As Aventuras de Zé Piriquito

Jurubeba

Entre as montanhas de Monção; nos vales verdejantes, onde cortinas de água descem em cachoeiras e vão até os campos e desembocam nos lagos e rios, onde irrigam de vida, toda beleza natural daquele lugar.

Em um sítio, ao pé da grande serra Vive uma família de pobres e divertidos campeiros, que do solo e da água retiram seu alimento, quase não precisando de nada mais do que isto para serem felizes.

o Jerônimo está no cume da casa avisando que o dia chegou. Anuncia com tanto entusiasmo que logo fica rouco de tanto cantar. Revoltado e praguejando, sai voando do telhado junto com um sapato velho que chutou lhe o traseiro quando ele soltava mais um forte canto da madrugada.

Maionese levantava a cabeça com muita preguiça e logo voltava a ronronar no canto da casa, parte mais quente, perto do fogão a lenha.

No quintal, barrigudo fazia seu espetáculo matutino, ao sair latindo atrás do galo, inimigos declarados desde que o galo disputa o domínio do quintal, chegando até mesmo afugentar pessoas e bichos, correndo atrás delas e batendo com suas asas e esporas, jamais machucou alguém, porem o estardalhaço barulhento que faz, deixa a vitima apavorada e o melhor é correr. Ora ou outra rola uma guerra pela disputa territorial, que logo é impedida pela vassoura piaçava da Tia Cotinha, que toma as dores do Jerônimo dando umas vassouradas no barrigudo...

Não tem jeito, o dia amanheceu e o sol já começa aquecer a casa. Hora de Tia Cotinha levantar e acordar os outros. Na cozinha, empurra o gato que se achega pra acarinhar sua perna. Pega lenha e joga no fogão. Acende o fogo e logo começa a preparar o café. Em seguida solta o primeiro grito chamando os dorminhocos, mais um e irritada escancara:

- Zé Periquitoooo vai ordenhar bitaaaa!

No quintal, Zé procura seu pé de sapato velho, e segue até ao campo. Vô Cacalo, no quintal, chama as galinhas jogando milho pro alto. Pretinho, o xodó do Vô, faz um revoar entorno do sítio e desce majestoso entre as galinhas para se alimentar também. Bodinho, o ultimo preguiçoso, sai pra cacimba e retorna trazendo um balde de água fresca e enche a talha na cozinha. Zé chega trazendo o leite de cabra e se assenta no banco da mesa de madeira rustica onde aguarda com os outros para tomar o café. Já famintos, esperam para devorar a broa de milho que Tia Cotinha retirou do forno.

Atrasados para ir ao trabalho na fazenda do Dr. Zebemeu, Zé sai ao campo novamente com Bodinho para capturar o Montanha ,areá-lo e preparar a charrete. Todos os dias é a mesma trapalhada. Bodinho vai por um lado, Zé esquivando por outro com a intensão de pegar o burro de surpresa...mas Montanha é esperto e percebe o que acontece ao ser redor, e quando um se aproxima ele come um maço de grama, levanta a cabeça, murcha as orelhas e sai a galopes e coices campo a fora...de longe Vô Cacalo, sentado de baixo da mangueira com seu companheiro Pretinho, observa os dois caipiras correndo atrás do asno. Tia cotinha olha pela janela da cozinha e solta outro grito:

-cês tão trazadu, pestie! Jurubeba hoje mata ocês...

A charrete estava pronta. Montanha mais calmo. Barrigudo não parava de latir, como se tivesse apresando a dupla a saírem logo. Pretinho no céu, voa em circulo esperando para seguir com eles até a fazenda também. Tia Cotinha apronta as marmitas e entrega para eles na charrete, que prontos, dão o primeiro comando ao burro, que sai mansamente porteira a fora. Tia Cotinha grita qualquer coisa que eles não conseguiram ouvir, mas entenderam que era pra ir mais rápido, então dão o segundo comando ao burro, que sai em disparada praguejando aqueles chicotes nas nádegas gordas...

Enquanto a viagem pra fazenda acontece, os primos vão conversando. Ao lado do burro, barrigudo vai caminhando e ora e outra dá um latido. As vezes penso que Barrigudo cansou da disputa pelo quintal e é por isso que segue todos os dias para a fazenda com eles. Pretinho vem voando baixo e pousa no braço da charrete e vai ali no balanço observando a estrada. Alias, Pretinho não deixa Zé Piriquito. Está sempre perto. Depois que Vô Cacalo envelheceu, Pretinho passou a se aventurar seguindo Zé nas suas labutas, porém Zé sabe que quando Pretinho não está por perto é que ele foi visitar Vô Cacalo ,pois eles tem uma estória antiga e são inseparáveis amigos mesmo. A paisagem que os cercam é fabulosa.Montanhas;incontáveis árvores formando a mata virgem quase impenetrável e misteriosa; água desce em cachoeiras e forma lagos nas planícies ;vales e depressões dão formas grandiosas aquele lugar.

Tia Cotinha começa a preparar o almoço e arrumar a casa. Seu pai, Vô Cacalo sai para o milharal fazer a limpeza da roça e plantar hortaliças. No quintal, Jerônimo toma conta e a qualquer invasão ele dá sinal e Tia Cotinha se sente melhor quando ele está de guarda, as vezes prefere o galo ao cachorro, pensa. Maionese continua com sua preguiça aguda, sai de um canto e vai pra outro, continua dormindo.

Jurubeba impaciente não vê a hora de Zé chegar. Já distribuiu as feições e só falta o atrasado pra dá o andamento na rotina de trabalho da fazenda. Deixou pra eles as piores tarefas para discipliná-los. Cagoetou novamente para o fazendeiro o atraso do coitado do Zé e seu primo.

A charrete parecia voar aos galopes ligeiros do Montanha. Zé preocupado com seu atraso conduzia o charrete como um piloto que quer vencer a corrida. Pretinho aguentava o sacolejo, mas às vezes desequilibrava e dava um voo curto e pousava novamente na charrete. Bodinho não parava de falar e com isso deixava Zé mais nervoso. Faltava pouco e já avistavam a entrada da fazenda. Agora era esperar o amargo do Jurubeba cuspir marimbondos neles ,dizia Bodinho lamentando se.

Zé com a pá cheia de fezes de vaca jogava pra fora do curral. Bodinho enchia o carrinho e carregava a merda toda para o campo, onde seria usada para adubar a terra. Não adiantava reclamar, talvez fosse melhor do que aguentar os gritos ensurdecedores do capataz. Zé sabia que Jurubeba só esperava uma oportunidade para lhe prejudicar, sempre estava arrumando um jeito pra dá lhes os piores trabalhos e ainda, falar mal dele com o Dr. Zebemeu, o fazendeiro.