Não. A claridade não poderia estar entrando no meu quarto. Não desse jeito, não com tanta força. Eu havia fechado a cortina, como sempre, antes de dormir. Impossível o sol entrar tão forte assim a ponto de me acordar e, ao mesmo tempo, não me deixar abrir os olhos. Foi automático quando puxei meu edredom ainda mais pra cima do meu rosto, tentando não perder o sono. Fiquei me perguntando o que estaria acontecendo, o porquê de o sol não me permitir dormir mais. Foi aí que escutei uma voz doce chamar meu nome.
– Michael, meu filho... Acorde!
Parecia a voz da minha mãe. Na verdade, era a voz da minha mãe, bem baixinha, sussurrada em meu ouvido. Aquilo era algo que eu não gostava nem um pouco: ser acordada logo cedo pela manhã. Ainda mais num sábado! Todos sabiam que sábado é o dia mundial do descanso, pelo menos para mim.
– Meu amor, acorde...
Ela continuava a insistir. E eu continuava a achar que estava sonhando. Aquilo simplesmente não poderia estar acontecendo. Eu acharia normal se fosse em qualquer outro dia da semana, mas não no sábado.
– Mikey, por favor, acorde.
Desta vez eu senti uma mão fria tocando meu ombro direito. A mão fria e leve da minha mãe tocando o meu ombro direito. Tentei me afastar e encolhi-me ainda mais no meu edredom. Por que as pessoas eram tão frias quando tocavam em mim durante a manhã? Ficar embaixo do edredom é tão bom, tão aconchegante, tão quente. Mas sentir algo frio quando eu acabo de acordar não é a melhor coisa do mundo. Principalmente quando este algo frio é a mão de uma pessoa que está tentando fazer com que eu acorde.
Virei-me na cama puxando o edredom para esconder meu rosto. Senti-me reconfortada ao não enxergar mais, mesmo de olhos fechados, os raios de sol vindo em direção ao meu rosto. Sorri. Mas o sorriso não durou muito. Senti novamente alguém tocando em meus cabelos, a única parte do meu corpo que não estava escondida.
– Mamãe, me deixe dormir. Hoje é sábado.
Minha voz saiu um pouco abafada, mas alta o suficiente para que a mamãe me escutasse. Ela não encostou mais, nem em meus cabelos, nem em parte alguma do meu corpo.
– Michael Clifford, levante-se. Seus tios chegam hoje, queremos recebê-los juntos. Seu pai quer que você esteja pronto para espera-los em meia hora. Estamos a sua espera no jardim.
Ouvi passos se afastando de minha cama e logo depois minha porta se fechando. Fez-se silêncio em meu quarto. E foi então que percebi o que minha querida mãezinha havia dito. Meus tios chegariam hoje. Meu pai com certeza queria que toda a família estivesse impecável ao recebê-los. Eu tinha meia hora para me arrumar bem o bastante para deixar meu pai com sorrisinhos bobos ao mostrar que a família dele era muito mais bonita do que a família do meu tio – irmão da minha mãe – Andrew. Receber elogios realmente sinceros pela parte do meu tio e da minha tia Liz seria o que deixaria meu pai mais contente ainda. Se eu não fizesse o que ele desejava, não tinha certeza do que seria de mim depois de hoje.
Não esperei mais minuto nenhum embaixo do meu edredom. Levantei-me. Não por causa dessa disputa besta entre os dois, mas apenas por me lembrar de outro fato mais importante em tudo isso. Consegui abrir os olhos depois de muito custo enquanto andava em direção ao meu banheiro. Lavei o rosto e escovei os dentes.
Ainda pensava no que minha mãe falara: "Seus tios chegam hoje", será que meu primo também viria? Acreditava que sim. Tio Andrew e tia Liz não viajariam sem seu único filho. Ainda mais para vir para a casa do meu pai. Será que eu realmente o veria (meu primo) hoje depois de dois meses apenas conversando por mensagens e telefonemas? Estávamos falando do lado Hemming da família? Só podia ser mesmo com eles. Papai só tinha essa "briga" com o tio Andrew: eles achavam que o mais importante era mostrar a beleza e a riqueza da família. Não era algo que eu gostava. Eu apenas estava acostumado com isso. Viver nesse meio desde o momento do nascimento me deixou assim. Enxergo meu pai e o tio como crianças até hoje. Eles são fúteis. Mais fúteis até que meu irmão mais novo. Este pelo menos pensa como eu: não existem razões para que eles disputem tanto por besteira.
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O Que Ha Por Trás - Muke Clemmings
FanfictionPrimos que se envolvem, apaixonam-se e começam a viver uma história de amor. Pelo grau de parentesco, primeiramente eles não contam para a família. Até que o pai de Michael os vê juntos e resolve começar a impedir que o romance aconteça. Mesmo assim...