Divenire

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Seu nome era Rafael. Rafael havia nascido em uma família de exímios atletas: seu pai, sua mãe, até seu irmão mais velho, já haviam ganhado diversos prêmios e medalhas em competições de todos os tipos. O atletismo estava presente no sangue deles, e isto já durava gerações. Como seu irmão uma vez lhe disse, quando Rafael perguntou porque ele gostava de correr: "Bem, essa é uma boa pergunta. Acho que, quando corro, a sensação de poder sentir o vento quando meus pulmões estão clamando por ar... - ele riu - É maravilhosa. Toda vez que treino, toda vez que estou em um campeonato, me sinto vivo. É por isso que corro." Todos em sua família amavam correr.

Porém, Rafael era uma exceção. Desde pequeno, ele não demonstrava nem interesse ou aptidão para isso. Correr o dia todo no sol quente para depois ficar suado e com todos os seus músculos doendo? Não, muito obrigado. Sua verdadeira paixão era a água. A natação era a carreira que Rafael sempre sonhara em seguir. Naquela época, ele estava com quinze anos, e desde os seus sete, de segunda a quinta (a tarde, é claro), ele podia praticar na piscina da escola, após as aulas. Era maravilhoso. A única parte ruim sobre tudo isso era que seus pais não sabiam. Rafael odiava dizer que estava indo praticar atletismo, quando na verdade estava indo nadar. Eles bem que tentaram: instruíram-no desde pequeno a como ser um excelente atleta, matricularam-no em excelentes escolas, com pistas de treinamento e tudo o mais. Porém, ele não se encaixava em nenhuma. E é por isso que, quando Rafael se adaptou rapidamente a sua recente escola, claro que seus pais ficaram contentes. Ora, porque não iria ficar feliz, já que lá havia uma piscina (coberta, aliás ), tudo o que ele queria? Enfim, tudo estava indo bem. Até o dia em que seus pais decidiram fazer a ele uma surpresa.

Quem dera que aquilo fosse um sonho ou só um pesadelo. Rafael se lembrava muito bem: seus pais o levaram de carro até um local estranho que ele nunca tinha ido antes. Entraram, e eles lhe contaram a verdade, enfim: iriam inscrevê-lo em um campeonato, seu primeiro campeonato de atletismo. Droga, ele pensou. Não teve escolha, senão finalmente dizer a verdade. Eles ficaram em silêncio, ouvindo, atentos, às palavras do filho. Percebendo que o silêncio já durava fazia um bom tempo, Rafael começou a ficar preocupado. Ou irão me matar ou irão me mandar nunca mais por um dedo na água, que, pensando bem, são praticamente a mesma coisa, ele pensou. Os dois, seu pai e sua mãe, se olharam e ela lhe disse tudo o que ele não esperava ouvir: "Meu filho... Por que nunca nos disse antes? Não estamos bravos. Apenas queríamos que encontrasse o esporte ideal, e é claro que gostaríamos que este esporte fosse o atletismo. Mas, se como você nos disse, a sua verdadeira paixão é a água, então tudo bem. Não importa qual esporte você escolher, o importante é que seja feliz fazendo isso."

Depois daquele dia, a vida nunca foi melhor. Claro que as dificuldades estavam presentes, mas era definitivamente muito melhor poder treinar, ops, nadar, com seus pais (e até irmão) sabendo e apoiando do que fazer tudo em segredo. Rafael era realmente um exímio nadador, se destacando notavelmente em sua cidade, depois logo em sua região e depois de muito esforço, prática e dedicação, em seu país. Como seu avô, que era italiano, sempre dizia: "Divenire, mio figlio. Torne-se o que sonha." As palavras de sua mãe assim como as de seu avô foram a última coisa das quais ele se lembrou antes do apito soar e seus pensamentos se perderem na água.

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