Casamento

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Fui vê-la, já que estava na cidade e no maior tédio. Fomos ao cinema no meio do filme arrumei uma desculpa para pegar mais pipoca e a puxei junto. Logo voltamos a sala e comemos tudo,
-Criança, se suja com chocolate há há. -
Falo rindo dela, a observando e admirando sua beleza, vendo como a pouca iluminação que lá havia deixava seu rosto com uma aparência mais misteriosa, encantadora e até meio sexy. Algo que fascina, mas sem ser o centro das atenções para o resto das pessoas, mas sim somente para você. "Oh, Deus... Não posso estar apaixonado por minha amiga de infância!"
-Affs. Fica quieto. Ainda tá sujo?-
Ela me pergunta após tentar limpar, só espalhando ainda mais. Sinto-me no dever de ajuda-la, afinal, sou um cavalheiro.
-Sim... Só piorou a situação. -
Limpo com um beijo no canto da boca dela, que se sobressalta e dá um sorriso me puxando para um beijo de verdade. Ficamos tão envolvidos nisso que nem vemos o filme passar e já é hora de irmos embora. Quando percebemos que o filme acabou ela me afasta e seu sorriso não podia ser maior, mas logo ele vai diminuindo até seus lindos lábios formarem uma linha fina e séria.
-Tenho que ir. Outro dia nos falamos. -
Ela quase corre para fora do cinema no momento em que as luzes se acendem. Fico meio estupefato pelo modo como agiu, mas logo corro atrás dela, a alcançando quase na saída do shopping.
-Eu te levo em casa, Clarinha. Não vai precisar de táxi e ainda me certifico de que chegará bem-
Falo tentando soar descontraído. Sei que não é bom forçar sobre o que acabou de acontecer, mas também não posso simplesmente deixar pra lá. A conheço já a alguns bons anos e posso imaginar como ela se sente. Saímos do shopping e ao pegar minha moto a levo direto para casa que fala um "Boa noite" murmurado e corre para dentro, me deixando parado na frente revivendo o que aconteceu no cinema. "Sim, com certeza eu sou burro. A única coisa que ela me falou havia sido tchau depois que nos beijamos e agora ela provavelmente vai tomar um chá de sumiço. Affs, merda de vida amorosa."
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Já faz alguns dias que não nos falamos. Ela simplesmente sumiu, não responde minhas mensagens e nem atende minhas ligações. Estou pensando seriamente em simplesmente desistir dela. No emprego meu chefe está cada vez mais exigente e não estou dando conta de fazer tudo na faculdade. Estou com as dívidas de algumas roupas em atraso e no meio de todo esse caos meu melhor amigo vai se casar. Pelo menos vou poder tomar alguma coisa mais forte que calmante.

*Dia do casamento*

Que beleza. Agora tenho que ficar confortando Percy (meu amigo) que a noiva vai vir e blá-blá-blá. Pergunto-me o motivo de não me deixarem logo beber o champanhe, meu temperamento está horrível. Depois de uma hora de atraso finalmente a noiva chega e... É sério isso? Ela vai usar preto?! Que cômico. Pelo menos meu chefe não vai me matar. Vou poder escrever sobre isso. Finalmente o padre começa com a cerimônia e pelo canto do olho vejo Clara, linda naquele vestido verde pérola que acentua cada curva de seu corpo, mas deixa muito a imaginar. Ela parece estar muito bem e sorrindo a toa. Bom, pelo menos assim imagino eu. O Padre está falando tudo tão rápido e numa mistura de português com Espanhol que Meu Deus, espero não ser o único a não entender nenhuma palavra do que ele diz. Finalmente acabou-se a parte chata e vem a festa. Primeiro os noivos estreiam a pista de dança e os outros casais os acompanham. Eu penso em chamar alguma das garotas que vi sozinhas mais cedo, mas afasto esse pensamento e vou beber meu champanhe num canto afastado do salão. Até que ouço uma voz sensual falar baixinho em meu ouvido.
-Bem sua cara isso, Simon. Ficar escondido no canto-
Viro a cabeça para trás, meio assustado, mas também surpreso, tentando identificar a dona da voz quando ela tampa meus olhos com delicadeza com as mãos e logo substitui por uma venda. Como estou levemente sob o efeito do álcool já não estou completamente em mim, é ruim dizer que sou fraco para bebidas, mas é a verdade, fazer o quê. Bom, essa pessoa misteriosa me puxa até o meio da pista de dança e começa a me guiar, como não posso ver né. Até que ela me vira de costas e mostra a noiva e o noivo, tentando cortar o bolo de casamento, fazendo maior lambuseira com o mesmo e sujando todo vestido da noiva, inclusive com champanhe. Isso vai ser difícil de limpar hein... A mulher misteriosa volta a tapar meus olhos e novamente me guia na dança. Percebo que de pouco em pouco ela nos afasta da multidão até um lado mais calmo da festa, sem muita gente, pois aos poucos estou sentindo que os outros casais vão se afastando, já que o barulho das conversas, palavras de comemoração e tudo mais vão ficando mais longe. Sinto seu corpo mais pressionado no meu e o roçar de nossos lábios quando ouço a voz de um homem me chamando, o noivo, Percy! Ah, se não fosse o casamento dele eu o mataria aqui e agora. A garota mistério me vira para onde está e tira minha venda, garantindo que não a veja. Bom, ele faz um brinde para mim e tudo mais, agradece por tudo que fiz para ele e como o ajudei. Logo todos voltam a dançar e a garota mistério me vira, tapando meus olhos e me beijando. Envolvo sua cintura com meus braços e a puxo para perto, saboreando o beijo até ambos perderem o fôlego. Abro os olhos e vejo Clara, com as bochechas coradas.
-Posso saber o motivo disso tudo??-
Pergunto arqueando uma sobrancelha quando recupero a voz pela surpresa repentina de a ver, logo ela, quem eu menos esperava, mas mais desejava.
-A Clary (noiva) me mandou parar de frescura, aproveitar que ela iria fazer muita bagunça somente para chamar atenção e aceitar logo o que você vai me pedir, já que ambos nos gostamos e se não parasse com isso iria terminar sozinha-
Ela fala daquele jeito único que só ela tem, de encantar e surpreender, mesmo fazendo graça. Aperto mais o abraço já apertado e com a música baixa que se pode ouvir começo a guia-la no ritmo.
-Então você vai ficar comigo?- Pergunto esperançoso, sem parar de dançar com ela, devagar, lentamente.
-Não. Não ficarei com você seu tonto.- Ela revira os olhos e isso me causa certa tristeza e penso "Então ela simplesmente vai aceitar me visitar... Que besta que sou. Por que ainda me deixo ter esperança?" E eu não percebo a mudança na expressão dela por causa dessa minha pequena discussão interna até que ela levanta meu rosto, apertando minhas bochechas e me obrigando a fazer biquinho de peixe.
-Namorarei você- Ela fala e então me dá um selinho demorado, mas cheio de desejo, um desejo contido. Um fogo que arde lentamente e vai aumentando a intensidade, até perdermos o ar. Desconfio que isso só está acontecendo realmente, pois ela bebeu o suficiente para tomar coragem, talvez um pouco a mais
-Já falei que você é incrível??- Pergunto com o olhar brilhando. - Mas... Nós moramos separados. Muito distante. Isso não daria certo...
-Não te falei? Eu recebi uma proposta de estudo numa cidade há 25 min da sua. Vou receber pra estudar, pois sou perfeita. - Ela fala em tom brincalhão, sorrindo e jogando o cabelo de lado.
-Sim. Não existe mais perfeita que você. - Falo me perdendo naqueles olhos que por tanto tempo vi, desejei e não pude ter. Sim, acho que posso a amar.

Por baixo dos inocentes panosOnde histórias criam vida. Descubra agora