Daitai Life

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— Aomine sensei... tem certeza? Há um limite para tudo, depois que se cruza não dá mais pra voltar.

Daiki ergueu uma sobrancelha, encarando o alerta sem qualquer sombra de seriedade. Pelo contrário, parecia enfadado ao ouvir pela terceira ou quarta vez a mesma coisa.

Só não dava as costas porque aquele velho senhor que o aconselhava havia ensinado e ajudado muito na longa caminhada durante estes seis anos. Entendia que, depois de acreditar tanto no rapaz, era difícil aceitar o não. Por isso descruzou os braços, ainda mantendo-se apoiado no batente, e coçou a nunca.

— Suman — pediu com insinceridade — Tenho certeza.

— Aa, então dessa vez é pra valer — o pobre homem deixou os ombros caírem. Passara pouco dos cinquenta anos, embora continuasse conservado e enérgico.

— Obrigado.

— Isso daqui é seu. Quer levar? — empurrou uma caixa cheia de cartas. Ela deslizou pela mesa até chegar a ponta.

Daiki saiu de seu posto e caminhou pelo pequeno cubículo até a mesa do seu editor. Pegou a caixa um tanto desinteressado. Lera as primeiras, as outras eram todas iguais. Sempre.

— Eventualmente elas vão parar — falou em voz baixa.

— Mas eu guardo todas pra você. Aviso quando encher outra caixa — o editor ficou em pé, deixando os braços caírem ao lado do corpo para fazer uma reverência perfeita — Por confiar em nosso trabalho, obrigado.

— Aa — foi tudo o que Aomine disse antes de dar as costas e sair da saleta. Passou pelos outros cubículos, mal recebendo olhares desinteressados. Era apenas um estranho indo falar com um dos funcionários do local, talvez um mensageiro ou algo que o valha, já que vinha à editora apenas pegar correspondência acumulada.

Assim que saiu do prédio, sentiu como se um peso saísse de seus ombros. Estava feito e não havia volta. Mas Daiki não era de se arrepender das decisões que tomava. Pelo menos na maior parte do tempo. Quando envolvia seu companheiro... aí a coisa mudava totalmente de figura!

Respirou fundo e seguiu em direção ao carro que deixara estacionado por ali. Mas mal chegou a dar dois passos e um rapaz que vinha em direção oposta colidiu contra seu ombro.

— Oe! — Aomine reclamou da falta de educação.

O estranho ignorou e continuou em frente. Digitava freneticamente no celular, nem mesmo olhou pra trás. E a figura daquela pessoa desanimou Daiki de tentar tirar satisfações. O rapaz era tão alto quanto ele próprio e vestia-se com roupas pesadas demais para aquela tarde de outono. O boné enterrado na cabeça fazia sombra no rosto, quase todo encoberto pela máscara cirúrgica branca.

— Tsc. Esquisitão — resmungou antes de seguir para o carro, colocando a caixa no banco do carona. Travou o cinto e ligou o veículo. Olhou pelo retrovisor, vendo se a rua estava livre, e manobrou saindo dali. Ia voltar logo para casa.

Fez todo esse ritual com um imperceptível atraso. Se olhasse pelo retrovisor dois segundos antes teria visto aquele rapaz tirando uma foto da placa do seu carro e continuar o caminho como se nada tivesse acontecido.

D&T

Alguns dias depois, Aomine chegou em casa depois de um turno mais longo e encontrou Taiga deitado no sofá, assistindo televisão com uma caixa cheia de macarons coloridos sobre o peito.

— Tadaima — foi dizendo cansado.

— 'Kaeri — a resposta foi dada com a boca cheia. Daiki teve a impressão de ver alguns farelos voarem como se fossem artilharia pesada no campo de batalha. Riu baixinho — Que foi?

Daitai Love (AoKaga)Onde histórias criam vida. Descubra agora