Estava péssima, não queria que me vissem daquela forma e provavelmente seria alguém da minha família que me encheria de perguntas que eu não me sentia confortável para responder, acabaria me derramando em lágrimas. Logo encontrei uma solução, entrei pelos fundos e dei um jeito de subir as escadas em direção ao meu quarto sem que ninguém me visse. Agora estava tudo bem, era somente eu, não existiam outros rostos me atormentando como se quisessem falar "O que ela tem?" "Ela está pessima!". Nunca havia me sentido assim antes, estava sempre rodeada de amigos, com ocupações ou outras coisas. O que eu tinha de errado? Porque estava assim? No silêncio passei horas pensando em tudo, absolutamente tudo! Em o por que do meu pai me tratar daquela forma, o por que de eu ser tão diferente na frente das pessoas não muito próximas, o por que de ter acontecido aquilo na vida dos meus colegas de turma, o por que de ter perdido meu pai professor o por que de eu não ter uma vida tão próxima à Deus, o por que de tantas outras coisas. Eu parecia uma criança de sete anos tentando saber o por que de tudo, de repente passou um filme de todos os meus 15 anos de vida pela minha cabeça. Eu era igual, sempre igual, não mudava, agora eu via isso. Veio-me uma dúvida: haveria algum momento na minha vida que eu mudaria de vez que seria capaz de nem me reconhecer mais? Eu não enxergava que eu era eu quando estava literalmente sozinha, me via normal. Não me lembro de ter tido antes um momento só para mim mesma, eu só vivia para agradar aos outros e nada mais. É realmente, às vezes é bom pensar e refletir. Talvez não hovesse nada errado em mim. Talvez algo muito certo estava para acontecer comigo. Peguei no sono.
