APENAS OUTRO DIA CHEIO DE TENSÃO SEXUAL EM INGLÊS AVANÇADO

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Aria Montgomery sentou-se para a aula de inglês na segunda de manhã, bem na hora em que o ar lá fora começou a cheirar a chuva. O amplificador rangeu, e todos na classe olharam para o pequeno alto-falante no teto.
- Olá, galera! Aqui é a Spencer Hastings, sua vice-representante de turma! - a voz de Spencer soou alta e clara. Ela parecia desenvolta e confiante, como se tivesse feito um curso de oratória. - Quero lembrar a todos que os Rosewood Hammerheads vão competir com os Eels, a equipe de natação da Drury Academy. É a maior competição da temporada, então, vamos todos mostrar espírito de equipe e aparecer lá para apoiar o time! - Houve uma pausa. - Uhul!!
Uma parte da sala saiu. Aria sentiu um calafrio de desconforto. Apesar de tudo o que havia acontecido - o assassinato de Alison, o suicídio do Toby, A - Spencer era a presidente ou a vice de todos os clubes e associações que havia por ali. Mas, para Aria, a animação de Spencer soava... falsa. Ela tinha visto um lado de Spencer que as outras não conheciam. Spencer sabia há anos que Ali tinha ameaçado Toby Cavanaugh para mantê-lo calado sobre o acidente da Jenna, e Aria não podia perdoá-la por esconder delas um segredo tão perigoso.
- Muito bem, turma - disse Ezra Fitz, o professor de inglês avançado de Aria. Ele continuou a escrever A Letra Escarlate na lousa com sua caligrafia angular e, então, sublinhou quatro vezes as palavras.
- Na obra prima de Nathaniel Hawthorne, Hester Prynne trai seu marido, e a cidade a força a usar um enorme, vermelho e constrangedor A em seu peito, como lembrança do que ela havia feito. - O sr. Fitz virou-se para a turma e empurrou seus óculos para cima do nariz curvado. - Alguém se lembra de outras histórias que tenham como tema a desonra? Sobre pes- soas que são ridicularizadas ou expulsas por seus erros?
Noel Kahn levantou a mão e seu relógio Rolex de corrente escorregou pelo pulso.
- Pode ser aquele episódio do The Real World no qual os colegas da república votaram para a menina bizarra ir embora?
A sala toda riu, e o sr. Fitz pareceu perplexo.
- Pessoal, esta é, supostamente, uma aula de inglês avançado. - O professor se virou para fileira de Aria: - Aria? E você? Alguma ideia?
Aria hesitou. Sua vida era um bom exemplo. Não muito tempo atrás, ela e sua família viviam harmoniosamente na Islândia, Alison não estava oficialmente morta e A não existia. Mas, então, numa horrível sucessão de eventos que começara seis semanas antes, Aria voltou para a escola de Rosewood, o corpo de Ali foi encontrado embaixo da laje de concreto atrás da casa onde ela morava, e A revelou o grande segredo da família Montgomery: que o pai de Aria, Byron, havia traído sua mãe, Ella, com uma de suas alunas, Meredith. Essa revelação foi um golpe para Ella, que imediatamente colocou Byron para fora de casa. O fato de Ella ter descoberto que Aria guardou o segredo sobre Byron por três anos não ajudou muito. A relação entre mãe e filha não andava exatamente as mil maravilhas desde então.
Claro, poderia ter sido pior. Aria não tinha recebido nenhum texto de A nas últimas três semanas. Embora Byron supostamente estivesse morando com Meredith, pelo menos Ella havia voltado a falar com Aria. E Rosewood não tinha sido invadida por alienígenas ainda, embora, depois de todas as coisas estranhas que aconteceram naquela cidade, Aria não teria ficado surpresa se isso tivesse acontecido.
- Aria? - insistiu Fitz. - Alguma ideia?
Mason Byers veio em socorro de Aria:
- Que tal a história de Adão e Eva com a serpente?
- Ótimo - elogiou o professor, distraído. Os olhos dele ficaram pousados em Aria
por um momento antes de seguir para outro lugar. Aria sentiu uma sensação quente de excitação. Ela tinha ficado com o sr. Fitz - Ezra - no Snooker, um bar frequentado pelo pessoal da universidade, antes que qualquer um dos dois soubesse que ele seria seu novo professor de inglês avançado. Foi ele quem terminou com ela e, logo depois, Aria descobriu que ele tinha uma namorada em Nova York. Mas ela não guardou mágoa. As coisas iam bem com seu novo namorado, Sean Ackard, que era um doce e, por acaso, também era bonito.
Além do mais, Ezra era o melhor professor de inglês que ela já tivera. No primeiro mês de aula, ele já havia indicado quatro livros incríveis e encenado uma comédia baseada em The Sandbox, de Edward Albee. Em breve, a classe iria fazer uma interpretação de Medeia - a peça grega na qual a mãe mata os próprios filhos, no estilo Desperate Housewives. Ezra queria que eles pensassem fora dos padrões, e fora dos padrões era o forte de Aria. Agora, em vez de chamá-la de "Finlândia", seu colega de classe Noel Kahn tinha dado a ela um novo apelido: "Queridinha do Professor". Era bom estar animada com a escola de novo, apesar de tudo, e às vezes ela nem se lembrava que as coisas com Ezra tinham sido complicadas um dia.
Até que ele lhe lançou um sorriso sedutor, claro. Então, Aria não pôde evitar a empolgação. Mesmo que tenha sido uma empolgaçãozinha.
Hanna Marin, que sentava bem em frente a Aria, levantou a mão.
- Pode ser aquele livro em que duas garotas são as melhores amigas, mas então, de repente, uma delas fica malévola e rouba o namorado da outra?
Ezra coçou a cabeça.
- Desculpe... eu não acho que tenha lido esse livro.
Aria cerrou os punhos. Ela sabia o que Hanna quisera dizer.
- Pela última vez, Hanna, eu não roubei o Sean de você! Vocês... dois... já... tinham...
terminado!
A sala inteira explodiu numa gargalhada. Os ombros de Hanna ficaram rígidos.
- Alguém é muito egocêntrica - murmurou ela para Aria, sem se virar. - Quem
disse que eu estava falando de você?
Mas Aria sabia que ela estava. Quando Aria voltou da Islândia, ficou impressionada ao
ver que Hanna tinha mudado da escrava gorducha e desengonçada de Ali, para uma deusa magra, bonita, que usava roupas de alta-costura. Parecia que Hanna tinha tudo que sempre quisera: ela e sua melhor amiga, Mona Vanderwaal - também uma esquisitona transformada -mandavam na escola, e Hanna tinha até conseguido ficar com Sean Ackard, o menino de quem ela era a fim desde o sexto ano. Aria só tinha dado em cima de Sean depois de ouvir que Hanna o tinha largado. Mas ela logo descobriu que havia sido o contrário.
Aria tinha esperança de que ela e suas antigas amigas pudessem ser um grupo unido outra vez, especialmente porque todas tinham recebido mensagens de A. Mas elas não estavam nem se falando - as coisas tinham voltado para o mesmo ponto em que estavam naquelas semanas estranhas e cheias de preocupação, depois do desaparecimento de Ali. Aria nem tinha contado a elas o que A fizera à sua família. A única ex-amiga com quem Aria ainda tinha algum contato era Emily Fields, mas suas conversas, na maioria das vezes, giravam em torno das lamentações de Emily sobre se sentir culpada pela morte de Toby, até que Aria tinha finalmente insistido que não era culpa dela.
- Bem, de qualquer forma - Ezra colocou cópias de A Letra Escarlate na frente de cada fileira, para que os livros fossem distribuídos -, quero que todos leiam do capítulo um ao cinco essa semana e façam um trabalho de três páginas sobre qualquer assunto que tenham encontrado no começo do livro para sexta-feira. Certo?
Todos grunhiram e começaram a conversar. Aria colocou o livro dentro da sua bolsa de pelo de iaque. Hanna estendeu o braço para pegar sua bolsa do chão. Aria tocou o braço fino e branquinho de Hanna.
- Olha, eu sinto muito. De verdade.
Hanna puxou o braço, apertou os lábios e, sem falar nada, enfiou seu A Letra Escarlate na bolsa. Ele ficou entalado, e ela grunhiu de frustração.
Começou a tocar música clássica no alto-falante, indicando que a aula havia acabado. Hanna se levantou como se a carteira estivesse pegando fogo. Aria levantou-se lentamente, guardando a caneta e o caderno na bolsa e encaminhando-se para. a porta.
-Aria.
Ela se virou. Ezra estava debruçado em sua mesa de carvalho com sua velha maleta de couro cor de caramelo apertada contra o quadril.
- Tudo bem? - perguntou ele.
- Desculpe por tudo isso - disse ela. - Hanna e eu estamos temos algumas desavenças. Não acontecerá novamente.
- Sem problemas. - Ezra abaixou sua caneca de chá. - Todo o resto está bem?
Aria mordeu o lábio e pensou em contar a ele o que estava acontecendo. Mas, por quê? Pelo que ela sabia, Ezra era um fraco, como seu pai. Se ele realmente tinha uma namorada em Nova York, então ele a havia traído ao ficar com Aria.
- Está tudo bem - ela conseguiu dizer.
- Bom.Você está fazendo um ótimo trabalho na aula. - Ele sorriu, mostrando dois dos dentes inferiores, adoravelmente encavalados.
- Sim. Eu estou gostando muito. - Aria deu um passo em direção à porta. Mas, ao fazê-lo, tropeçou nas suas botas de saltos finos superaltos, indo parar na mesa de Ezra. Ezra segurou a cintura dela e a puxou para cima... e para perto dele. O corpo dele era quente e seguro, e ele cheirava bem - a pimenta em pó, cigarro e livros velhos.
Aria se afastou depressa.
-Você está bem? - perguntou Ezra.
- Sim. - Ela se ocupou arrumando o blazer do uniforme da escola. - Desculpe.
- Não tem problema. - Ezra enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta. - Então... até
mais.
- Sim. Até logo.
Aria saiu da sala com a respiração acelerada. Talvez ela estivesse louca, mas estava certa de que Ezra a havia segurado um segundo a mais do que o necessário. E ela tinha certeza de que havia gostado.

Perfeitas- PLL 03Onde histórias criam vida. Descubra agora